O Rio que o governo se esforça em esconder para as Olimpíadas explode, mostrando a desigualdade e violência em que vivem os moradores dos morrosDuas semanas após o anúncio do Rio como sede das Olimpíadas de 2016, em meio à propaganda oficial da cidade maravilhosa, a dura realidade se abate sobre a população carioca. Horas de confrontos, mortos e um helicóptero da polícia abatido por traficantes compuseram cenas de barbárie assistidas por milhões de pessoas na TV.

O que seria apenas mais um dia de violência enfrentado pela população pobre dos morros ganhou ampla repercussão na imprensa devido às imagens mostrando o helicóptero da PM em chamas caindo em um campo, para explodir logo em seguida. Dos seis policiais a bordo, dois morreram carbonizados e outro, com queimaduras graves, faleceu dois dias depois.

Após anos de uma política pública de combate à violência que se resume a mais dura repressão, o resultado não poderia ser mais desastroso: os traficantes se armam cada vez mais e agora podem até mesmo derrubar helicópteros.

Conflito
Os moradores da Zona Norte da cidade vivenciaram horas de uma verdadeira guerra civil na madrugada do dia 17. Uma disputa entre traficantes de morros rivais supostamente desencadeou um confronto que se generalizou na região.

Segundo a versão da polícia, traficantes do morro de São João, liderados pelo Comando Vermelho, teriam invadido o morro dos Macacos, em Vila Isabel, numa disputa por pontos de venda de drogas. O morro dos Macacos, área da facção criminosa ADA (Amigos dos Amigos), seria uma área privilegiada para o tráfico, devido à proximidade com regiões de classe média.

A violência e os confrontos teriam transbordado para áreas vizinhas ao local, espalhando o pânico entre os moradores.

O balanço após o confronto dá conta de 21 mortos, entre traficantes, moradores e os policiais. Segundo a imprensa, o comando da polícia do Rio já tinha informação de que haveria a ação dos traficantes, mas preferiu não invadir os morros. Em pleno tiroteio, moradores teriam descido e pedido a intervenção da PM, que se negou a subir até lá.

A polícia interveio apenas no início da manhã seguinte, ocupando as favelas por terra com a cobertura do helicóptero que acabou sendo abatido. Após a queda da aeronave, porém, a PM teria empreendido uma verdadeira operação de guerra, sitiando a cidade com cerca de 4 mil homens e controlando a entrada e saída das pessoas nos morros.

Show de hipocrisia
Questionado sobre a razão de a polícia não ter atendido o chamado dos moradores no momento em que a região era atacada, o secretário de Segurança Pública, José Beltrame, tentou justificar: “Quando é noite, a polícia não entra. Temos responsabilidade. Quem não tem compromisso com a sociedade é o vagabundo, o marginal”, declarou.

Responsabilidade essa que produz mortos por balas perdidas em escala industrial, ao mesmo tempo em que submete a população pobre ao conhecido “esculacho”, ou seja, a toda sorte de agressões e humilhações. Para a polícia, os moradores dos morros são bandidos em potencial. A derrubada do helicóptero será, desta forma, a justificativa perfeita para uma verdadeira ofensiva contra a população pobre.

Lula e Cabral querem limpeza social para garantir Olimpíadas
Tão logo as imagens do helicóptero incendiado foram ao ar, o comando da polícia e os governos estadual e federal apressaram-se em anunciar medidas para combater a violência no Rio. Inúmeros discursos e um só objetivo: aumentar o poder de fogo e a repressão da polícia.

O governador Sérgio Cabral (PMDB) anunciou que a PM vai receber R$ 100 milhões do governo federal para equipar a polícia. O ministro da Justiça, Tarso Genro, ofereceu um novo helicóptero blindado e a ajuda da Força Nacional de Segurança.

A fala mais expressiva, contudo, partiu do próprio presidente Lula. Em declaração de apoio a Cabral, ele disse que ajudaria no que fosse preciso para “limpar a sujeira que essa gente impõe ao Brasil”. O verbo “limpar” utilizado pelo presidente não foi mera oratória. Expõe de forma clara o objetivo do Estado e das forças de segurança no Rio: impor uma política de limpeza social, expulsão e extermínio dos pobres pela força.

Política esta que já está sendo implementada. A fim de garantir a tranquilidade dos moradores da Zona Sul, a PM expulsa os traficantes para outros bairros mais pobres.

Olimpíadas
O motivo da resposta rápida e o teor fascistoide das declarações das autoridades são evidentes. Trata-se de manter o clima de euforia da campanha promovida pelo governo para a Olimpíada de 2016. E, mais ainda, garantir segurança ao Comitê Olímpico Internacional (COI) e às empresas que investirão nos Jogos.

Não foi por menos que Sérgio Cabral se apressou em tranquilizar o COI. “Dissemos ao COI que essa não é uma ação simples, eles sabem disso”, declarou o governador.

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