Aos poucos, a dura realidade da crise financeira e econômica que se espalha pelo mundo a partir dos Estados Unidos chega ao Brasil. O discurso do descolamento da economia brasileira se desmoraliza enquanto os primeiros sintomas da crise atingem o país. Até mesmo o governo Lula, embora insista nessa tese, é obrigado a mudar seu discurso enquanto, discretamente, refaz planos e prepara-se para o próximo período de turbulências.

Mesmo assim, a maioria dos trabalhadores brasileiros ainda não se deu conta do real tamanho dessa crise. O atual momento crescimento permite que o discurso da blindagem tenha ainda certo sentido. No entanto, a posição do país no comércio internacional coloca o Brasil na rota da crise que se aproxima.

No olho do furacão
Um dos principais setores que sustentaram o crescimento do país nos últimos anos foi o de exportações. A alta das commodities (produtos primários de exportação) no mercado internacional impulsionou o setor no país, além do crescimento da indústria automobilística. Durante oito anos consecutivos, o Brasil teve superávit crescente na balança comercial, ou seja, exportou mais do que importou.

A partir do ano passado, no entanto, tal tendência se inverteu. Em 2007, embora o país ainda tenha tido superávit, seu valor foi menor que no ano anterior. Já em 2008, a expectativa é de nova redução. Espera-se um superávit de US$23 bilhões, quase a metade do ano anterior. Como se isso não bastasse, prevê-se também um déficit na balança comercial de 2009. Seria o primeiro déficit em dez anos.

Isso ocorre devido à baixa do preço das commodities no mercado internacional, além da perspectiva de drástica redução da demanda por esses produtos. Desta forma, a alta do dólar, que em tese beneficiaria o setor exportador, já que seus produtos ficariam mais baratos, é anulada pelos efeitos da recessão mundial.

Além disso, o Brasil registra um déficit em transações correntes cada vez maior. Isso significa que o valor de tudo o que sai do país é cada vez maior que os recursos que entram. A fuga de capitais e a remessa de lucros transferem rapidamente os recursos para cobrir o rombo já provocado pela crise lá fora. Até 2007, o Brasil acumulava superávit nas contas externas, ou seja, entrava mais recursos do que saía. Agora, só para 2008, o Banco Central prevê um déficit de US$30 bilhões.

Na mão das multinacionais
Isso ocorre porque a economia do país é totalmente integrada à economia mundial e, principalmente, submetida às necessidades dos grandes oligopólios. Por isso, apesar de a indústria automobilística, por exemplo, ter registrado recordes de venda neste ano, as montadoras representam o setor que mais remeteu lucros ao exterior. Suas matrizes amargam uma profunda crise e as filiais devem enviar seus recursos para cobrir parte desse rombo.

A política de investimentos é, assim, determinada a partir das matrizes das grandes multinacionais. A favor delas giram todos os esforços da empresa nos países em que atua. O agravamento da crise vai aprofundar a transferência dos lucros para fora.

A General Motors, por exemplo, enquanto crescia no Brasil, aumentando suas vendas e produção, foi se afundando cada vez mais nos EUA e hoje está à beira da falência. A maior fabricante de automóveis do mundo acabou de anunciar o fechamento de duas fábricas nos EUA, com a extinção de mais de 2.700 postos de trabalho. Essa tendência, contudo, rapidamente chega ao Brasil e a montadora acaba de anunciar férias coletivas e redução da produção.

Especulação
Outro aspecto dessa crise que já se manifesta de forma concreta no Brasil são os prejuízos bilionários que colocaram em xeque grandes empresas que resolveram especular com o dólar.

Empresas do ramo de papel, como Klabin, Aracruz, VCP (Votorantim Celulose e Papel) e Suzano terão grandes perdas nesses meses. Prevê-se que a Suzano tenha prejuízo de R$127 milhões e a Votorantim, 375 milhões, mas existe possibilidade de esse rombo ser bem maior.

Os prejuízos suspenderam a fusão entre Aracruz e Votorantim, um negócio envolvendo algo em torno de R$2,7 bilhões. Grande parte desses prejuízos vem do investimento que grandes empresas exportadoras fizeram no mercado financeiro, apostando em contratos cambiais e no dólar baixo. Com a alta da moeda norte-americana, essas empresas amargam grandes prejuízos. Só a Aracruz ficou com um rombo de R$1,6 bilhão.

Além da Aracruz, a Sadia, maior exportadora de frangos, também amargou prejuízos com a subida do dólar. Mais de R$760 milhões da empresa viraram pó em questão de dias. Embora o governo negue, alguns acreditam que mais de 200 empresas tenham se aventurado nesse tipo de investimento e agora contam suas perdas.

Um prejuízo tão grande não passa desapercebido e suas conseqüências serão profundas, assim como os reflexos da crise em todos os seus aspectos, principalmente para a classe trabalhadora.

Resistir
Com o fim do crescimento e a perspectiva de uma forte crise, o governo e a burguesia esperam salvar seus lucros socializando os prejuízos. É necessário preparar desde já a resistência contra os efeitos da crise e os ataques contra os trabalhadores. É hora de os ricos pagarem pela crise.

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