A reunião do Conselho Universitário (Coun) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) que decidiria sobre a adesão ao Reuni estava marcada para o dia 18 de outubro. A reitoria tentou adiantar para dia 17, mas, sabendo que havia um protesto convocado, adiou a reunião para o dia 23. Esta data era estratégica, pois antecedia a marcha a Brasília, do dia 24, quando muitos estariam viajando. Também acontecia a Semana de Iniciação Científica, em que a maioria das aulas são liberadas.

Os estudantes, em ato que veio novamente do campus do Centro Politécnico, resolveram, então, ocupar a reitoria e lá permanecer até o Coun do dia 23. A reitoria, alegando a não-legitimidade da ocupação por não ter a participação do DCE (atualmente dirigido pelo PT), conseguiu a reintegração de posse do prédio e passou a utilizá-la como meio de pressionar os estudantes a saírem da ocupação antes da reunião.

O reitor Carlos Moreira, que já manifestou publicamente suas intenções em ser pré-candidato à prefeitura de Curitiba pelo PMDB, para não expor sua imagem de repressor, vem declarando à imprensa que nada tem a ver com a reintegração. Este fato tem feito o juiz recuar do uso da força policial para executar a reintegração de posse do prédio, o que resultaria no indiciamento de seis estudantes, responsabilizados individualmente pela ocupação, num processo explícito de criminalização do movimento.

A reitoria, por sua vez, se recusa a negociar com o movimento de ocupação, chamando as entidades de cada categoria para negociar sem representantes da ocupação. Mesmo sem representação, o impacto político da ocupação conseguiu garantir que o Coun seja aberto. Além disso, será convocado com a pauta de plebiscito e não deliberativa sobre o Reuni. Uma vitória parcial, fruto da mobilização dos estudantes.

Como tudo começou
Desde o início do semestre, algumas assembléias de estudantes históricas começaram acontecer na UFPR e teve início um processo de mobilizações. O curso de Nutrição fez um ato em que entregou à reitoria uma carta contrária ao Reuni. Psicologia fez um ato que impediu que o setor de humanas votasse a favor da adesão. Ciência da Computação teve um papel importante na posição do setor de exatas, que também se opôs à adesão.

O que parecia ser um fato dado para os departamentos e setores logo começou a ser questionado e revertido pela atuação dos estudantes. Nos lugares em que o debate sobre o Reuni chegava, mais estudantes e professores se posicionavam contra o Reuni.

No dia 10 de outubro, um ato unificou a luta contra o Reuni. Aproximadamente 300 estudantes saíram em marcha do Centro Politécnico, passando por outros campi até chegar à reitoria. Foram mais de uma hora de marcha em que os estudantes animados cantavam “Moreira, que palhaçada / não vou deixar a federal precarizada” e “ensino, pesquisa, extensão / quero universidade / não quero escolão”, entre outras palavras-de-ordem. Ao final, aconteceu uma assembléia dentro da reitoria, definindo a defesa do plebiscito e a mobilização para outro ato, no dia 17, um dia antes do Coun que definiria sobre a adesão ao Reuni.

Golpe da Reitoria
Assim como em outras universidades, na UFPR a reitoria também deu um golpe no Coun, que aconteceu no dia 24, contando com a presença de mais de 200 estudantes. Após amplo debate sobre o plebiscito, que durou em torno de quatro horas, e divisão das posições dos conselheiros, a reunião foi dissolvida sem encaminhar a votação.

A não-adesão ao Reuni neste conselho foi uma vitória da ocupação, mas a não-votação do plebiscito fez com que os estudantes permanecessem ocupados.

A reitoria fechou o Restaurante Universitário na última sexta-feira, numa tentativa de colocar estudante contra estudante, responsabilizando a ocupação. Os alunos estão preparando um ato para a próxima quinta-feira. Um dos eixos é a abertura imediata do RU, pois é sabido que o funcionamento da administração da universidade têm acontecido fora do prédio ocupado e que o funcionamento do RU não passa pela administração neste momento, pois já é subsidiado com muita antecedência.

Novamente, um Coun foi marcado para o dia 30. Dessa vez, vai deliberar sobre o Reuni. A UFPR conseguiu mais um dia para a adesão ainda no primeiro prazo, pois quer garantir a entrada e conseguir a fatia maior das verbas destinadas ao programa. Neste momento, estudantes se preparam para uma nova manifestação para tentar inviabilizar a votação no Coun.

O papel nefasto do DCE e da UNE
A atual gestão do DCE tem cumprido o papel de braço da reitoria e do governo entre os estudantes, assim como a UNE. Desde que o debate sobre o Reuni começou na universidade, o DCE tem se posicionado contra os que têm posição, usando das mesmas táticas da reitoria de desmoralização dos que lutam. Alegam que são grupos do “contra pelo contra”, que seguem as “previsões catastróficas do Andes”, manipulados pelos partidos, etc. Usam de métodos de calúnia e difamação de ativistas e organizações de luta e fogem do debate se dizendo “neutros”, acusando todos os que são contra o Reuni de não o terem estudando direito.

O que tentam fazer, na verdade, é impedir a mobilização dos estudantes, facilitando para a reitoria a aprovação do Reuni. O DCE divulgou uma nota de repúdio à ocupação, deslegitimando-a porque a entidade DCE não estava em sua organização. Típico discurso da UNE que não está em luta nenhuma e que tenta deslegitimar os que estão. Não por acaso, o vice-presidente da UNE e mais quatro diretores estiveram no Congresso de Estudantes da UFPR, que aconteceu no mês, defendendo o governo em sintonia com a reitoria e o DCE.

Afinal, o movimento estudantil é feito pelos estudantes que organizam suas lutas ou por entidades burocráticas e governistas? Os estudantes da UFPR vivem esta experiência e podem perceber que o que legitima o movimento são as lutas que estão sendo construídas e elas não se dão ao lado de entidades governistas.

A atual gestão do DCE é obrigada a defender o plebiscito, pois foi vaiada em sala de aula ao ser contra a ocupação. Depois de todas as tentativas de confundir os estudantes, tenta agora, novamente, sair do desgaste. As eleições para o DCE se aproximam, e uma chapa unificada de todos os lutadores está sendo construída para derrotar os governistas.

Sem organização não há vitória
A primeira lição que a ocupação nos dá, antes mesmo de seu fim, é a de que é preciso voltar às bases, às salas de aula, a discutir com cada estudante e acreditar na capacidade de lutar contra os ataques à educação e construir um novo movimento estudantil. Foi por acreditar nessa concepção de movimento estudantil e na necessidade de organização que surgiu o Coletivo Convergência.

Por muito tempo ouvíamos aqui na UFPR que passagens em salas de aula e panfletagens eram coisas do passado, que os estudantes não queriam saber de nada, que suas consciências estavam recuadas e que o movimento estudantil se restringia aos poucos que lamentavam suas ações. É verdade que Curitiba é uma cidade conservadora e que na UFPR as últimas mobilizações com conquistas aconteceram em 2001. Mas a retomada das lutas contra o Reuni nos mostra que não é verdade que não podemos mais lutar e que as mobilizações são coisas do passado. Ao contrário, nos mostram que é necessário construir um novo movimento estudantil que derrote as direções governistas e burocráticas e conquiste vitórias.

É preciso avançar para que, nacionalmente, possamos fortalecer a Conlute, unificando a luta dos estudantes e construindo um instrumento que sirva às muitas lutas que ainda virão.

A ocupação se mantém
Esta é a mais longa ocupação da história do movimento estudantil da UFPR e já recebeu mais de 200 moções de apoio. É preciso garantir a mobilização permanente. Por isso, uma série de atividades e debates estão acontecendo na ocupação.

As passagens em sala de aula são o termômetro para medir nossa força e esperamos inviabilizar a votação do Reuni na próxima reunião do Coun e conseguir fazer um grande ato no dia 1º de novembro. Pedimos moções de todas as entidades combativas e de lutadores contra as punições e perseguições.

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