PSTU-RN

João Paulo da Silva e Nanda Psoa, de Natal (RN)

Os trabalhadores e a população do Rio Grande do Norte estão vivendo dias cada vez mais dramáticos nessa reta final de 2017. Mergulhado no caos econômico, político e social, o RN se aproxima da situação em que se encontra o estado do Rio de Janeiro. Aqui, assim como em outros lugares do país, os efeitos da crise econômica também são descarregados nas costas dos trabalhadores.

Os servidores públicos vêm amargando uma das maiores crises dos últimos anos. Desde janeiro de 2016, o governador Robinson Faria (PSD) está atrasando os salários do funcionalismo e o pagamento é feito de forma escalonada: primeiro recebem aqueles com salários mais baixos; depois, conforme entram recursos, os demais servidores. O atraso no pagamento tem afetado as necessidades mais básicas dos trabalhadores, em especial os da saúde pública. Falta dinheiro para ir ao trabalho e até mesmo para se alimentar.

Na quarta-feira (20), os servidores do Hospital Walfredo Gurgel, maior unidade hospitalar do estado e localizada em Natal, foram mais uma vez às ruas contra o descaso do governo. Com faixas e cartazes, eles denunciaram o atraso nos salários e também aproveitaram para vender balas nos semáforos e pedir doações aos motoristas. Na semana passada, num anúncio desta situação com contornos desesperadores, os socorristas do SAMU já haviam feito o mesmo.

Endividados, com as contas atrasadas e sem dinheiro sequer para o transporte, os servidores públicos estão chegando ao limite e já começaram a faltar o trabalho, a exemplo dos trabalhadores da saúde. Na quarta, os centros cirúrgicos do Walfredo Gurgel e do hospital Ruy Pereira foram fechados por falta de funcionários.

Nesta quinta-feira (21), o governador informou, por uma rede social, que o estado vai receber uma ajuda financeira do Governo Federal no valor de R$ 600 milhões. Na mesma postagem, Robinson Faria divulgou ainda o calendário de pagamento dos salários atrasados. Segundo o governador, a folha salarial de novembro será paga até dia 29 de dezembro. O décimo terceiro salário só deve ser pago no dia 10 de janeiro e a folha de dezembro apenas em 30 de janeiro.

Ou seja, os atrasos vão continuar e os servidores estaduais entrarão 2018 com os bolsos e as panelas vazias.

Em meio a este caos e descaso do governo com a vida dos trabalhadores, duas categorias do funcionalismo têm dado exemplo de luta e resistência. Em greve há mais de um mês, os servidores da saúde e os professores da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte vêm realizando manifestações conjuntas e já enfrentaram a repressão policial e a truculência do governo por duas vezes. Já acamparam na Governadoria do Estado e também ocuparam a Secretaria de Planejamento. E nem mesmo as bombas de efeito moral, spray de pimenta e gás lacrimogêneo fizeram o movimento retroceder.

Mesmo com a tentativa de criminalizar a greve por parte do governo e o total descaso da gestão em solucionar os problemas, a luta das categorias continua forte e cresce a cada dia, recebendo inclusive o apoio da população.

Na última terça-feira (19), o quadro dramático pelo qual passam os servidores se intensificou e levou os policiais militares a também cruzarem os braços, junto com os demais trabalhadores. Com a frota da PM reduzida, a quarta-feira foi de correria e pânico para a população de Natal. Assaltos, arrombamentos e arrastões foram registrados em bairros comerciais da capital e os lojistas fecharam as portas.

Entretanto, a insegurança no estado já é uma constante e tem colocado o RN em segundo lugar no ranking de estados mais violentos do Brasil, atrás apenas de Sergipe, conforme dados do 11º Anuário de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em outubro deste ano, o Rio grande do Norte atingiu a marca de 2 mil homicídios. Um número alarmante. O abandono do estado na segurança pública também se reflete na saúde e educação, que enfrentam problemas semelhantes, como as péssimas condições de trabalho e a falta de pessoal.

Esta situação de colapso nos serviços públicos poderia ser evitada se o preço da crise econômica fosse pago por seus reais responsáveis.

Assim como fizeram seus antecessores, o governador Robinson Faria repete que o estado não tem dinheiro para honrar seus compromissos, sobretudo com os trabalhadores. É verdade que existe uma crise econômica, mas o governo não diz ao povo tudo o que sabe nem faz o que deveria fazer.

No Rio Grande do Norte, apenas 100 grandes empresas devem ao Estado R$ 2,8 bilhões. O valor é quase metade de toda a Dívida Ativa do RN, estimada em R$ 6 bilhões, conforme levantamento feito pela agência de reportagem potiguar Saiba Mais, com base nos dados da Procuradoria Geral do Estado. Se o débito das empresas fosse quitado, o governo pagaria o equivalente a seis meses de salário dos servidores públicos. A maior parte dessa dívida está relacionada ao pagamento de ICMS, mas há também multas do Procon, Idema e Tribunal de Contas do Estado.

Na verdade, para manter os lucros e privilégios dos ricos e poderosos, o governo repassa os prejuízos da crise econômica para os trabalhadores e a população mais pobre, sacrificando aqueles que não são responsáveis pelo caos no estado. A servidora da saúde, o professor, o policial e todos que precisam dos serviços públicos. Junto com o discurso da crise, patrões e governos como o de Robinson e Temer dizem que os direitos dos trabalhadores são privilégios e inventam reformas da previdência e trabalhista para que os mais pobres paguem a conta.

Assim como todo o Brasil, o Rio Grande do Norte precisa unir todos os trabalhadores, servidores públicos e a população, numa grande greve geral que derrote os ataques do governo e faça os ricos e poderosos pagarem pela crise que criaram.