O governo dos Estados Unidos está preocupado com os fundos de pensão porque a maioria deles está à beira do colapso. Reportagem do “The New York Times“ informa que o controlador geral das finanças do governo inseriu a Pension Benefit Guaranty Coporation, a agência governamental que garante as pensões, na lista de operações governamentais de “alto risco“. John Snow, secretário de Tesouro, advertiu que um colapso financeiro como o do setor de poupança e de empréstimos imobiliários, em 1989, estaria próximo de acontecer.

Em maio, em artigo publicado no jornal francês “Le Monde Diplomatique“, a redatora-chefe Martine Bulard lembrou também que os fundos de pensão nos EUA estão se inviabilizando em face do crescente número de aposentados e a redução do pessoal da ativa. E fez uma advertência: financistas americanos dedicam-se a criar, nos demais países, fundos de pensão capazes de arrematar maciçamente estes papéis jogados no mercado, a fim de evitar o colapso. “A partir de 2005, o famoso fundo de pensão americano Calpers (dos professores da Califórnia) deverá apresentar um aumento sem precedentes do número de aposentadorias a pagar: deverá vender, em larga escala, ações em bolsa, o que resultará numa queda generalizada nas cotações e, por conseguinte, uma redução mais acentuada no patrimônio dos fundos”, advertiu Martine.

A notícia confirma que a reforma da Previdência foi imposta pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para gerar recursos, também no Brasil, para adquirir ações/cotas dos fundos americanos em alto risco. O governo trabalha para incluir no texto constitucional a obrigatoriedade do modelo de fundos ser de Contribuição Definida (CD). Esse modelo permite, naturalmente, a canalização dos recursos desses fundos para financeiras americanas, que os usarão para adquirir ações e cotas e salvar os fundos de pensão e o mercado de ações norte-americano.

É um alerta aos futuros servidores e aos fundos de pensão das estatais, que sofrerão pressões para migração.

A mudança para Contribuição Definida nos Estados Unidos veio tumultuar o sistema de aposentadoria norte-americano. O New York Times lembrou que especialistas financeiros já alertavam aos administradores dos fundos para que não investissem apenas em ações, mas em títulos públicos, cujo vencimento ocorre na época em que o dinheiro das pensões é necessário para o pagamento das aposentadorias. “Sem que a maioria dos norte-americanos saiba, um pequeno grupo de especialistas em finanças vêm já há alguns anos defendendo a posição de que os fundos de pensão estão em risco porque seus administradores investem demais em ações. Esses analistas foram vaiados durante os anos de “boom“ das bolsas, na década de 90, mas depois de três anos de baixa seus argumentos começam a ser levados em consideração“.

O New York Times informa ainda que Wall Street não está satisfeito com as sugestões dos especialistas porque os fundos de pensão têm ativos na ordem de US$ 1,6 trilhões (cerca de R$ 4,8 trilhões), que correspondem a uma importante parcela do mercado de ações. Os administradores dos fundos estão preferindo outro tipo de composição de carteiras, como operações de “hedge“, imobiliárias e outros investimentos.

* * Fernando Siqueira preside a Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET)

Post author Fernando Siqueira*,
especial para o Opinião Socialista
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