Em junho, o Departamento do Trabalho dos Estados Unidos confirmou o sexto mês consecutivo de aumento do desemprego. A taxa aumentou de 4,5% em janeiro para 5,5% em maio. Estes números não levam em conta os que desistiram de procurar emprego, os que trocaram um emprego integral por outro de tempo parcial e os que fizeram bicos no período. Computando-se estes casos, a taxa de desemprego sobe para 9,7%.

Estes números significam um aumento de 438 mil trabalhadores sem salário em 2008 e 62 mil apenas em junho. O tempo médio para se arrumar um novo emprego também aumentou, de 10 para 17,5 semanas. Como sempre, os negros e latinos são os mais afetados, com taxas de desemprego de 9,2% e 7,7% respectivamente, contra 4,9% dos trabalhadores brancos.

A tendência é de aprofundamento do desemprego. A Starbucks anunciou um corte de 12 mil empregos em sua rede, cerca de 7% de sua força de trabalho. A American Airlines também anunciou cortes e a Chrysler eliminou um turno de trabalhadores em sua fábrica de pick-ups.

Este quadro gera uma reação em cadeia de redução de consumo, menor produção e crescimento da taxa de desemprego. As empresas automobilísticas, por exemplo, estão sendo duramente afetadas devido ao aumento do preço da gasolina e a mudança de hábitos do consumidor, que está abandonando os veículos grandes, o carro-chefe das montadoras até então, fazendo com que as montadoras de Detroit dêem férias coletivas enquanto tentam reordenar sua produção para veículos pequenos.

De uma média de produção de 16 milhões de veículos na última década, em 2008 serão vendidos bem menos que 15 milhões. Empresas como a GM e Ford tiveram uma queda de 18% e 28% nas vendas, respectivamente.

O mercado financeiro é o mais afetado
A crise no mercado financeiro aprofunda-se cada vez mais, e o governo Bush autorizou empréstimos do FED (o banco central norte-americano) às duas maiores empresas de financiamento habitacional, a Fanny Mae e a Freddie Mac, à beira da falência. Apenas as duas controlam mais de US$ 6 trilhões em hipotecas de casas como garantia de seguro ou de financiamento, vendidas na forma de títulos no mercado financeiro. Com a queda contínua do valor das habitações e, portanto, dos títulos, seus prejuízos devem ser bem maiores que os US$ 11 bilhões já anunciados.

No dia 11 de junho, o IndyMac Bank, um dos maiores bancos de poupança do país, foi fechado pelo governo, deixando milhares de clientes na mão. Estima-se que nos próximos 18 meses pelo menos 150 instituições bancárias poderão fechar suas portas. Este é o maior colapso de instituições financeiras nos Estados Unidos desde a chamada Grande Depressão em 1929, apesar da ajuda de US$ 125 bilhões já fornecidos pelo governo.

Estes fatos provocaram a declaração de Ethan Harris, economista chefe do banco Lehman Brothers, de que “é uma recessão em câmera-lenta, numa recessão normal, existe um colapso repentino e as coisas ficam tão fracas que não há outro caminho a tomar a não ser para cima. Mas nós não estamos presenciando os clássicos três ou quatro quadrimestres negativos. Ao contrário, estamos esperando dois anos de crescimento raquítico, insuficiente para gerar empregos. É como uma dor crônica, e não aguda”.

A recessão é um fato consumado
A recessão na economia norte-americana não está sendo evitada pelos mecanismos tradicionais de redução de juros e facilidade de créditos que foram utilizados em 2001. O FED já destinou bilhões de dólares para evitar a falência de bancos de investimento, intermediou a venda do tradicional banco Bear Stearns ao JP Morgan Chase e liberou US$ 100 bilhões na forma de devolução de impostos para animar o consumo familiar, além da redução de juros.

A burguesia norte-americana parece ter entendido o recado da economia. Segundo Jane Caron, economista chefe da Dwight Asset Management, uma empresa negociadora de títulos: “minha preocupação é que estejamos indo numa direção onde estas respostas negativas se expandam e intensifiquem”.

Esta realidade tem seu reflexo nas bolsas de todo o mundo. O índice Dow Jones, que mede o desempenho das indústrias na Bolsa de Nova Iorque, despencou 14,4% neste primeiro semestre e na China, a galinha dos ovos de ouro do imperialismo, a economia também mostra uma redução do crescimento. A bolsa de Xangai, por exemplo, caiu 48% neste ano. Não poderia ser diferente, pois o maior importador dos produtos chineses são os Estados Unidos.

Os economistas burgueses responsabilizam o aumento dos preços da alimentação e do petróleo – o milho aumentou 55% e o petróleo 51% – pelo aprofundamento da crise, mas, na verdade, estes aumentos não são mais do que sua conseqüência. Por um lado, para aumentar os lucros dos grandes monopólios que dominam os dois setores, por outro, porque são ativos mais seguros do que os títulos do tesouro norte-americano, em função da queda vertiginosa do valor do dólar.
Como bem notou Ethan Harris Cole, esta crise é “diferente” das anteriores, pois é mais profunda. Atinge em cheio o principal país imperialista do mundo e levará mais tempo para ser vencida. Por isso, os ataques aos trabalhadores são maiores. O aumento dos preços dos alimentos ameaça a própria sobrevivência de populações inteiras e a tentativa do aumento da jornada de trabalho para 65 horas na Europa é um retorno ao século 19.

No Brasil
O Brasil ainda apresenta bons índices de crescimento e ainda é considerado um porto seguro de investimentos, ao lado da Rússia, por serem países exportadores de “commodities”, isto é, matérias primas como o petróleo e produtos agrícolas. Mas já há sintomas de crise por aqui, que se expressam na queda ininterrupta das ações na Bolsa de São Paulo. O índice Bovespa teve uma valorização de apenas 1,77% no primeiro semestre, contra 43,6% em 2007. Se levarmos em conta a inflação, o rendimento é negativo. Ações de empresas como a Petrobras e a Vale caíram 5,32% e 13,83% em 2008 (valores de 11/07), respectivamente, embora sejam exportadoras de matérias primas valorizadas, como o petróleo e o aço.

Na balança comercial não é diferente. Apesar de o barril de petróleo estar cotado em US$ 140, o que garante uma grande entrada de dólares no Brasil, o saldo positivo da balança comercial de janeiro a maio de 2008 é quase 80% menor que no mesmo período de 2007.

Mas é no bolso dos trabalhadores que a crise se manifesta sem piedade. Os alimentos consomem a maior parte da receita das famílias de baixa renda, fazendo com que a alta de seus preços pese muito mais para os setores menos favorecidos. A inflação medida pelo IPCA, que abrange as famílias com rendimentos de 1 a 40 salários mínimos, foi de 0,74% em junho e 6,06% no primeiro semestre de 2008. Já o INPC, que mede a inflação dos assalariados de 1 a 6 salários mínimos, variou em 0,91% e 7,28% nos mesmos períodos. Isto é, a inflação é maior para quem ganha menos.

A resistência operária é a saída
Por isso não resta dúvidas sobre a direção que a classe operária deve tomar contra mais este ataque. Os operários da construção civil, um dos setores mais empobrecidos da classe operária no Brasil são os primeiros que estão se mobilizando, como mostram as greves no Ceará e dos operários das obras de expansão da Petrobrás em São José dos Campos (SP) e Campinas (SP). Os batalhões mais pesados da classe podem segui-los, como petroleiros e metalúrgicos. Os metalúrgicos da GM e da Volks, por exemplo, recusaram a proposta de banco de horas da empresa, que significaria uma corrosão ainda maior em seus salários e os petroleiros da Bacia de Campos, que produz 80% do petróleo nacional, entraram em greve por reivindicações específicas.

As campanhas salariais do segundo semestre prometem assumir proporções bem maiores que as ocorridas nos anos anteriores.