Marcos Praxedes, do MLST, fala sobre a luta dos sem-terra
Diego Cruz

Demonstrando a grande importância que os movimentos sociais e populares têm em sua construção, a Coordenação Nacional de Lutas dedicou um dos dois dias da reunião nacional apenas para este tema. No dia 5 de junho, terça-feira, 106 pessoas se inscreveram para participar da reunião, que reuniu 42 sindicatos, 9 oposições e 7 entidades de movimentos sociais.

A mesa da reunião foi composta por representantes de movimentos populares que compõem a Conlutas, como o MUST (Movimento Urbano dos Sem-Teto), da ocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), MTL (Movimento Terra, Trabalho e Liberdade), e o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra), que está discutindo sua integração à Coordenação.

Organizar todos os setores da classe trabalhadora
Para José Maria de Almeida, o Zé Maria, da Coordenação Nacional da Conlutas, “a discussão sobre os movimentos sociais está presente desde o início da construção da Conlutas, coisa que não se via, por exemplo, no momento da fundação da CUT”. Para o dirigente da Federação dos Metalúrgicos de Minas Gerais, o grande desafio da Conlutas é construir um programa para toda a classe trabalhadora. “Isso implica nos sindicatos abraçarem parte das lutas dos movimentos sociais e os movimentos tomarem parte das lutas dos sindicatos”, resume.

Desta forma, para Zé Maria, poderia -se dar às lutas específicas, fragmentadas, um “caráter comum, transformador”. “Para mim, a classe operária segue sendo o sujeito da revolução, mas isso não quer dizer que vá sempre ser vanguarda das lutas. Os movimentos sociais, por exemplo, estiveram à frente das lutas nos anos 90”, exemplificou o dirigente.

A reunião, que serviu para compartilhar experiências entre sindicalistas e dirigentes dos movimentos sociais, teve caráter histórico para a entidade. “Milito no movimento sindical e popular desde 79 e essa foi uma das reuniões mais importantes da minha vida”, define Cláudio, do movimento de moradia de Maringá.

Para Marrom, dirigente do MUST, “estamos vivendo um momento muito rico, a Conlutas vem para reunir todos os movimentos dos trabalhadores”.

Unir as lutas
Já Marcos Praxedes, dirigente do MLST, lembrou o aniversário de um ano da ocupação dos trabalhadores sem-terra no Congresso Nacional e a brutal repressão comandada pelo então presidente da Câmara, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB). “Na época, muita gente bateu na gente, inclusive a CUT. Hoje, todos sabem pelo que estávamos protestando: pela revisão do índice de produtividade e a Medida Provisória que impede desapropriação em terra ocupada”, afirmou.

Praxedes lembrou ainda o papel desempenhado pela imprensa burguesa na repressão aos sem-terras. Para o dirigente, os sindicatos deveriam ter o papel de conscientizar os trabalhadores de suas bases, através de sua própria imprensa, contrapondo-se ao discurso da grande mídia. “Infelizmente, hoje são poucos os sindicatos que fazem essa discussão com suas bases”, lamentou.

Meio tímidos no início da reunião, os sindicalistas logo se abriram ao debate, defendendo a união entre o movimento sindical e popular. Ao final, foi definida a continuidade da discussão, com a realização de um seminário ou algum outro evento do gênero.

Informes Internacionais
Já ao final da tarde, a reunião discutiu as tarefas internacionais que a Conlutas tem pela frente. A primeira é a viagem da delegação da Coordenação para o Haiti. O convite foi feito pela Batalha Operária (Batay Ouvrye), organização sindical e popular do país. Num momento em que a ocupação militar comandada por tropas brasileiras completa três anos (no dia 1 de junho), uma comissão de sindicalistas e ativistas vai levar a solidariedade dos trabalhadores do Brasil à população haitiana.

A delegação, composta no momento por 28 pessoas, sai do país na madrugada de 26 de junho para o Haiti, via Panamá. A volta está programada para o dia 4 de julho. Antes e depois da viagem, a delegação concederá uma entrevista coletiva à imprensa brasileira.

Encontro latino-americano
Outra tarefa internacional se refere à articulação de um encontro latino-americano reunindo entidades sindicais e populares de diversos países do continente. José Maria, que se reuniu com a direção da COB (Central Operária Boliviana) nos dias 28 e 29 de maio em La Paz, informou que foi definido uma comissão para elaborar uma convocação de uma nova reunião. A nova reunião será realizada no Brasil em agosto e será aberta à todas as entidades que quiseram participar. O objetivo será a organização de um grande encontro latino-americano em 2008, em data próxima ao congresso da Conlutas.