Clima de polarização e disputa marcou o 8º Congresso Nacional da CUT,
realizado de 3 a 7 de junho, no Centro de Convenções do Anhembi, em São Paulo,
que reuniu 2.750 delegados sindicais de todo o país

Já em sua abertura, mesmo sem o apoio da direção da CUT, os servidores públicos realizaram um ato contra a reforma da Previdência, reunindo centenas de manifestantes, abrindo um dos principais debates do congresso. Depois do ato, os servidores, apoiados por delegados e sindicalistas de outras categorias, realizaram uma passeata até o plenário, onde vergonhosamente foram vaiados por delegados da Articulação.

A presença do ministro Ricardo Berzoini representando o governo na mesa de abertura soou como uma provocação aos delegados dos sindicatos de servidores públicos e demais delegados, que estavam no congresso para lutar contra a reforma da Previdência e defender uma CUT classista, de luta e independente do governo.

A prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, o ministro da Previdência Ricardo Berzoini, o ministro da Reforma Agrária, Miguel Rosseto, e o presidente do PT, José Genoino, causaram indignação no plenário e foram recebidos com muitas vaias, sequer conseguindo falar.

Várias palavras de ordem foram entoadas, como “Eu, eu, eu, Stalin já morreu, só ainda não sabem Genoino e Zé Dirceu” e “1, 2, 3, 4, 5 mil…ou param esta reforma ou paramos o Brasil”.

No dia seguinte, a festa preparada para receber Lula teve um gosto amargo. O ex-presidente da Central João Felício tentou acalmar os ânimos e garantir apenas aplausos a Lula, pedindo que fosse recebido com “carinho”. Mas, ao reafirmar que pretende fazer as reformas doa a quem doer, o presidente Lula foi vaiado por uma parte do Congresso, que gritava “Lula, tenha decência, não privatize a Previdência”.

Articulação abandona bandeiras históricas

A partir daí, com o início dos debates na tarde do dia 4, o que se viu foi o abandono de bandeiras históricas do movimento sindical, com a manutenção do texto-base da Articulação.

Sem argumentos para uma discussão política séria, a Articulação seguiu, ora tentando abafar a fala dos delegados de esquerda com apitaços, ora reafirmando na retórica a independência da CUT e o seu perfil de luta, aprovando, no entanto, políticas de alinhamento ao governo e abandono da luta.

A ruptura com o FMI e o não pagamento da Dívida Externa, que a CUT sempre defendeu, foram retiradas das resoluções aprovadas. Para espanto de muitos, a emenda do MTS que propunha o apoio as ocupações do Movimento dos Sem Terra, foi rejeitada com o incrível argumento de que existem outros movimentos e sindicatos que também realizam ocupações. Quando o companheiro Didi propõs retirar a menção ao MST e aprovar a defesa das ocupações, ficou claro que o objetivo era retirar das resoluções do Concut as ocupações como método de luta pela Reforma Agrária.

Na discussão sobre a Alca, os delegados da Articulação rejeitaram exigir do governo o plebiscito oficial. Sobre a emenda que propunha a ruptura das negociações, esta foi considerada um mero chavão pelo defensor do texto base e rejeitada.

A reforma da Previdência, um dos principais debates e divisores de água deste congresso, também foi aprovada, deixando claro o rumo que a CUT está seguindo de se transformar num braço sindical do governo Lula.

Para isso, contou com a colaboração da CSD e CSC, que fizeram um papel nefasto ao dividir o bloco que propunha a retirada do projeto.

Felício, que também é professor, teve a cara-de-pau de dizer que era a favor da reforma porque “o papel da central é a negociação e a CUT precisa ser o elo entre o governo e os trabalhadores”.

Para justificar sua postura conciliadora, a CSC disse que discordava de pontos da reforma, mas que a retirada do projeto poderia levar o “servidor público para o gueto” e que era necessário buscar “alterar o projeto por dentro”.

A emenda proposta pelo Unir a Esquerda e Fortalecer a CUT propunha a revogação da Emenda Constitucional nº 20 e o arquivamento da PEC 40, além de garantir a mobilização dos trabalhadores para exigir do governo a ampliação de direitos.

MTS e o bloco Unir a Esquerda da CUT marcaram posição no Concut

O MTS e o bloco Unir a Esquerda da CUT discutiram em plenário várias emendas.
Cyro Garcia defendeu “Esse governo não é nosso” e contou com o apoio na votação de setores do Fortalecer a CUT. “Fora os ministros burgueses do governo Lula”, foi defendida por Júnia Gouveia.

“Pela retirada da CUT do CDES”, defendida por Vera Guasso, também teve grande aceitação. Mancha, presidente do sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, defendeu que o Mercosul não é alternativa à Alca e Agnaldo Fernandes, da Fasubra, defendeu a ruptura com o FMI e o não pagamento da dívida externa.

Defendendo a independência e autonomia da CUT frente ao governo, Dirceu Travesso conseguiu um silêncio total do plenário lembrando que Marinho não havia sido indicado pelo Congresso, nem mesmo surgiu de qualquer debate na base da Articulação. Foi uma indicação do presidente Lula.

Unir a Esquerda e Fortalecer a CUT formam bloco de oposição

Contra toda essa política conciliadora da Articulação, foi formado um bloco de oposição pelo “Unir a Esquerda na CUT” e “Fortalecer a CUT”, com Jorge Luis Martins, o Jorginho, como presidente. A Chapa 2 recebeu 661 votos (25,3%) , ficando com 6 vagas na Executiva e 2 na suplência.

Já a Chapa 1, formada pela Articulação Sindical, a Corrente Sindical Classista, a CUT Socialista e Democrática, a Tendência Marxista, a Unidade Sindical e Sindicalismo Socialista Brasileiro (PSB), recebeu 1950 votos (74,6% dos votos válidos). Com Marinho como presidente, a Chapa conseguiu 19 membros efetivos na Executiva e 5 suplentes. Votaram 2.631 delegados. Foram contabilizados 5 votos em branco e 15 nulos

Post author Ana Cristina Silva,
de São José dos Campos (SP)
Publication Date