O empenho do governo para a absolvição de Renan Calheiros (PMDB) custou caro a Lula. Em primeiro lugar, ficou escancarada para toda a população a ação comandada por Lula para livrar a cara do seu aliado corrupto. Além disso, aprofundou o desgaste das instituições da democracia dos ricos, com a imagem do Congresso Nacional atirada definitivamente na lama.

Mas não foi só isso. Renan continua sendo um elemento político de instabilidade. O governo pretendia retirá-lo de cena logo após a sua absolvição no Senado. Assim, atenuaria o desgaste e facilitaria a aprovação da CPMF agora e partiria para a implementação das reformas depois, nomeadamente a da Previdência.

“Faltou falar com a noiva”
No entanto, só faltou combinar com Renan, que se recusa a sair do cargo. Mesmo com a possibilidade da abertura de novos processos contra ele na Comissão de Ética do Senado, Renan insiste em permanecer na presidência da Casa. Para isso, usa seu velho truque: ameaça revelar os podres de outros figurões da República, como caixa-dois, financiamento de campanhas por empreiteiras, entre outras sujeiras. “Combinaram o casamento, o noivo e o padre, mas esqueceram de falar com a noiva”, ironizou Tião Viana (PT), vice-presidente do Senado.

A artilharia do presidente do Senado não poupa nem os parlamentares que se empenharam em sua recente absolvição, como o próprio Tião Viana. Seu gabinete foi responsável por vazar à imprensa informações sobre uma assessora fantasma de Viana. A funcionária do gabinete dele dá expediente, na verdade, no Diretório Nacional do PT. A denúncia foi publicada no jornal Correio Braziliense.

Da mesma forma, os assessores de Renan guardam munição contra vários outros senadores, como a petista Ideli Salvatti, outra integrante de sua tropa de choque. Renan considera que o governo não fez mais que sua obrigação em trabalhar por sua absolvição. Afinal, seus serviços prestados ao governo incluem a pizza na crise do “mensalão” e o abafamento da crise no escândalo dos “sanguessugas”. Exigir sua saída agora seria, na visão de Renan, uma traição.

No entanto, a base do governo reconhece que o caso Renan é ainda o centro da crise. “A curto prazo, o cenário é de crise intensa; a disposição de Renan de se manter no comando da Casa causará problemas ao governo”, avalia Viana.

Crise
A permanência de Renan na presidência do Senado, portanto, vai se revelando uma verdadeira vitória de Pirro ao governo. A votação é emperrada e as negociatas com a oposição de direita se encarecem, como no caso da CPMF, cuja aprovação na Câmara se deu em meio a uma intensa troca de cargos e liberação de emendas.

Mais que isso, o próprio Renan Calheiros transforma-se num homem-bomba, pronto a explodir a qualquer movimento brusco do governo, levando consigo boa parte da base aliada.
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