Estudantes promovem onda de protestos no Chile e provocam primeira crise do governo BacheletUma onda de protestos estudantis toma conta do Chile. A “revolta dos pingüins” – uma referência aos uniformes azuis e brancos dos secundaristas da rede pública – provocou a primeira crise do governo de Michelle Bachelet, do Partido Socialista.

Tudo começou com um protesto no dia 31 de maio, quando mais de 600 mil secundaristas foram às ruas de todo o país para lutar por melhores condições de ensino. As manifestações, as maiores já registradas desde 1972, atingiram a capital Santiago e outras cidades como Valparaíso, Arica, Iquique, Concepción, Temuco e Puerto Montt. Os estudantes reivindicam a gratuidade para a Prova de Seleção Universitária (PSU), o vestibular de lá, que hoje custa cerca de R$ 120, e o passe-livre nos transportes públicos.

Eles também exigem a revogação da Lei Orgânica Constitucional de Ensino (Loce), promulgada na ditadura do general Pinochet. Tal lei provocou ao longo dos anos grande desequilíbrio entre as escolas públicas, pois repassou às prefeituras a responsabilidade pela educação pública, aumentando as desigualdades entre as escolas de regiões pobres e ricas. Os estudantes exigem o fim da municipalização do ensino e defendem que a educação pública volte a ser responsabilidade do governo nacional.
Uma frase símbolo do movimento é “El cobre por el cielo. La educacion por el suelo”. O slogan é um protesto contra o sucateamento da educação, que se encontraria no “solo”, enquanto o cobre, principal riqueza do país, tem seu preço nos “céus” e rende divisas não repassadas para o povo.

Repressão
Durante os protestos, houve uma brutal repressão policial contra os ativistas. A polícia militar chilena marchou com seus esquadrões sobre os manifestantes e prendeu mais de 700 ativistas. Mas a “revolta dos pingüins” conquistou a simpatia do país. De tal maneira que Bachelet teve que demitir o chefe da polícia depois da repressão.

Greve geral
No ultimo dia 5, os secundaristas voltaram a protestar e, desta vez, contaram com a participação dos universitários. Segundo a imprensa chilena, cerca de 1 milhão (600 mil secundaristas e 300 mil universitários) aderiu à greve nacional convocada pelos estudantes. Também houve adesão de setores dos trabalhadores.

Cerca de 110 entidades sociais participaram da paralisação, como o Colégio de Professores, com 140 mil filiados, que decidiram não dar aulas, os trabalhadores do Ministério da Educação e sindicatos. No porto de Valparaíso, houve uma passeata de 5 mil pessoas, com participação dos trabalhadores portuários.

Quando fechávamos essa edição, na segunda-feira à noite, um ruidoso protesto se realizava com panelas, buzinas e apitos, no centro de Santiago. A rapidez com que os protestos se espalharam e adesão de trabalhadores são aspectos que permitem fazer uma comparação com as manifestações estudantis na França contra o Projeto do Primeiro Emprego.

Estabilidade abalada
Um dos países com maior estabilidade política da América Latina, o Chile se vê hoje subitamente abalado pelos protestos dos “pingüins”. Há três meses no poder, Bachelet lidera a Concertácion (coligação de frente popular formada pelos partidos Socialista e Democrata-Cristão, que governa o país desde o fim da era Pinochet) e não imaginava que as manifestações ganhassem a simpatia da população e pudessem abalar seu governo, considerado um “modelo” pelo imperialismo.

Como resposta à crise política, Bachelet se diz disposta a negociar, mas até agora não atendeu de maneira satisfatória nenhuma reivindicação. Disse apenas ser necessário discutir melhorias na educação. Com isso, a presidente adota uma postura “maternal” – como afirma a imprensa chilena – para dividir os estudantes e enfraquecer sua luta.

É preciso tomar cuidado com as armadilhas que o governo pode preparar. Durante anos, a Concertácion governou o país e aprofundou os planos neoliberais iniciados com Pinochet. Entre eles, a mercantilização do ensino público.
Por isso, o movimento estudantil do Chile não deve depositar nenhuma confiança no governo Bachelet. A exemplo do que aconteceu na França, somente a mobilização independente dos estudantes pode fazê-los vitoriosos e, assim, conquistar as reivindicações.

Nesse sentido, o PRT (Partido Revolucionário dos Trabalhadores – seção da LIT-QI na Espanha) publicou nota defendendo: “Devemos criar, em nível nacional, uma coordenação que aprove um plano de lutas que estabeleça nossas reivindicações imediatas, baseando-se em recuperar a educação pública das mãos do mercado capitalista, como o excessivo custo do PSU e os créditos universitários privados com aval do estado. Para isso, devemos exigir que todos os excedentes do cobre se destinem à educação e não aos bolsos da burguesia e do governo. Devemos também exigir plenos direitos democráticos e políticos para as organizações estudantis nas escolas e colégios, que são fortemente reprimidas pela lei Loce, a qual devemos abolir. Nossas propostas para a luta:

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