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Redação

A reunião ministerial divulgada por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) mostrou todo o desprezo do presidente e de seus subordinados com a grande maioria da população, sobretudo os mais pobres que estão morrendo pela COVID-19 e sofrendo com o desemprego, a fome, a miséria e a perda de direitos.

Os únicos momentos para tratar das medidas econômicas em relação à “codiv” (termo pelo qual Bolsonaro chamou a doença diversas vezes, mostrando que nem o nome da moléstia ele sabia) foi para discutir sobre como restringir ainda mais o auxílio, tirar direitos, beneficiar grandes empresas e privatizar.

“Precisamos eleger o presidente”

O discurso do posto-Ipiranga, o ministro da Economia Paulo Guedes, expôs toda a crueldade do governo. Falando de forma contrariada em relação ao auxílio-emergencial, Guedes disse: “vamos fazer o discurso da desigualdade, vamos gastar mais, precisamos eleger o presidente”. Para Guedes, o auxílio (que o governo queria a princípio que não fosse nem os míseros R$ 600, mas R$ 200) não é uma medida para possibilitar que as pessoas fiquem em casa, mas uma concessão de caráter eleitoral e que precisa terminar o mais rápido possível.

É por isso que mais de 10 milhões de pessoas ainda esperam uma resposta sobre o pedido do auxílio num momento em que elas já deveriam estar recebendo a segunda parcela. Dos 107 milhões de inscritos, segundo a Caixa Econômica Federal, apenas 68 milhões ficaram aptas a receber. Isso joga luz sobre o fato de que, mesmo nas regiões onde houve alguma medida de distanciamento social, não ocorreu de forma eficaz. Como fazer com que as pessoas fiquem em casa pagando a miséria de R$ 600 a uma parte e deixando outras 40 milhões simplesmente sem nada?

Confisco do auxílio

Além de negar a ajuda a milhões, Bolsonaro sancionou uma lei que obriga parte dos beneficiários a devolver o auxílio no ano que vem. Quem declarar rendimento no Imposto de Renda maior que o teto de isenção, de R$ 28,5 mil, e estiver recebendo o auxílio, terá cobrado esse valor no IR do próximo ano. Lembrando que o auxílio já foi negado a quem declarou esse teto no imposto de 2018.

Na prática, é um confisco do auxílio a quem recebe, em situação normal, um valor que dá pouco mais de R$ 2 mil por mês.

SERVIDORES
“Granada no bolso do inimigo”

Outro momento em que Paulo Guedes expôs o seu ódio contra os trabalhadores foi quando se referiu ao congelamento salarial dos servidores, medida que o governo federal impôs aos estados em troca de repasse. “Todo mundo está achando que, tão distraídos, abraçaram a gente, enrolaram com a gente. Nós já botamos a granada no bolso do inimigo: dois anos sem aumento salarial”, discursou.

Reafirmando que considera os servidores “inimigos”, Guedes falou que o governo tinha “três torres do inimigo”: reforma da Previdência, juros altos e os servidores. “Estamos agora, no meio dessa confusão derrubando a última torre do inimigo”. Repare que, para ele, os aposentados do INSS, grandes afetados pela reforma, também são “inimigos”.

BB: “Tem que vender essa porra”

Outro “sincericídio” de Guedes foi a reafirmação da sua obsessão em privatizar. Se antes ele já havia declarado, sempre que pôde, sua intenção em vender tudo, agora ele disse de forma mais direta e informal. “O BNDES e a Caixa, que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil, a gente não consegue fazer nada, e tem um liberal lá. Então, tem que vender essa porra”, afirmou antes de se virar ao presidente do banco, Rubem Novaes, e o incitar: “Confessa o seu sonho.” Sob risadas, Bolsonaro aconselhou Novaes: “Faz assim: só em vinte e três você confessa”, referindo-se à privatização.

“Vamos perder dinheiro salvando empresas pequeninhas”

O posto Ipiranga deixou registrado ainda seu desprezo pelas pequenas empresas. “Nós vamos ganhar dinheiro usando recursos públicos para salvar grandes companhias. Agora, nós vamos perder dinheiro salvando empresas pequenininhas”, disse. Isso explica a razão pela qual o governo está deixando as pequenas empresas à míngua nesta crise. De R$ 1 trilhão em crédito liberado pelo governo, só 5% foi destinado às micro e pequenas empresas. Desse naco, nem metade chegou a elas. As pequenas e médias empresas concentram 54% dos empregos formais.

Como se isso não bastasse, enquanto fechávamos esta edição, o governo anunciava uma alteração na política de créditos às empresas: liberou a demissão de metade do quadro de funcionários. Se o dinheiro do governo não vai para as pequenas empresas nem se destina à manutenção dos empregos, qual o objetivo? Se você pensou nos lucros dos grandes empresários, acertou.