Para emprestar aos países do Terceiro Mundo, os credores estabelecem um adicional de juros sobre o que ganhariam emprestando aos EUA, país considerado de risco zero, pelo simples fato de poder emitir dólares – moeda aceita para o pagamento das dívidas externas dos países. Tal adicional constitui o “risco-país”, que é maior ou menor , dependendo da avaliação que eles façam do país. Assim, nos últimos 10 anos, a taxa de juros exigida pelos credores de nossa dívida externa sempre foi bem acima da exigida por estes pela compra de títulos da dívida norte-americana. Atualmente, pagamos juros de cerca de 10% ao ano, enquanto os EUA pagam somente 1%.

Os credores alegam que esse adicional de juros serve para compensar o risco de não receberem de volta o que emprestaram para os países em desenvolvimento. Essa exigência não encontra amparo em normas de direito internacional. Se o risco jamais se implementou, por que continuar a pagar esse adicional?

O mecanismo do “risco-país” também força o governo a seguir o receituário neoliberal e pagar, diariamente, para obter a “confiança dos mercados”. Diante, de qualquer ameaça de descumprimento das políticas ditadas pelos credores – ajuste fiscal, altas taxas de juros, reformas anti-sociais, privatizações – o “risco” sobe e temos de pagar mais para satisfazer o capital. E mesmo que mantenhamos esta política nefasta, continuamos a pagar caro, pois qualquer oscilação no mercado internacional faz nosso risco explodir, como visto agora, no episódio do anúncio da alta das taxas de juros norte-americanos.

O mecanismo do risco, na verdade, realimenta o processo de endividamento. As políticas ditadas pelos investidores, tais como privatização e desnacionalização, juros altos – que alimentam a recessão – e a liberdade de envio de lucros, juros e demais remessas para outros países, tornam o país mais refém de seu endividamento e das avaliações de risco.

* Rodrigo Ávila é economista e assessor da Unafisco
Post author Rodrigo Ávila*, especial ao Opinião Socialista
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