Primeiro dia da reunião internacional

O primeiro dia do encontro foi marcado pelos relatos das diversas delegações estrangeiras. As lutas estudantis no Chile; a resistência dos trabalhadores na Europa contra os ataques dos governos; as mais diversas lutas nos países da América Latina; a heróica luta do povo haitiano contra a ocupação militar da Minustah; a experiência do movimento sindical africano e o processo revolucionário no Egito. Todos estes grandes temas foram expostos na manhã e tarde desta quarta-feira pelos representantes do sindicalismo independentes dos vinte países reunidos no evento.

O encontro foi aberto pela fala de Dirceu Travesso, da CSP-Conlutas, e por Christian Mahjeux, secretário nacional da União Sindical Solidaires (França), as duas entidades que fizeram o chamado à reunião.

“Mais do que nunca, diante das lutas dos trabalhadores na Europa e todo processo revolucionário que se desenvolve no Norte da África, é urgente uma resposta unificada dos trabalhadores de todo o mundo”, disse Dirceu.

“Vemos que é possível trabalhar uma coordenação internacional de sindicalismo de luta”, explicou Christian.

A fala da egípcia Fatma Ramadan, do Sindicato Independente dos Trabalhadores de Giza, foi ouvida com muita atenção. “Em nosso país as pessoas que querem a continuidade da revolução, o fim do governo da junta militar, estão sendo atacadas pelo regime”, disse. Pouco depois, o plenário foi informado que o governo militar tinha reprimido um protesto no Egito, vitimando 20 ativistas.

Apesar da grande diversidade, das diferentes tradições e formas de organização, chamou a atenção os muitos pontos comuns relatados pelas delegações.

Um deles é a criminalização cada vez maior das lutas. A delegação chilena, por exemplo, descreveu a enorme repressão enfrentada pelos estudantes do país – protagonistas de um dos maiores protestos sociais desde a queda da ditadura Pinochet. Já a delegação da Grã-Bretanha, expôs ao plenário os detalhes da luta estudantil em 2010, e a greve geral dos trabalhadores que colocou 12 milhões nas ruas, em novembro de 2011. “Essas duas mobilizações marcam uma virada da Grã-Bretanha, ao mesmo tempo em que enfrentamos uma maior criminalização das lutas”, explicou o sindicalista Martin Ralph.

A experiência na construção de novas organizações que, ao mesmo tempo representem uma alternativa ao sindicalismo independente e combativo e ofereça uma perspectiva aos milhares de trabalhadores que se encontram em situação de precariedade ou em movimento de luta moradia, terra etc., também foi objeto de muitas falas. Representantes do Paraguai relataram sua positiva experiência na criação da CCT (Confederação da Classe Trabalhadora). “Hoje temos mais de 80 organizações sindicais e outros movimentos filiados a nossa entidade. Possuímos uma estrutura semelhante a CSP-Conlutas”, contou Coco Arce, do sindicato dos jornalistas do país.

“O que nos chamou a atenção e nos trouxe aqui é a estrutura proposta pelas CSP-Conlutas. Viemos para encontro para saber mais sobre isso”, disse Helmut, da delegação alemã.

A brutal exploração e precariedade das condições de trabalho também foram comuns na maioria dos relatos. O representante do Sute – regional Lima (sindicato dos trabalhadores da educação do Peru) explicou o processo de luta que a categoria vivencia e disse: “Hoje um professor no meu país ganha, no papel, cerca de 300 dólares, mas na realidade seu salário é de 50 dólares”, disse.

Antonio Vidal, representante da delegação do México, denunciou a absoluta falta de proteção social enfrentada por boa parte dos trabalhadores de seu país. “Um em cada quatro mexicanos não tem Previdência Social. Mais de 40% dos trabalhadores não tem estabilidade no emprego. O pior é que o governo ainda quer acabar com os acordos coletivos e com o salário mínimo, instituindo o pagamento por hora, por meio de uma reforma trabalhista”, disse.

Já o representante do Haiti, Didier Dominique, denunciou o plano do imperialismo norte-americano em criar as Zonas Francas em seu país para explorar “a mão de obra mais barata do continente”. Uma política, segundo ele, que deve se espalhar para os países da América Central.

Os chamados governos de centro-esquerda e nacionalistas da América Latina -como o de José Mujica, do Uruguai; Fernando Lugo, do Paraguai, e de Ollanta Humala, Peru- também não escaparam das criticas. Chamou atenção a fala de um dos representantes dos sindicatos de bebidas do Peru, que explicou como muitos passaram da expectativa à decepção em relação ao presidente peruano, Humala. “Hoje estamos decepcionados com Hummala, que apoiamos durante a campanha, mas que faz a mesma coisa que os governos anteriores”, concluiu.