Repressão policial contra mineiros da Casapalca deixa dois mortos à balaArdilosa, covarde e criminosa foi a repressão policial do governo de Alan García contra os trabalhadores mineiros de Casalpalca e suas famílias que, na quinta 14 de junho, causou a morte por feridas de bala de um menino de um ano e meio e do companheiro Óscar Fernández Taype, deixando ainda três pessoas gravemente feridas. Tão selvagem agressão ocorreu quando os trabalhadores e suas famílias, organizados em piquetes de greve, mantinham bloqueada a estrada central no quilômetro 117 (Huarochirí), em uma desesperada ação após 18 dias de greve sem solução para suas demandas, entre elas a reposição de 300 demitidos e a mudança nas injustas e desumanas condições de trabalho.

Não contente com isso, a empresa pretende prender 30 dirigentes sindicais, com acusações de delitos que representam uma arbitrária e vil distorção das ações da organização sindical. O modo de agir desta patronal – hábito já generalizado – é criminalizar as justas lutas sindicais para que os trabalhadores apareçam como delinqüentes, desviando a atenção do verdadeiro problema que é a criminosa injustiça das empresas. Isso ocorre também na Shougang, onde o principal dirigente, Ronnie Cueto, está preso desde 5 de junho, e outros oito dirigentes têm ordem de detenção, acusados antecipadamente de um acidente que desperta grandes dúvidas.

O governo conhece muito bem o drama dos operários da Casapalca e os abusos a que são submetidos pela patronal – a família Gubbins – que, utilizando ilegalmente a figura dos contratos, mantém a quase totalidade de seus trabalhadores por muitos anos na situação de “eventuais”, sem os direitos garantidos por lei, em péssimas condições de salubridade e segurança, e acima de tudo com os salários mais baixos do setor mineiro. Os trabalhadores da Casapalca não apenas clamam por melhores condições de vida, mas também pela vida mesma. Basta mencionar que, nos trabalhos de socavão, a empresa obriga a trabalhar várias horas extras, mas bombeia oxigênio apenas para as oito horas de uma jornada normal. O tempo restante os mineiros aspiram os gases tóxicos com graves danos à sua saúde.

Tanto conhece o governo que o primeiro-ministro Jorge Del Castillo admitiu, em entrevista no dia 14, que a empresa, além de dificultar as inspeções do Ministério do Trabalho, estava cometendo uma injustiça com esses trabalhadores, e declarou que os mesmos seriam recebidos pelo ministério para solucionar sua situação. Na mesma direção se pronunciou o ministro de Energia e Minas, Juan Valdivia, que indicou que seu despacho pedirá à Casapalca que cumpra os acordos firmados com seus trabalhadores e também solicitará ao Ministério do Trabalho que tome uma decisão rapidamente para resolver o conflito. Mas, enquanto publicamente estes altos funcionários do governo reconheciam a justiça das reivindicações dos mineiros, em segredo ordenavam desbloquear a estrada a sangue e fogo.

Os trabalhadores por certo nunca foram recebidos no ministério. Quer dizer, quando as injustiças e a superexploração são tão evidentes, o governo não tem mais remédio a não ser admiti-las publicamente, mas, ainda assim, coloca todo o poder político do Estado ao lado da patronal exploradora, contra os humildes trabalhadores. É o que aconteceu também no caso dos trabalhadores contratados da Shougang, quando a ministra reconhecia publicamente a injustiça, mas na hora das decisões políticas apoiava a transnacional chinesa.

Esses crimes não devem continuar impunes, têm que merecer o mais amplo e contundente rechaço de todo o movimento de trabalhadores mineiros e de toda a classe trabalhadora e do povo. As razões que motivaram a greve nacional da Federação Mineira não apenas estão intactas, sem nenhuma solução, como hoje se vêm terrivelmente agravadas. Primeiro foi a prisão de Ronnie Cueto e agora são os crimes contra os operários da Casapalca. E não são os únicos atropelos da patronal mineira e do governo das transnacionais.

Já não está em jogo somente a aspiração a melhores salários ou um regime de trabalho mais justo, mas também os mais elementares direitos democráticos, como à liberdade de sindicalização e à greve. O governo de García é o governo das transnacionais, nada podemos esperar dele que não seja o que manda a vontade dessas empresas.

É urgente organizar uma contundente resposta dos trabalhadores e do povo pela punição dos culpados e destituição das autoridades envolvidas, assim como pela libertação dos dirigentes presos ou perseguidos e o fim da hostilidade judicial. A Federação Mineira e a CGTP têm a responsabilidade de impulsionar, urgentemente, todas as ações necessárias para concretizar no menor tempo possível um ato de protesto. As reuniões do Comando Nacional Unitário de Luta, formado para organizar a jornada nacional de 11 de julho, devem tomar este tema como um assunto prioritário e não se deve esperar essa data para concretizar o protesto. A Federação Mineira deve submeter à consideração de suas bases o reinício da greve nacional, para que haja soluções no prazo de 60 dias – já se vão 40 sem nenhuma solução – para respaldar as lutas de Casapalca, Shougang, Southern, Yanacocha e outras bases.

Urgente: resposta operária e popular para frear a ofensiva reacionária do governo!
Duas centenas de trabalhadores chegaram a Lima há mais de duas semanas em marcha de sacrifício, e pernoitam praticamente ao relento nesta época de friagem e umidade. A patronal sabota as reuniões no ministério ante a passiva atitude das autoridades.

ATUALIZAÇÃO
O número de mortos chegou, na sexta, a quatro e os feridos, a 20. O governo se dispôs a firmar um acordo para permitir o levantamento dos cadáveres, ordenar a investigação dos assassinatos, assim como retomar na segunda as conversas no Ministério do Trabalho para a reintegração dos demitidos, para o que serão convocadas pela sétima vez a Casapalca e as empresas terceirizadoras. Outro tema será a retirada das denúncias penais da patronal contra os trabalhadores.

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