Tropas enviadas por Lula cometem crimes em nome da “paz”A ONG Centro de Justiça Global e a Escola de Direito da Universidade de Harvard (EUA) lançam oficialmente, no dia 23 de março, um relatório que acusa a Missão de Estabilização da ONU no Haiti (Minustah), coordenada pelo Brasil, de permitir a ocorrência de abusos, de favorecer a impunidade e de contribuir para a onda de violência no país. Mais que isso, o relatório contém documentos que comprovam abusos cometidos pelas próprias tropas da ONU, que atuam em nome da “paz”.

A Minustah mantém um total de 5.500 homens no Haiti, dos quais 1.200 são brasileiros. A ocupação teve início em junho de 2004 e estava prevista para durar até junho de 2005, mas deverá ser prorrogada.

O relatório “Mantendo a paz no Haiti?” mostra exemplos de que a missão no Haiti dá cobertura às atitudes da polícia da capital, Porto Príncipe, que comete abusos e desempenha uma campanha de terror nas favelas da cidade. Pior que encobrir ações da polícia do país, porém, segundo o relatório, as tropas de ocupação também protagonizam violações de direitos humanos.

Entre os casos, está o de Esterlin Marie, cujo filho de dois anos, Herlens Henri, morreu vítima de uma bala perdida proveniente das armas das tropas brasileiras, num tiroteio na favela de Cité Soleil, em dezembro de 2004. Como se não bastasse a morte da criança com um tiro na cabeça, logo após o incidente, os soldados recolheram as balas e os indícios de tiroteio no local e o corpo do menino desapareceu do necrotério. Em entrevista coletada para o relatório, o general brasileiro Augusto Heleno Pereira, que comanda a ocupação, atribuiu a morte da criança a gangues da favela.

Moradores de Martissaint, outro bairro pobre da capital haitiana, acusam as tropas brasileiras de outra morte violenta, durante operação de apoio à polícia de Porto Príncipe. Carlo Pierre, de 26 anos, foi assassinado porque participava de uma manifestação pelo retorno do ex-presidente Aristide em outubro de 2004.

Apoio para que a polícia “opere”
O número de mortes e abusos cometidos pelas tropas da missão da ONU só é superado quando comparado às violações cometidas pela Polícia Nacional Haitiana. Segundo Anne Susin, monitora de direitos humanos do Instituto pela Justiça e Democracia no Haiti, as tropas da ONU “estão apoiando a Polícia Nacional. Por exemplo, em meados de outubro, a polícia iniciou uma operação em Bel-Air. As forças de paz permitiram uma porção de abusos. Tivemos notícias de estupros e detenções e alguns presos desapareceram”.

O número de prisões sem mandados e condenações também é alarmante. Na Penitenciária Nacional, de um total de 1.015 presos, apenas 21 foram condenados pela Justiça, ou seja, 98% dos presos são mantidos sem nenhum julgamento ou ordem judicial.

Segundo o relatório, a polícia haitiana também tem a prática de retirar pacientes civis de hospitais, assassiná-los e jogar seus corpos em valas comuns. Por conta disso, muitos feridos à bala passaram a recusar tratamento.

O general Heleno deixou claro que a posição do comando militar no Haiti tem o objetivo de respaldar as ações da polícia haitiana. “Nós oferecemos à polícia a proteção que ela não tinha. Damos espaço para que opere. Sim, nós fazemos isso”, afirmou o general.

Dois soldados morrem em tiroteio
Além dos abusos denunciados pelo relatório do Centro de Justiça Global, outro fato desmistifica a idéia de pacificação do Haiti. No dia 20, dois soldados da ONU, um do Sri Lanka e outro do Nepal, foram mortos em tiroteios.

O conflito ocorreu com os ex-soldados do antigo exército do Haiti, que foi desativado, mas ainda controla várias delegacias do país. Os ex-soldados faziam parte do grupo de rebeldes que liderou a revolta que derrubou Aristide, há um ano. Os soldados da ONU foram mortos em conflitos diferentes, nos quais a missão tentava tomar o controle das delegacias.

Perdendo fãs
Os haitianos sempre demonstraram um carinho pelo Brasil, principalmente pelo futebol brasileiro. Esse sentimento foi usado sordidamente pelo imperialismo, que se aproveitou da admiração para ocupar o país, contando, para isso, com a subserviência do governo Lula.

Entretanto, diante das ações e cumplicidades das tropas que coordenam a missão da ONU no Haiti, a população começa a encarar as tropas brasileiras de maneira menos amigável. Além de ações individuais de civis recebendo soldados brasileiros com paus e pedras, já começam a surgir as primeiras manifestações de revolta coletiva.
Parte do comércio de Porto Príncipe fechou no dia 19, em uma greve contra a violência na capital. Segundo Robert-Jean Argant, vice-presidente da Câmara de Comércio, entidade que convocou o protesto, 300 estabelecimentos aderiram. Para muitos haitianos, começa a ficar claro que a única coisa que as tropas da ONU não trarão ao Haiti é paz.

Baixe a versão final do relatório `Mantendo a Paz no Haiti?`, do Centro de Justiça Global (.pdf | 2,6 MB)

Post author
Publication Date