Cartaz do filme

Filme de Brian de Palma usa fotos e vídeos de internet para mostrar a realidade do IraqueUm mito está a ser laboriosamente difundido pelo governo Bush e a direita norte-americana: o de que a guerra do Iraque está a acabar, a de que o país ocupado está a ser “pacificado”. O boato apoia-se na redução do número de soldados americanos mortos nos últimos meses naquele país, mas, convenientemente, “esquece” um outro dado fundamental. O de que o número total de norte-americanos mortos em 2007, segundo o site antiwar.com, é superior ao do ano anterior: 822 em 2006 e 901 em 2007. Os dois principais candidatos para as presidenciais deste ano dos dois principais partidos, Hillary Clinton e Rudolph Giuliani, também tentam deixar o tema para segundo plano. Procuram, inclusive, demonstrar o seu espírito guerreiro: ele a defender a invasão do Irão, e ela a dizer que esta hipótese não está descartada.

Surge, portanto, como um soco no estômago dos que mentem sobre a ocupação do Iraque e procuram fazer com que esta seja esquecida – mas também dos que compactuam com esta manobra, em particular a imprensa burguesa, inclusive e muito especialmente a portuguesa – o filme de Brian de Palma “Redacted” (Censurado), recentemente estreado em Portugal.

O filme é excelente por várias razões, e em primeiro lugar porque é claramente contra a ocupação genocida do Iraque. Desde o início da guerra liderada pelos EUA e Inglaterra, a 19 de Março de 2003, foram mortos em consequência do conflito mais de 1 milhão de iraquianos. Mas, para demonstrar de forma clara de que lado está nesta guerra, Brian de Palma não emprega uma linguagem convencional. Pelo contrário, a outra razão de “Redacted” ser um filme genial é a de utilizar – e muito bem – uma linguagem nova, a dos “blogs” da Internet, a dos vídeos “caseiros” do YouTube. Tudo isto para contar uma história real e macabra, cujos protagonistas, cinco soldados americanos, ainda estão a ser julgados pelos tribunais dos EUA. Dois deles já foram condenados à prisão perpétua.

Aliás, o filme chama-se “Redacted”, justamente por causa disso. Como o caso ainda está em julgamento, De Palma foi obrigado a auto-censurar-se, e não pôde utilizar nomes e documentos reais, servindo-se exclusivamente dos dados que encontrou na Internet a relatar o episódio. A cidade onde aconteceu o crime, Mahmudiyah, chama-se, no filme, Samarra, e os envolvidos também tiveram os seus nomes trocados. “Redacted” é uma expressão que significa “editar com o objetivo de atenuar”, e ainda, o termo atribuído à censura oficial feita aos textos enviados pelo governo americano à imprensa, rasurados com tinta preta. As fotos exibidas no final do filme também estão na internet, evidentemente sem as tarjas negras a cobrir o rosto das vítimas, uma exigência dos produtores do filme.

A história relatada pelo filme aconteceu em Março de 2006, quando um grupo de soldados americanos violou e assassinou uma adolescente iraquiana de 14 anos, Abeer Qasim Hamza al-Janabi, depois de ter matado a sua família. A boçalidade de alguns dos soldados envolvidos no crime – no filme os assassinos são dois – confunde-se com a boçalidade da ocupação, num mesmíssimo e cínico ritual de violência. É talvez por isso, pela contundência da denúncia, que a imprensa americana não tenha gostado do filme e, em Portugal, a mesma imprensa tenha sido tão discreta a seu respeito, quando farta-se de promover lixos.

Com Redacted, De Palma ganhou o Leão de Prata como melhor diretor no Festival de Veneza. O filme estreou nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, foi apresentado no Festival de Cinema de SP, no final do ano, e deve ser lançado em breve.

FRASES DO DIRETOR SOBRE O FILME
“O filme é uma tentativa de trazer até o povo americano a realidade do que está acontecendo no Iraque.”

“Só as imagens são capazes de parar a guerra. Espero que essas imagens sejam o bastante para indignar o público. Quem sabe agora isso faça com que nossos representantes no Congresso votem contra a guerra.”

“Na guerra do Vietnã víamos as imagens da dor que estávamos causando num povo. Víamos o que acontecia quando matávamos e torturávamos. Víamos nossos soldados feridos e mortos, seus corpos sendo trazidos em sacos. Não vemos nada disso nesta guerra.”

“As imagens estão por toda parte na Internet. Se você procurar, você acha. Mas elas não estão na grande mídia. A mídia é, hoje, parte do establishment corporativo.”

“Eu pedi (aos jornalistas) que me dessem as imagens que não podiam publicar, que não podiam usar.”

VEJA IMAGENS DO FILME NO YOUTUBE

INFORMAÇÕES
Direção e roteiro: Brian De Palma
Elenco: Patrick Carroll (Reno Flake), Rob Devaney (Lawyer McCoy), Izzy Diaz (Angel Salazar), Mike Figueroa (Sgt. Vazques), Ty Jones (Sgt. Jim Sweet), Kel O´Neill (Gabe Blix), Abigail Savage (Adolescente violenta)
Sinopse: História baseada em um recente acontecimento da Guerra no Iraque, no qual quatro soldados americanos estupraram e mataram uma garota de 14 anos, além de matar mais três membros da família.
Estréia: 14/12/2007 (EUA)