Revolução no Egito inspira onda de levantes nos países árabes; repressão não consegue conter as revoltasO furacão revolucionário que começou na Tunísia e virou o Egito de ponta cabeça, continua varrendo o Norte da África contra ditaduras que há décadas estão no poder. Inspirados pela revolução no Egito, as massas da Líbia, Bahrein, Iêmen, Marrocos e também do Irã estão indo às ruas, enfrentando ditaduras e monarquias.

Nos últimos dias, as massas da Líbia e do Bahrein iniciaram verdadeiros levantes contra os regimes opressores. A brutal repressão, longe de arrefecer os protestos, incendeia ainda mais os manifestantes que lutam por liberdades democráticas.

Khadafi lidera repressão na Líbia
Na Líbia, os protestos se chocam contra a ditadura de Muammar Khadafi. Nos últimos dias, milhares de pessoas protestam pela queda de seu primeiro-ministro, Baghdadi Mahmoudi e do próprio ditador que governa o país há 42 anos. Os protestos se concentram na capital Trípoli e na cidade portuária de Bhengazi, a segunda maior cidade do país, espalhando-se também para cidades como Al-Beyda e Zenta.

Nesse dia 17 milhares de pessoas foram às ruas no que chamara de “Dia da ira”. A repressão do regime foi brutal e haviam matado ao menos 24 pessoas até esse dia 18, segundo a ONG Human Rights Watch. Os protestos, no entanto, não cessam.

A revolta no país explodiu após a prisão do advogado e ativista Fethi Tarbel, que defendia presos políticos da prisão de Abu Salim, conhecida por abrigar presos políticos e palco de um massacre que assassinou mil pessoas em 1996. Os protestos contra a prisão do advogado evoluíram para grandes manifestações que enfrentam agora a ditadura.

Na tarde desse dia 18, forças de oposição, segundo a imprensa, declararam que a cidade de Al Beyida estava “nas mãos do povo”. Já a ditadura ameaçou que a repressão será “arrasadora” a quem se levantar contra o governo. O Exército ocupou a cidade de Benghazi e o governo proibiu reuniões.

Fica cada vez mais clara a posição de Khadafi ao prestar total apoio ao então ditador da Tunísia, Ben Ali, diante dos protestos que mais tarde derrubariam seu governo. O ditador líbio tinha claro que a sua vez estava próxima.


Manifestantes em Bahrein

EUA preocupado com o Bahrein
Outro país que enfrenta intensos protestos é o pequeno Bahrein, cujas manifestações pedem o fim da dinastia do rei Hamad Bin Issa al-Khalifa. Apesar de pequeno e pouco populoso (menos de um milhão de habitantes), o Bahrein é visto como um país estratégico por sua localização no Golfo pérsico, bem ao lado da Arábia Saudita, e por abrigar a 5ª Frota da Marinha norte-americana.

Até a noite desse dia 17, seis pessoas já haviam sido mortas a tiros pela polícia, na desocupação da Praça Pérola na capital Manama, que os manifestantes desejavam transformar em outra “Praça Tahrir”. Na manhã seguinte, o funeral das vítimas se tornou um grande ato contra a monarquia de Hamad. Na tarde do dia 18, segundo a imprensa internacional, o Exército abriu fogo contra a multidão que se dirigia à Praça Pérola e planejava retomar a praça.

A repressão, embora brutal, só intensifica os protestos e aprofunda as reivindicações. “Estávamos só pedindo a demissão do governo, mas agora queremos o mesmo para a família real”, disse Ahmed Makki Abu Taki à imprensa. O irmão do manifestante foi uma das vítimas da repressão no país.

O país, uma monarquia constitucional, conta com um parlamento que na prática cumpre uma função decorativa. Os protestos começaram entre os xiitas que constituem a maioria da população e reclamam de discriminação por parte do governo sunita. A radicalização da repressão, porém, fez com que os sunitas também apoiassem as manifestações.

Os EUA acompanham com apreensão o rumo do levante. O Pentágono chegou a emitir uma nota pedindo o fim da “violência”. “O Bahrein é um parceiro importante e o departamento está acompanhando de perto os acontecimentos”, disse o porta-voz do Pentágono.

Período de instabilidade
Após a queda de Mubarak no Egito as manifestações, que já vinham se generalizando na região, ganharam novo impulso. A revolução egípcia mostrou às massas árabes que elas podem tomar o destino em suas mãos e derrubar ditaduras que há décadas estão no poder. Até no Iraque houve protestos contra as duras condições de vida enfrentadas pela população.

O governo Obama vem tentando, habilmente, canalizar a insatisfação árabe e conter as revoltas, chegando até a declarar apoio às reivindicações das manifestações. Resta saber até que ponto a polarização em regiões chaves ao Imperialismo, como o pequeno Bahrein, e o aumento da revolta da população no Iraque da convulsão social no mundo árabe não vão desmascarar os EUA.