Flavia Bischain, de São Paulo (SP)

Fortalecer as greves e mobilizações contra as aulas presenciais na pandemia

Álcool em gel vencido, falta de funcionários, salas de aulas abafadas. Essas foram as condições que os professores da rede estadual de São Paulo encontraram com a retomada das atividades presenciais em 29 de janeiro. Apesar do agravamento da pandemia no estado, que chegou a registrar uma morte a cada seis minutos, o governador João Doria (PSDB) e seu secretário da Educação, Rossieli Soares, afirmaram que a volta às aulas seria segura. “COVID se pega em casa”, alegou o secretário.

O resultado do retorno precipitado às escolas foi a contaminação de 147 professores já nos primeiros dias de planejamento segundo a Apeoesp (sindicato dos professores do estado), e esse número não para de crescer. Essa realidade também foi vista na rede privada. Em Campinas (SP), o Instituto Educacional Jaime Kratz teve 47 pessoas contaminadas em pouco mais de uma semana.

Desconfiança tem fundamento

Apesar da grande campanha dos governos e da imprensa pelo retorno às aulas presenciais, a desconfiança dos pais ainda é grande e a maioria não está enviando seus filhos à escola. A preocupação tem fundamento. A circulação da nova cepa do vírus tem feito países da Europa fecharem as escolas novamente. Foi o caso de Portugal, Alemanha e Reino Unido. Na Bélgica, um em cada cinco contaminados é criança, e o ministro da Saúde reconheceu que as escolas podem estar sendo focos de contaminação.

No Brasil, as novas cepas também preocupam especialistas. Alguns estados já registram um aumento considerável na infecção de crianças e adolescentes. Em São Paulo, a infecção de pessoas de 10 a 19 anos representava 1% do total em março de 2020. Em janeiro deste ano, esse número subiu para 6,7% segundo dados do governo do estado levantados pela Globo News. Além das crianças, a preocupação é também com as famílias, com os trabalhadores da educação e com o agravamento da pandemia como um todo, já que reabrir as escolas vai significar um aumento da circulação de pessoas nos transportes públicos, nas ruas e nos comércios.

Professores iniciam greve pela vida!

Diante da gravidade da situação, trabalhadores da educação de várias partes do país têm lutado contra o retorno das aulas presenciais. Na rede municipal de Campina Grande (PB), os trabalhadores entraram em greve exigindo melhores condições de trabalho e melhorias no ensino remoto, além da defesa da vacinação.

No Rio de Janeiro, trabalhadores do estado e do município também entraram em greve: “O Rio de Janeiro alcançou a marca de cidade com mais mortos pela COVID-19 no Brasil, e apesar disso os governos estadual e municipal querem reabrir as escolas. Por isso, estamos em greve pela vida, na luta para manter as escolas fechadas até termos vacinação para todos”, declarou Sérgio Perdigão, professor das duas redes e da direção do Sepe-RJ (sindicato dos professores do estado).

Os professores da rede estadual de São Paulo deflagram greve sanitária a partir do dia 8, e as entidades sindicais do município de São Paulo também aprovaram a greve a partir do dia 10. Segundo o professor Lucas, do Reviravolta na Educação, “a categoria demanda das direções sindicais que realizem assembleias e comandos de greve virtuais, pois teme as manobras dessas direções”.

O sindicato dos professores da rede privada de Rio Preto (Sinpro), deliberou a greve no dia 9. “Reivindicamos o trabalho remoto de todos os profissionais da educação até que tenhamos segurança sanitária para voltar”, afirmou Letícia Banzatto, diretora do Sinpro.

Vacina para todos e aulas presenciais só quando houver condições

A greve sanitária da educação pode salvar vidas e deve ser unificada em nível nacional. No entanto, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) não tem adotado medidas concretas para unificar as lutas e tem defendido a regulamentação dos protocolos para o retorno e para o ensino híbrido (combinação entre aulas presenciais e remotas), além de defender a priorização da vacinação apenas para os trabalhadores da educação. Além de dividir a classe trabalhadora, essa política de vacinação para os trabalhadores da educação é completamente insuficiente, pois os pais dos alunos continuariam expostos.

Nossa luta precisa ser combinada com a defesa de melhorias nas condições para o ensino remoto emergencial, que foi muito precário durante 2020, e a defesa do acesso à internet gratuita, aos equipamentos e suporte necessários aos estudantes e professores, além do apoio psicológico. É preciso também exigir dos governos a garantia do auxílio-alimentação para as famílias, a volta do auxílio emergencial e a proteção a crianças e mulheres em caso de violência doméstica.

Para defender a vida da classe trabalhadora, é preciso unidade nacional na luta para que as aulas presenciais só sejam retomadas após a vacinação em massa e o controle da pandemia, e para pôr para fora o governo genocida de Bolsonaro e Mourão, inimigo da vida, dos trabalhadores, da ciência e da educação.