Manifestamos nossa solidariedade à produtora Porta dos Fundos ante o atentando terrorista às instalações da empresa, nesta quarta-feira (24/12), pelo suposto “Comando de Insurgência Popular Nacionalista da Família Integralista Brasileira”.

Segundo o comunicado do suposto grupo de ultra direita, eles seriam a “espada de Deus” que se abate contra o grupo humorístico, por retratar um Cristo homossexual em uma produção audiovisual.

Além de serem covardes, jogando bombas na madrugada e colocando em risco a vida dos vigilantes da produtora, quais seriam os objetivos deste “Comando”?

Esta estranha “espada de Deus” não atinge a “justiça burguesa, covarde e corrupta” caracterizada pela nota do suposto Comando, quando este país lidera o triste recorde de assassinatos a transsexuais. Tampouco a espada aparece quando índios da etnia guajajara são alvejados em plena rodovia, ou quando os dirigentes sindicais do Sindicato dos Rodoviários de Amapá são ameaçados de morte por simplesmente lutar pelo pagamento dos salários atrasados da categoria. Na verdade estamos diante da espada do Capital.

E o que pretendem é utilizar o terror para que as pessoas NÃO pensem. Seria irônico se não fosse trágico o fato de que estes assassinos acusem o grupo humorístico de “espoliar nossas riquezas”. Jogaram as bombas no lugar equivocado, pois é Bolsonaro que anunciou a abertura da mineração em terras indígenas para companhias norte-americanas. Não por mera coincidência o assassinato de vários indígenas aumenta depois do anúncio.

O objetivo de acabar com qualquer tipo de questionamento à verdadeira espoliação que o país está sendo submetido também se expressa no fim de toda liberdade de expressão. A intolerância e a violência exercida de forma “oficial” e “não oficial” à diversidade cultural, religiosa, racial e sexual, justificará a violência aos que questionem o projeto deste governo de espoliação do país.

A nota desses covardes fala em preservar o “patrimônio imaterial” de um suposto “povo” ameaçado por uma produção cultural. Quando utilizam o terror fica evidente que o que querem é que a maioria do povo pense e comporte-se de acordo com os costumes e crenças de uma minoria.

Impedir a liberdade de expressão é a forma de esconder o fato de que essa minoria que abocanha a grande parte do “patrimônio material” do país apela segundo o comunicado do “Comando” à uma suposta unidade do “povo” em torno a religião para aprofundar a verdadeira divisão que existe: a divisão entre as classes. Na qual uma delas, a covarde classe dominante fica com o patrimônio material e a maioria do povo deve contentar-se com o “imaterial” e desde que seja de uma única religião, de uma única orientação sexual e de nenhuma expressão artística e cultural.

A política do governo é acobertar esses grupos porque eles realizam, a margem da legalidade, o que o governo impulsiona no marco “legal”. São as duas faces da mesma moeda.

Assim como não podem prender os mandantes do assassinato de Marielle Franco, não vão investigar os assassinatos dos povos indígenas, assim como acobertam e ordenam o genocídio da juventude negra nos bairros da periferia.

A resposta deve vir dos de baixo. A defesa da liberdade de expressão contra o covarde ato terrorista deve estender-se à luta contra os assassinatos e pela necessidade de organizar o legítimo direito a autodefesa.

São Paulo, 26 de dezembro 2019.