Revolução Russa, encenação da tomada do palácio de inverno, 7 de novembro de 1917
LIT-QI

Liga Internacional dos Trabalhadores - Quarta Internacional

Joana Salay, do Em Luta – Portugal

Os que defendem que a história da Revolução Russa demonstra o fracasso do socialismo têm de explicar como é que, em poucas décadas, um país deixa de ser um dos mais atrasados do mundo para ser uma grande potência.

Após a revolução, em ano e meio, a Rússia passou de 32 mil escolas e 10 mil bibliotecas para 60 mil escolas e 100 mil bibliotecas. De 78% de analfabetos transformou-se num dos poucos países do mundo sem analfabetos. Chegou a ocupar o segundo lugar na produção industrial. E garantiu um avanço exemplar na conquista de direitos dos trabalhadores e dos setores oprimidos.

Todos estes avanços ocorreram num país que foi devastado pela I Guerra Mundial e pela guerra civil. Esta última durou de 1917 a 1922, quando aos capitalistas russos se juntaram a 14 exércitos estrangeiros para tentar impedir a consolidação dos trabalhadores no poder.

Poder soviético: um exemplo de democracia

Mesmo nos momentos de guerra civil, o regime bolchevique de 1917 a 1923 foi extremamente democrático para a classe operária e para os setores populares, principalmente porque era baseado em conselhos de representantes dos operários e camponeses (sovietes), que eram órgãos de mobilização e de decisões estatais. Existiam plenas liberdades para a classe operária e para o povo, para as organizações dos trabalhadores, sindicatos, comités de fábrica e partidos soviéticos.

Soviete de Petrogrado

Stalinismo, a interrupção da transição para o socialismo

Ao isolamento da URSS a partir da derrota da Revolução Alemã somou-se o cansaço das massas russas devido aos anos de guerra civil, que fez tombar milhares de quadros da classe operária. Estes elementos fizeram crescer setores burocráticos dentro do partido Bolchevique e do Estado. E com a doença e morte de Lenin, o partido bolchevique debilitou-se ainda mais.

Estas são as bases que fazem crescer o Stalinismo como corrente contrarrevolucionária, que se apoia na burocracia do Estado, em vez de se apoiar na mobilização da classe operária. Stálin e os seus aliados efetuaram traições sucessivas, desde o assassinato da maioria da direção do partido bolchevique até ao pacto de não agressão com Hitler. Ainda assim, foram precisos muitos anos do poder burocrático para fazer retroceder o fabuloso avanço efetuado pela conquista do poder pela classe operária.

As lições que a revolução russa nos traz para os dias de hoje

Em tempos de pandemia e crise social muito se fala da necessidade de superação do capitalismo para garantir uma sociedade sem opressão nem exploração, que sirva os trabalhadores e o povo pobre, que seja sustentável e não destrua o planeta. Por isso, é fundamental estudar a mais importante revolução da classe trabalhadora.

A revolução russa traz-nos a lição de que é fundamental apoiarmo-nos, em primeiro lugar, na mobilização e organização democrática da classe trabalhadora, sem ilusões de conciliação com a burguesia; de que é fundamental um partido que dirija e leve a consciência socialista para a vanguarda da classe operária; de que não é possível avançar sem um internacionalismo ativo.

Seguir os passos que os operários russos iniciariam há 103 anos é o caminho para a transformação da sociedade. Vale a pena estudar e a aprender com a Revolução Russa.

Texto originalmente publicado no Em Luta nº 24 ( novembro de 2020)

PARA SABER MAIS

Na comemoração do centenário da Revolução Russa, a LIT – QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional) produziu um documentário que faz um paralelo com os dias atuais, sob a visão de líderes e trabalhadores de todo o mundo. Vale a pena conferir