Fotos Romerito Pontes

Entidades reafirmam necessidade da construção de um pólo alternativo e independente do governo e da direita

A crise econômica e social se aprofunda. O governo Dilma, por sua própria política, vê sua base de sustentação se dissolver com a ruptura de amplos setores, inclusive da classe operária. A oposição de direita tenta capitalizar convocando manifestações, enquanto setores do movimento sindical e sociais tentam blindar um governo que só recrudesce cada vez mais os ataques à classe trabalhadora. É nesse cenário complexo que se realizou a reunião do chamado “Espaço Unidade de Ação”, que aglutina setores do movimento sindical e social combativo e independente do governo.

A reunião, realizada na quadra do Sindicato dos Metroviários de São Paulo nessa quinta, 30, contou com cerca de 250 pessoas representando 65 entidades, entre organizações sindicais, dos movimentos sociais e estudantis, de 9 estados e do Distrito Federal. Entre essas entidades, sindicatos do funcionalismo público federal, que protagonizam uma forte greve contra a política de arrocho e ajuste fiscal do governo, além de ocupações urbanas e uma representativa delegação de operários demitidos do Comperj.

Nossa proposta é que essa reunião vá além da solidariedade às lutas e greves que ocorrem, mas que discuta e fortaleça uma alternativa de classe a essa falsa polarização colocada na realidade“, afirmou Carlos Sebastião, o Cacau, da Secretaria Executiva Nacional da CSP-Conlutas, referindo-se concretamente à convocação do ato do dia 16, chamado pela direita, e das mobilizações convocadas para o dia 20, que assume cada vez mais um caráter de defesa do governo.

Alternativa de classe contra o governo e a direita
Para o Presidente Nacional do PSTU, Zé Maria, aquela reunião tinha um caráter histórico. Para além de todas as questões colocadas, como a corrupção, a crise política e econômica, havia um tema que, segundo o dirigente, se impunha ali. O tema do governo. “Estamos vivendo um fato que é histórico: a ruptura massiva com o PT”, pontuou. Por que isso é importante? “O PT foi nesses anos um instrumento para se aplicar a política dos bancos nesse país, e isso só foi possível pela força que esse apoio lhe dava, mas que agora vira pó”, explica.

Nesse cenário, a direita tenta capitalizar esse desgaste, mas o povo sabe o que é o PSDB e o que eles fizeram com o nosso país”, afirmou, argumentando ainda que a direita não quer de fato o impeachment, pois o governo defende a mesma política que ela. A direita, com o PSDB à frente tenta, assim, capitalizar para as próximas eleições retomar o controle direto do governo. “Nossa tarefa é apresentar à nossa classe uma saída operária, socialista, contra o governo e a direita, não a favor do impeachment, pois isso seria dar o governo à direita e a esse Congresso corrupto”, disse, complementando que “somos a favor de mobilizar os trabalhadores para colocar esse governo pra fora, mas também Aécio, Eduardo Cunha e toda essa corja”.

Miguel Leme, do Bloco de Resistência Socialista e da LSR (Liberdade, Socialismo e Revolução), corrente do PSOL, reforçou a necessidade de se “construir efetivamente uma alternativa, um terceiro campo” ao governo e à oposição burguesa. O representante da delegação do Comperj, por sua vez, fez uma fala emotiva, contando da árdua luta que travam há mais de um ano para receberem salários e direitos. “Se não formos para as ruas, não vamos ser só nós que vamos nos ferrar, mas nossos filhos”, disse. “Está na hora das centrais sindicais romperem com esse governo”, conclamou.

Bruno Rocha, do Sintusp (sindicato dos trabalhadores da USP) e do MRT (Movimento Revolucionário dos Trabalhadores), reforçou a necessidade de, na construção desse pólo independente de classe, “se dirigir diretamente à base da própria burocracia sindical”.  

O fundamental para nós é que nos localizemos num espaço claramente antigovernista”, afirmou Helena Silvestre, dirigente do movimento Luta Popular. Helena explicou como a política de cortes e ajustes do governo está afetando os sem-tetos, com a drástica redução das verbas destinadas ao Minha Casa, Minha Vida, e como isso vai afetar não somente o movimento popular, como categorias como a construção civil, que vai sofrer com o desemprego. “É preciso construir outras possibilidades para além do dia 16 e do dia 20, e com os trabalhadores, isso é possível”, disse.

Dia nacional e unificado de luta
A CSP-Conlutas apresentou uma proposta de declaração ao encontro que faz um chamado à construção de um campo de luta contra a direita e o governo e “para organizar e mobilizar a nossa classe”. O chamado é amplo, mas dirigido especialmente “às organizações sindicais dirigidas pelos setores combativos da esquerda, como a Intersindical/Central, MTST, Intersindical, e também aos partidos como o PCB, PSOL e PSTU”.

A declaração também chama as centrais como CUT e Força Sindical a romperem com o governo e a direita, e se colocarem ao lado de suas bases que “estão sendo atacadas pelos dois setores”. O texto deixa claro que não se pode ficar a reboque nem da direita, nem do governo, e que as entidades não participarão de manifestações com tenham esse caráter.

A resolução indica a realização de plenárias e encontros sindicais e populares, amplos, a fim de fazer essa discussão com as bases dos movimentos sociais, sindical e popular e, no mês de setembro, realizar um dia nacional unificado. Esse dia seria realizado com todos os setores dispostos a essa unidade, podendo ser um encontro ou uma marcha, ou ambos.

Antes disso, porém, a reunião indicou a necessidade de fortalecer iniciativas como as que já vem ocorrendo, como a marcha do funcionalismo no dia 6, mesmo dia em que ocorre um ato dos operários do Comperj. No dia 11 de agosto também ocorrem várias atividades, como atos da Educação pública, o dia nacional de luta da juventude contra a redução da maioridade penal, além de uma plenária dos metroviários de São Paulo para organizar a luta contra a privatização do setor. 

Leia a declaração aprovada na reunião

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