A situação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), se complica cada vez mais. O senador é acusado de ter contas pessoais pagas pela empreiteira Mendes Junior, através do lobista Cláudio Gontijo. Segundo as denúncias que motivaram a representação no Conselho de Ética contra Calheiros, o lobista seria responsável por repassar uma pensão de R$ 12 mil à jornalista com a qual o senador teve uma filha há três anos. O valor corresponde praticamente ao salário do parlamentar.

O presidente do Senado tentou então provar possuir renda suficiente para pagar a pensão à ex-namorada, sem precisar recorrer à empreiteira. Para isso, encaminhou uma série de documentos ao Senado, no qual atestaria ser o proprietário de uma fazenda e de cabeças de gados. No entanto, reportagem veiculada pelo Jornal Nacional contestou os números divulgados por Renan. Segundo o noticiário, que viajou ao local da fazenda do senador, o número de gado é menor ao anunciado por Renan, e várias das empresas nos quais Calheiros afirmou ter feito negócio são firmas de fachada.

Como se isso não bastasse, perícia preliminar realizada pela Polícia Federal nos documentos apresentados pelo senador constatou uma diferença de 511 cabeças de gado entre o que foi anunciado e o que comprovam os documentos, incongruência que equivale a R$ 600 mil. Além disso, há notas fiscais sem data, rasurada e algumas ainda fora da ordem cronológica. As próprias empresas que assinam os recibos de Renan são já conhecidas firmas de fachada da região.

Situação insustentável
Com o agravamento da crise política, Renan vê ruir sua até então fiel tropa-de-choque no Senado. O relator do processo no Conselho de Ética, Epitácio Cafeteira (PTB-MA), aliado de José Sarney (PMDB-AP), o qual por sua vez é padrinho político de Renan, pediu afastamento por problema de saúde, após ter concluído relatório pedindo sua absolvição sumária. A relatoria passou então para o senador Wellington Salgado (PMDB-MG), antigo amigo de Calheiros.

Na reunião do Conselho de Ética realizado no último dia 20, estava tudo pronto para o arquivamento do processo. Renan pessoalmente pressionava os senadores para abafar a crise. Salgado, por sua vez, demonstrava querer enterrar o escândalo de qualquer jeito. “Eu não sou débil mental, fatos novos existem, mas eu não quero nem saber”, chegou a afirmar.

No entanto, com o profundo desgaste experimentado pelo Senado nos últimos dias, os senadores foram obrigados a recuar e suspender o arquivamento. A reunião decidiu então dar mais tempo para a Polícia concluir a perícia nos documentos apresentados pelo senador.

Crise se agrava
O escândalo de corrupção que atingiu em cheio o presidente do Senado não é apenas mais um em meio a tantos outros que rondam o governo Lula. O caso mina o terceiro homem na sucessão do presidente Lula e uma figura chave na aliança que o governo mantém com o PMDB. Além disso, Renan Calheiros não é qualquer senador. O “experiente” senador é um tradicional político que, governo após governo, mantém-se em destaque.

Antigo desafeto de Collor, Calheiros foi líder de seu governo entre 90 e 92 na Câmara dos Deputados. Já no governo FHC, Renan foi nada menos que Ministro da Justiça. No governo Lula, foi eleito presidente do Senado em 2005 e reeleito no começo de 2007. A atual crise política, além de ameaçar derrubar a figura histórica do Congresso, desmoraliza ainda mais a instituição.

Não disposto a cair sozinho, Renan Calheiros, que se vê traído por seus pares, ameaça agora divulgar escândalos de outros senadores, de casos extraconjugais a casos de corrupção. Ameaça ainda, como chantagem, abrir uma CPI das Empreiteiras. Embora seja improvável que o Senado puna seu presidente, o aprofundamento do escândalo pode abrir uma crise ainda maior no Congresso, situação que nem o governo Lula nem os partidos de direita desejam.