Depois da demonstração de intolerância política, a mentira: lamentavelmente, estes são os métodos da APOGLBTA Conlutas vai acionar na justiça a Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo (APOGLBT) e a Polícia Militar de São Paulo. Chamamos todas as organizações populares e democráticas a manter o repúdio ao veto e à violência dos quais nossa entidade foi vítima.

A Conlutas chama todos à luta contra o monopólio privado, ilegítimo e ilegal que a APOGLBT impõe sobre as manifestações da Parada do Orgulho Gay.

Diante do repúdio generalizado ao veto político e à repressão brutal da Polícia Militar acionada pela APOGLBT contra o Bloco e o carro, organizado pelo GT (Grupo de Trabalho) GLBTT da Conlutas, a APOGLBT divulgou uma nota de “esclarecimento”, em que, através de mentiras, tenta tapar o sol com a peneira. Tenta alegar motivos técnicos, irregularidades no nosso caminhão e um suposto não cumprimento do contrato por nossa parte para o veto e a repressão à Conlutas na Parada.

Chega ao cúmulo de dizer que estávamos vetados desde sexta-feira, quando o próprio site da APOGLBT (ver imagem no final da nota), em pleno domingo à tarde, quando éramos espancados pela polícia, nos colocava como o 4º carro da lista oficial de carros na Parada.

Não! A Conlutas cumpriu o contrato, tem todas as provas disso e vai continuar chamando o movimento a repudiar o veto da APOGLBT. Vai, inclusive, acionar na justiça a APOGLBT e a Polícia Militar.

A APOGLBT é que não cumpriu o contrato e resolveu vetar politicamente nosso carro na última hora. E, quando já não arranjava mais nenhuma desculpa técnica, jogou a polícia armada contra manifestantes desarmados: prendeu quatro companheiros. Entre eles Zé Maria, da Coordenação Nacional da Conlutas. Feriu vários ativistas, sendo que uma delas encontra-se, neste momento hospitalizada, depois de realizar uma cirurgia para colocar quatro pinos e uma placa na mão, pois teve dois dedos quebrados e deslocados pela selvageria da Polícia.

Algumas das mentiras da APOGLBT

1) Sobre a reunião do dia 19 de maio – A Associação da Parada diz ter havido uma reunião para a qual fomos convocados e não estivemos presentes. A APOGLBT mente! A Conlutas não foi convocada a participar desta reunião. Colocamos à disposição de todos o nosso sigilo telefônico e também o acesso a nossa rede de e-mails.

2) De fato, na quarta-feira (21), a Conlutas foi comunicada pela assessoria jurídica da Parada de que teria até o meio-dia de sexta-feira (23) para apresentar a documentação faltante. E foi dessa maneira que a Conlutas agiu. Na sexta-feira, às 11h30, apresentamos a documentação necessária para efetivar a nossa participação na manifestação. Em anexo estão todos os protocolos de entrega dos documentos exigidos.

3) A Associação diz que não apresentamos os documentos e que estávamos vetados desde sexta-feira. O próprio site da APOGLBT, trata de desmenti-la, pois apresentava, em pleno domingo (25) à tarde, o carro da Conlutas como o quarto carro de som autorizado da parada! (ver imagem no final da nota). O Trio da Conlutas não estava vetado. Ele passou, inclusive, na manhã de domingo, pela vistoria da PM e da Companhia Estadual de Trânsito (CET) conforme atesta a empresa responsável pelo caminhão de som e conforme reconheceram os oficiais da PM que foram nos retirar da Avenida Paulista.

4) A Associação diz que não estávamos com os equipamentos de proteção individual e com o banner por ela exigidos. A APOGLBT mente! Na Avenida Paulista, a Conlutas estava com os equipamentos de proteção individual e também com o banner exigido pela Associação.

5) A Associação diz que o caminhão da Conlutas furou o bloqueio e entrou à revelia na avenida. A APOGLBT mente! A CET e a equipe de organização da Associação da Parada autorizaram a entrada do Trio da Conlutas. Inclusive foi sob a orientação CET que o Trio ficou posicionado na esquina da Rua Joaquim Eugenio de Lima com a Avenida Paulista. E mais: foi destacado um fiscal da Associação da Parada para acompanhar o Trio da Conlutas até à rua em que ele estacionou.

Por fim, a direção da Associação, e mesmo o responsável da coordenação de segurança da Associação, se negou a conversar com a coordenação da Conlutas ou com nossos advogados durante esse impasse, apesar dos insistentes telefonemas nossos. A coordenação da Associação não aceitou conversar nem quando foi acionada pelo comando da Polícia que, a nosso pedido, solicitou a presença do responsável da Associação para tentar dirimir o impasse que estava criado. Pelo contrário, a coordenação da Associação apenas insistiu na ordem para que a polícia nos retirasse da avenida.

Conclusão
É incoerente e estarrecedor que quem diz lutar contra a intolerância e o preconceito tenha impedido o carro de som e o Bloco organizado pelo GT-GLBTT da Conlutas, uma organização de trabalhadores, popular, estudantil, de mulheres, negros e GLBTTS, de participar da Parada e tenha mandado a polícia espancar, ferir e prender ativistas e militantes que lutam contra a homofobia e o capitalismo.

A Parada é um evento internacional de luta, uma manifestação mundialmente pública. Ninguém pode se arvorar a ser proprietário de uma manifestação pública. Menos ainda, exercer a intolerância, o preconceito e a repressão para impedir a diversidade de idéias como fez a APOGLBT nesta Parada.

Defendemos incondicionalmente que todos aqueles que sofrem com a opressão e a exploração tenham o direito de lutar contra elas. Foi assim que surgiu o dia 28 de junho que deu origem à Parada, o 1° de maio, o 8 de março…

Nós questionamos, sim, a privatização e monopolização de uma manifestação política que luta por igualdade como é o dia do Orgulho GLBT. E denunciamos que a conseqüência inevitável disso é justamente o cerceamento do direito à livre expressão e manifestação!

O Bloco Classista, Independente e Combativo na Parada do Orgulho Gay de São Paulo, como estava sendo chamado, pretendia resgatar o espírito de luta contra a homofobia, não sendo apenas uma megafesta patrocinada por empresas. A origem do Dia do Orgulho Gay vem sendo desvirtuada pela APOGLBT que, sistematicamente, tenta impedir manifestações durante o evento, esvaziando seu caráter reivindicatório e, conseqüentemente, transformando-o num evento submetido à lógica do mercado e atrelado aos governos e grandes empresas.

A Conlutas se opõe a isso. E a APOGLBT, ao tentar impedir que sejam feitas críticas, ao tentar se colocar acima do direito de expressão e manifestação que todos têm, apenas demonstra que teria muito a perder num ambiente democrático e de livre debate.

Nesse sentido, a Conlutas alertava para o fato de que “a política de ter lucro com uma parcela dos gays, através do ‘mercado rosa’, criando caríssimos guetos gays para gays e lésbicas da classe dominante, não resolvem o preconceito e a violência contra a maioria”.

Esta situação não pode continuar assim!
A partir deste episódio lamentável, fica questionada de cima a baixo a autoridade da Associação da Parada GLBT de SP. Quem pratica a intolerância, não pode lutar contra ela em nenhuma circunstância. Como disse Zé Maria, “essas pessoas não têm condições políticas nem morais de seguir organizando esta atividade, não têm autoridade para representar a luta contra a opressão”.

A Conlutas vai fazer o que estiver ao seu alcance para que seja feito um amplo debate nos movimentos de GLBTT, no movimento sindical, popular e da juventude brasileira, acerca do que aconteceu domingo passado na Avenida Paulista. Vamos sim questionar a Associação como organizadora do evento. Vamos questioná-la politicamente e também juridicamente.

Da mesma forma vamos questionar o papel do Comando da Polícia Militar de São Paulo, que aceitou entusiasticamente cumprir o papel de jagunços de uma instituição privada ao invés de zelar pelo interesse de todos.

E acreditamos que esta não é uma tarefa só da Conlutas. É também de todas as organizações combativas dos movimentos sindical, popular e estudantil; dos movimentos e organizações de GLBTT; de todos aqueles que defendem a liberdade de manifestação. Denunciem a repressão e o cerceamento político à Conlutas!

Da mesma forma, acreditamos ser tarefa de todos questionar a autoridade política da APOGLBT, que se declarou proprietária do Dia do Orgulho Gay, declarando-se no direito de decidir quem participa ou não de uma manifestação que é mundialmente pública.

Não é legítimo nem legal que uma ONG tenha o monopólio e privatize manifestações públicas contra a homofobia.

Não à homofobia!
Não à intolerância!
Não à repressão!
Pela livre manifestação!
Todos que sentem o peso da opressão devem ter o direito de lutar contra ela!

São Paulo, 28 de maio de 2008
GT de GLBTT da Coordenação Nacional da Conlutas