Esta semana o deputado federal Ricardo Barros foi agraciado com o cargo de vice-líder do governo Lula. O deputado que já foi das fileiras do PFL (hoje DEM), um dos partidos mais representativos da burguesia e da autêntica direita brasileira, agora somas-se ao front de Lula, do PT e de seus novos parceiros.

Interessante neste episódio foi a reação do deputado estadual e atual secretário de planejamento do Paraná, Ênio Verri: “É um grande avanço para a sociedade que um político de direita, neoliberal, passe a defender um governo dos trabalhadores” [1]. Maior ironia seria impossível.

No entanto, não foi Ricardo Barros que deixou de ser de direita e neoliberal. Talvez a frase do Secretário poderia ser melhor interpretada da seguinte forma: “É um grande ‘avanço´ para a sociedade, uma verdadeira evolução política, um partido de esquerda tornar-se neoliberal e implantar os projetos da direita a nível internacional”.

O cenário nacional, envolvendo as alianças do PT e o seu papel de desarticulador dos interesses dos trabalhadores, se reproduz, também, na esfera local no Paraná. No Estado, a aliança com os Barros já começa a render alguns frutos políticos, que se traduzem desde a fala expressa da liderança maior deste partido na cidade, até a própria postura do PT em não combater o governo neoliberal do irmão do deputado e prefeito da cidade de Maringá, Silvio Barros. Nunca foi tão silencioso o jogo político destes partidos.

E por que isto acontece? Não é por simples fatores de ordem subjetiva ou da amizade do deputado Ricardo Barros com Lula e o PT. Isto faz parte de um projeto que se aprofunda cada vez mais no cenário político brasileiro. Sob a batuta de Lula e de seus novos “companheiros”, o projeto neoliberal encontrou aliados fortes e dispostos a construir e consolidar uma hegemonia do capital sobre o trabalho.

A respeito do governo Lula, o professor Eli Diniz, estudioso da relação empresários e governo, sintetiza com precisão a configuração do projeto político-econômico desde a primeira gestão:

Esta política manifestou-se pela prioridade às metas de estabilização, combinando câmbio flutuante com livre movimento de capitais, a manutenção do regime de metas de inflação e políticas fiscais altamente restritivas, aumentando inclusive a taxa básica de juros (Selic) dos 25% vigente no inicio do governo para 26,5% ao ano, três meses depois. Na área fiscal decidiu-se elevar o superávit primário para 4,25% do PIB, um valor superior ao acordado com o FMI pelo governo anterior. Com respeito às reformas estruturais, comprometidas com o equilíbrio das contas públicas e a criação de um ambiente institucional favorável à operação dos mercados, foram aprovadas, no Congresso, as reformas previdenciária e tributária, encontrando-se ainda em tramitação, o projeto destinado a conferir autonomia ao Banco Central. [2]

A evolução política do PT vai, justamente, no sentido inverso da fala do secretário de planejamento: organiza o capital e a sua mobilidade, ao mesmo tempo em que se propõe a desorganizar os trabalhadores, na medida em que encaminha uma reestruturação legislativa que prevê a perda ou o rebaixamento de direitos sociais, alguns já aprovados como a chamada Super-Receita (redução dos direitos trabalhistas para os trabalhadores de alguns setores do empresariado) e limite as possibilidades de organização dos trabalhadores, como o ante-projeto da Advocacia Geral da União, proibindo o direito de greve no serviço público.

Aos trabalhadores que tiveram no PT ou na CUT algum dia uma esperança não resta outra alternativa a não ser compreender o processo atual e se reorganizarem nas entidades e partidos autenticamente de esquerda, para reconstruírem sua capacidade de lutar e conquistar seus sonhos. Afinal, Ricardo Barros e sua família continuam os mesmos, já o PT…

NOTAS:
[1]
Fonte: Jornal O DIÁRIO, edição de 25.05.07.
[2] DINIZ, Eli. Empresários e Governo Lula: percepções e ações políticas entre 2002 e 2006. In: V Workshop Empresa, Empresários e Sociedade: O mundo empresarial e a questão social. P. Alegre, 2 a 5 de maio de 2006 (PUC-RS).