A retirada de 9 mil colonos, ainda que parcial e insuficiente, é resultado da luta da IntifadaFaltam poucos dias para a retirada de cerca de nove mil colonos israelenses da Faixa de Gaza e do norte da Cisjordânia, mas o processo promete ser bastante tumultuado. A resistência entre os israelenses é muito forte e diversas ações têm sido feitas na tentativa desesperada de barrar a operação.

Na semana passada, um ativista extremista da ultra-direita de Israel foi linchado porque matou quatro árabes-israelenses e feriu 12 em um ônibus em Shfaram, no norte de Israel. Também foram realizadas duas grandes manifestações próximas às fronteiras de Gaza, que pretendiam invadir a área (que está cercada de policiais como parte do operativo de segurança para a retirada) para se juntar aos colonos.

Na tarde desta quarta-feira, 10, mais de 50 mil judeus ultra-ortodoxos reuniram-se no Muro das Lamentações, em Jerusalém, para rezar e protestar contra a retirada, alegando um suposto direito bíblico dos judeus à terra. No domingo anterior, o ex-ministro das Finanças de Israel e ex-primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, pediu aos parlamentares para que tentassem interromper “esse mal”, dizendo que a remoção dos colonos “apenas vai criar uma base para o terror islâmico”.

A divisão entre os israelenses quanto à retirada já começa a provocar cisões até mesmo no partido do primeiro-ministro Ariel Sharon, o Likud. A renúncia de Netanyahu deu margem à especulação de que partido estaria prestes a se dividir. Isso porque, para muitos membros do partido de extrema-direita, Sharon não estaria agindo com a dureza necessária com os palestinos.

Como será a retirada
A retirada dos colonos foi aprovada pelo gabinete israelense e pelo Knesset, o Parlamento de Israel. Serão desocupados na próxima semana 21 assentamentos na Faixa de Gaza e 4 no norte da Cisjordânia, que foram tomados dos palestinos barbaramente em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias. A polícia israelense promete esvaziar as todas as casas em até quatro semanas – os que resistirem serão retirados à força, mas sem o uso de armas.

Ao todo, são cerca de 9 mil pessoas que deixarão suas casas e receberão indenizações de até US$ 300 mil. Se comparado aos 400 mil colonos que vivem em meio a 3,5 milhões de palestinos, o alcance dessa remoção é ínfimo e mostra que o projeto é muito mais um golpe de marketing de Sharon.

Remoção é fruto da luta dos palestinos
Após a morte de Yasser Arafat, em novembro do ano passado, foi realizado um acordo de paz entre Sharon e Mahmoud Abbas, novo líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP). As negociações previam que Abbas deveria desarmar a resistência palestina e, em troca, Sharon desocuparia alguns assentamentos e libertaria alguns presos palestinos.

Esse acordo significou, na realidade, mais uma traição da direção da ANP, que se ofereceu para destruir a Intifada Palestina, heróico movimento de resistência dos palestinos que foi retomado em 2000. A Intifada é a prova de que somente com a luta direta será possível destruir o Estado de Israel e sua prática genocida para construir um único Estado na região, laico e democrático.

Os resultados e a eficácia da luta armada contra a violência sionista podem ser vistos com a retirada dos colonos. Ainda que parcial e insuficiente, ela só se deu devido à mobilização dos palestinos, e não em virtude da bondade de Sharon ou da habilidade diplomática de Abbas.

Os militantes da Intifada argumentam que a remoção dos assentamentos em Gaza seria uma tática de Sharon para reforçar o controle sobre a Cisjordânia. Por esse motivo e pelo fato de que a luta dos palestinos só será concluída com a destruição de Israel, é que as ações da resistência devem prosseguir, ainda que contra as orientações da ANP. A retirada da próxima semana é só mais uma conquista, não o fim da batalha.