Mais um recorde para Lula. O governo que já tinha conseguido o maior lucro para os banqueiros, e o maior superávit primário da história, acrescenta um dado novo: a maior remessa de lucros das multinacionais para o exterior.
As remessas de lucros e dividendos para suas matrizes no exterior foram de US$ 12,686 bilhões – pouco menos que os US$ 13,496 bilhões gastos em pagamento de juros da dívida. Remessa é o dinheiro que as multinacionais mandam para fora sem nenhuma taxação, é o lucro que elas obtêm aqui. Esse capital, gerado aqui, não se materializa em nenhum investimento no Brasil, é um capital que sai do país para as matrizes das multinacionais.

Esse valor é o mais alto desde que o Banco Central começou a analisar esses dados, em 1947. O crescimento foi de espantosos 72,9% em relação aos US$ 7,33 bilhões de 2004.

Até o início dos anos 90, a maioria das remessas era de juros de empréstimos convencionais, tomados na década de 70 com FMI, Clube de Paris ou Banco Mundial. Mas o neoliberalismo e suas privatizações mudaram essa composição nos últimos anos.

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A entrega das estatais e grandes empresas às multinacionais agravou a situação de dependência do país. Hoje a maior parte das remessas são de ex-estatais comandadas pelo capital estrangeiro.

Quem mais enviou lucros e dividendos para o exterior em dezembro do ano passado foi o setor de serviços, com US$ 1,031 bilhão. Os bancos estrangeiros foram responsáveis por quase a metade desse valor, aproveitando a abertura do setor financeiro e os juros mais altos do planeta para fazer a festa.

Trata-se de um investimento puramente especulativo, que nenhum benefício traz aos trabalhadores.

Também em dezembro, a indústria remeteu US$ 963 milhões (US$ 315 milhões pelas empresas de alimentos) e o setor de extrativismo mineral, US$ 95 milhões.
Um estudo das economistas Leda Paulani, da USP, e Christy Pato, da Universidade de Uberlândia, constatou que, nos últimos 30 anos, as despesas com serviços de fatores – remessa de lucros, dividendos e juros – cresceram 1.085%. Enquanto isso, o Produto Interno Bruto (PIB) aumentou apenas 129%, e o PIB per capita, 49%.
Essas empresas podem enviar mais dinheiro ao exterior recorrendo, entre várias medidas, à uma maior exploração do trabalhador ou aumentando preços em setores em que há monopólio privado – como os serviços públicos privatizados.

A entrega da economia nacional começou com os tucanos. Mas o governo Lula, com sua obediência cega aos ditames do FMI, com o pagamento religioso da dívida externa e com sua política de juros astronômicos, apenas aprofunda o estrago.

O governo, ao proporcionar tantos benefícios às multinacionais e aos bancos, acaba dando um tiro no próprio pé. As remessas são feitas em dólares, moeda indispensável para o Brasil fechar as contas externas. Com a necessidade cada vez maior da moeda americana, o país toma empréstimos que agravam ainda mais a vulnerabilidade e o endividamento externo.

Um dos fatores responsáveis pelo aumento das remessas para o exterior foi a queda de 15,9% do dólar em 2005, resultando em preços mais baixos dos bens e serviços estrangeiros. Com o real valorizado, um mesmo lucro em reais compra mais dólares e, por isso, torna-se mais vantajoso para as multinacionais converter os lucros em dólares e enviá-los ao exterior.

Sangria desatada
Com o câmbio favorável, as remessas devem continuar nas alturas em 2006. Somente na primeira quinzena de janeiro deste ano, o envio de lucros ao exterior esteve em US$ 834 milhões.

As remessas não trazem, portanto, qualquer vantagem aos trabalhadores. Apenas beneficiam a especulação financeira e as multinacionais. É uma sangria dolorosa de recursos do país que, juntamente com os bilhões destinados a pagar a dívida, só aumenta a miséria, os baixos salários e o crescimento da dívida pública.
Post author Larissa Morais, da redação
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