Pouco depois de anunciar o encerramento da maior operação militar deste ano no Iraque – na região desértica da fronteira com a Síria, com a morte de mais de 100 insurgentes – os EUA voltam a sofrer revés da resistência iraquiana. Sitiadas por centenas de soldados norte-americanos, as cidades fronteiriças de Hawija e Tikrit foram palco de atentados contra alvos da ocupação norte-americana, como postos de recrutamento militar e delegacias de polícia do governo títere de Jalal Talabani. Na capital, Bagdá, ao menos quatro carros-bomba explodiram, atingindo patrulhas norte-americanas, estações policiais e tropas de ocupação, somando cerca de 70 mortos e 120 feridos. Desde as eleições impostas pelos EUA à população iraquiana no final de abril já são mais de 400 mortes causadas durante a ocupação.

As explosões em Tikrit e Hawija, respectivamente a 130 km e 240 km ao norte de Bagdá – segundo o grupo sunita Ansar al Sunnah, que assumiu a autoria dos atentados – visavam iraquianos trabalhando para os EUA e centros de recrutamento do Exército, e resultaram em mais de 60 mortes. Em Bagdá, houveram quatro mortos e 14 feridos, ao passo que em Basra – a 550 km da capital – uma bomba explodiu na maior fábrica de fertilizantes da região. A ofensiva norte-americana na fronteira com a Síria incluiu a articulação entre os inúmeros postos de controle – como o da cidade de Obeidi –, ataques aéreos e a ação de soldados de elite do Exército norte-americano, os chamados marines.

O biombo democrático-parlamentar imposto pelo novo governo – que inclui ex-militares, ex-membros do partido de Saddam Hussein (Baath), membros das diversas etnias e o presidente Jalal Talabani, verdadeiro fantoche norte-americano –, mediante o que pode se considerar a eleição mais ardilosa já testemunhada pela História, não vem cumprindo a contento a função contra-revolucionária de evitar ou desviar – via reação democrática – o descontentamento das massas iraquianas. Muito pelo contrário. Neste sentido, não é mera casualidade o recente relatório apresentado pelo Pentágono ao Congresso norte-americano explicitando “situação de risco” no Iraque e, subseqüentemente, a sanção de uma lei de “gastos emergenciais” com a qual Bush destina mais de US$ 82 bilhões para a ocupação do Iraque.