Reunião debateu propostas para a reorganização
Diego Cruz

Direto de Salvador (BA)Enquanto Salvador vive um fórum oficial patrocinado pelo governo, setores combativos e independentes promovem uma série de atividades alternativas. Uma delas foi a reunião nacional da Conlutas

O futuro da reorganização do sindicalismo e do movimento popular e social foi o principal tema discutido na reunião da Coordenação Nacional da Conlutas, na manhã desta sexta-feira, 29, em pleno Fórum Social Mundial em Salvador. Reorganização que se expressa em dois importantes eventos programados para junho deste ano: o congresso da Conlutas e o Congresso Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), que poderá fundar uma nova entidade de luta, unificando os setores que se colocam à esquerda do governo Lula e da CUT.

Foram credenciados 270 participantes, 216 delegados e 54 observadores, que tomaram grande parte do ginásio da UCSAL. Delegações de vários estados ainda chegavam quando a Coordenação Nacional da Conlutas dava início aos trabalhos numa ensolarada e quente manhã na capital baiana.

Solidariedade classista
A reunião teve início com a solidariedade de classe aos trabalhadores do Haiti. O haitiano e ativista Frank Seguy e o estudante da Unicamp que testemunhou o terremoto, Otávio Calegari, deram depoimentos do que ocorre hoje no país ocupado e o real objetivo das tropas de ocupação, hoje no comando dos marines norte-americanos.

“A missão da Minustah não foi um fracasso, eles cumpriram bem o seu papel no Haiti”, denunciou Otávio, relatando a situação de completa ausência do Estado mesmo antes do tremor que destruiu Porto Príncipe. O estudante criticou também o papel de ONGs que atuam no país. Uma delas inclusive, oriunda do Rio, é classificada pelas próprias tropas como “o braço social da Minustah”.

Já Frank denunciou a solidariedade prestada pela comunidade internacional ao país e o papel do próprio presidente do país. “O presidente quer, na verdade, perpetuar a ocupação militar”, afirmou. Seguy atacou ainda a postura hipócrita do FMI, que liberou um empréstimo já programado ao Haiti, como sendo ajuda, e que ainda cobra juros desses recursos, aumentando a dívida externa do país e aprofundando a sua dependência.

Como alternativa a essa ajuda, Frank conclamou a solidariedade dos trabalhadores brasileiros à classe trabalhadora haitiana, articulada ainda a uma campanha de denúncia da ocupação militar no país. Os sindicatos que fazem parte da Conlutas já estão aprovando doações à campanha de solidariedade classista. O Andes-SN, por exemplo, discute a doação de R$ 50 mil. Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza irão contribuir com R$ 1 mil, enquanto o Sindisef-SP vai contribuir com R$ 5 mil.

Preparação do Congresso
A reunião girou em torno da discussão sobre a preparação para os congressos de junho, que juntos definirão o futuro do processo de reorganização. Sebastião “Cacau”, da Conlutas Minas Gerais informou sobre a discussão em andamento na “Comissão Pŕo-Central”, que hoje está em três pontos básicos e que deverão nortear o congresso de unificação: conjuntura e plano de ação; princípios, estratégia e programa e o estatuto (que deve sintetizar as polêmicas sobre concepção dessa nova central.

Sobre a eleição de delegados, avançou a definição dos critérios para a eleição dos delegados. Chegou-se a uma síntese a partir das diferentes posições da comissão, que respeitarão alguns princípios gerais. Os delegados serão eleitos em assembleias nas categorias e movimentos, com critérios parecidos aos utilizados para a eleição de delegado aos congressos da Conlutas. As assembleias serão divulgadas na Internet. Até o dia 15 de março poderão ser inscritas as teses para o Congresso, que será realizado nos dias 5 e 6 de junho.

Congresso da Conlutas
Apesar de sua importância, o congresso de unificação será precedido pelo congresso da Conlutas. A reunião demonstrou um consenso da importância de não se jogar fora o patrimônio construído durante esses anos. “Precisamos primeiro discutir se vamos à unificação, a partir disso, precisamos discutir entre a gente, com quais critérios”, afirmou José Maria de Almeida, o Zé Maria, da Secretaria Executiva Nacional da Conlutas, indicando que a unificação, para avançar de fato na reorganização, precisa se dar em base a princípios e não a qualquer custo.

Devido às limitações financeiras e de tempo, tal como a preocupação em se atingir o maior número possível de participantes da base, a secretaria executiva defende que seja um dia de congresso ao invés de dois. Garantindo, porém, a realização das discussões e das polêmicas.

Enquanto setores do sindicalismo declaradamente governistas, como a CUT e Força Sincial, preparam um “Conclat”, também para junho, para definir seu apoio à candidatura Dilma, setores combativos resistem e fazem avançar a construção de uma alternativa de luta.

LEIA TAMBÉM::

  • Porto Alegre: Plenária discute unificação da Conlutas com a Intersindical