Terminou às 15 horas do dia 19 de agosto o IX Congresso dos Metalúrgicos de São José dos Campos e região. Com o atraso do almoço, os 146 delegados estavam famintos, mas com a certeza de que ocorriam mudanças profundas e significativas no sindicato e na sua atuação. Há muito trabalho a ser feito mas o primeiro passo foi dado.

O presidente da entidade, Adilson dos Santos (o Índio) destacou na abertura que a diretoria acreditava ter um balanço positivo nos últimos anos. Havia resistido ao banco de horas, não havia participado das Câmaras Setoriais, esteve na vanguarda de várias das lutas contra os governos (Collor, FHC e Lula) e, atualmente, na ruptura com a CUT e na construção de uma nova direção. Outro aspecto positivo é o apoio à luta internacional dos trabalhadores. A presença do dirigente da organização haitiana Batay Ouvriye, Didier Dominique, na abertura do evento, agradecendo o envio da delegação da Conlutas ao país exigindo a retirada das tropas brasileiras, comprovava isso.

“Mas os erros existiram e temos que identificá-los, não para nos autodestruirmos ou ficarmos nos autoflagelando, mas para corrigí-los e avançar em nossa luta, fortalecendo nosso sindicato”, afirmou Índio. Entre os principais erros estavam: não ter sido conseqüente na luta contra a burocratização, permitindo alguns privilégios pessoais para alguns diretores; o afastamento da base; não ter se preparado a fundo na luta contra os novos ataques de reestruturação produtiva e o desprezo pela formação política e teórica dos dirigentes e ativistas do sindicato. No sábado e no domingo, os delegados discutiram este balanço e votaram resoluções concretas para superar os problemas.

A luta contra a burocratização
A resolução foi apresentada pelo diretor e ex-presidente da entidade, Luiz Carlos Prates, o Mancha, que partiu de uma autocrítica profunda dos erros cometidos pela diretoria, pela executiva e dele em particular, como principal dirigente e quadro mais experiente do sindicato. As propostas apresentadas foram basicamente as publicadas na edição passada do Opinião Socialista.

Durante os debates congressuais foram acrescidas algumas novas como: o corte do celular com tempo ilimitado para os diretores (todos terão uma cota de 50 reais) à exceção do Índio; e que o diretor liberado deve prestar contas de suas atividades, além de reafirmar propostas como: revogabilidade de mandatos, rotatividade de diretores e realização de assembléias nas fábricas e gerais para decidir os principais acontecimentos do sindicato.

Prioridade no trabalho de base e na formação
Antônio Donizetti, diretor das fábricas da Chácara, apresentou esta resolução destacando que o sindicato irá trabalhar com todas as formas de organização da classe. Com o objetivo de mobilizar os trabalhadores desde as pequenas reivindicações até as máximas e mais políticas, utilizando todas as formas de luta.

Como forma de conscientizar sobre a importância das organizações de base para a democracia operária, os trabalhadores serão incentivados a, em toda luta, se auto-organizar. O objetivo é construir grupos de trabalhadores em cada empresa, utilizando-se de eleição de Cipa, delegados sindicais, explorando as brechas legais e incluindo na negociação coletiva sua regulamentação, propondo também à Conlutas uma campanha pela regulamentação dos delegados sindicais. Além disso, deverá se eleger um comando de mobilização e negociação para acompanhar a campanha salarial de 2007; iniciar uma campanha pelo reconhecimento das comissões de fábricas na região; produzir boletins específicos; formar um conselho editorial do jornal do sindicato e impulsionar as Secretarias de Organização de Base e Saúde do Trabalhador.

Ação sindical em novos tempos
A resolução apresentada por Vivaldo, da General Motors, incluía, entre suas propostas: iniciar uma Campanha de disputa pela consciência da classe contra os novos métodos de produção que retiram direitos dos trabalhadores; luta contra a terceirização; isonomia salarial e social; nenhuma reestruturação negociada –resistência permanente; contra o rebaixamento de direitos em troca de garantia de emprego; contra a remuneração variável e por sua integração aos salários fixos; fim da estrutura sindical corporativista, pela livre organização da classe e solidariedade internacional entre os trabalhadores.

Contra as reformas de Lula
Os delegados também votaram por unanimidade a luta contra a reforma da Previdência, as reformas neoliberais e a política econômica do governo Lula; pela reestatização da Vale do Rio Doce e demais empresas privatizadas; e em defesa do direito de greve, ameaçado pelo governo.

Para concretizar isso, participar da marcha nacional a Brasília em 24 de outubro; unir as campanhas salariais em curso, unificando com os metalúrgicos do interior do estado e com as demais categorias nacionalmente no Comando Nacional da Conlutas, incluindo o dia 25 de setembro em seu calendário; participar da campanha e do Plebiscito Popular na semana da pátria.

Além disso, os delegados reafirmaram o compromisso de construir a Conlutas, participando do Congresso em 2008 e garantindo a divulgação e apoio político e financeiro, destinando mensalmente 10% da arrecadação do sindicato para sua construção e para o Fundo das Oposições.

Também foi aprovado o chamado à unidade da esquerda socialista e a construção de uma organização nacional e unificada, discutindo na base a unificação da Conlutas, Intersindical e outras organizações em oposição à CUT e ao governo Lula.

Não à impunidade
Um dos momentos mais emocionantes do Congresso foi quando se tratou dos diretores que haviam roubado a entidade, em um certo misto de consternação e indignação. Os diretores Teles e Durvalino, que se apropriaram do dinheiro pago ao sindicato pelas indenizações dos trabalhadores da ex-Mafersa e que ainda entraram com uma denúncia no Ministério Público contra vários dirigentes da entidade, acusando-os de formação de quadrilha, mal uso da verba do sindicato e desvio de dinheiro para o PSTU; e também Fabiano, que falsificou holerites da fábrica para receber as horas do sindicato; todos foram afastados da diretoria, sendo abertos processos para sua expulsão de acordo com as normas estatutárias.

Os delegados mostraram que a entidade dos trabalhadores não é como o Congresso Nacional, onde impera a corrupção e a impunidade. Em uma entidade de classe, por mais duro que seja, os dirigentes sindicais que roubarem ou prejudicarem os trabalhadores devem ser punidos. Fica mais esta lição.

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