A relativa calma que predominou nos mercados nos últimos dias, após semanas de pânico, foi substituída pelo aprofundamento da crise aonde ela realmente se originou. Tantos nos EUA como no resto do mundo, passando pelo Brasil, a recessão avança a passos largos na chamada economia real, apesar dos pacotes bilionários anunciados pelos governos.

Nos Estados Unidos, foi divulgado o Produto Interno Bruto do terceiro trimestre. A economia norte-americana diminuiu 0,3%, puxada pela drástica redução do consumo. A renda individual do norte-americano caiu históricos 8,7%, a maior queda registrada desde 1947, quando a pesquisa começou a ser realizada. Só em outubro, 240 mil trabalhadores perderam o emprego nos EUA, selando o décimo mês seguido de avanço do desemprego, cuja taxa alcançou os 6,5%, maior índice desde 1994.

A indústria automotiva nos EUA é um dos setores que mais sofre com a crise. A General Motors, maior montadora do mundo, acumulou prejuízo de 2,5 bilhões de dólares no trimestre. Nem mesmo os lucros crescentes que a multinacional tem na América Latina e na África – e que são transferidos para a matriz – conseguem tapar o rombo da montadora. A empresa ameaça pedir concordata caso o governo não a ajude, o que, segundo a imprensa, poderia atingir também a Ford, devido aos seus fornecedores comuns.

Crise emergente
No Brasil, os efeitos da crise vão aparecendo num ritmo cada vez mais grave e intenso. A “marola” prevista por Lula vai se transformando rapidamente numa tempestade. Férias coletivas e redução da produção em diversos setores prenunciam uma onda de demissões para o próximo período.

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) informa que a queda na venda de automóveis entre setembro e outubro foi de 13,8%. O número de veículos licenciados caiu 15%. O mês de outubro registrou ainda a primeira queda nas vendas em cinco anos.

A principal causa apontada para a crise no setor, um dos mais dinâmicos do país, é a escassez do crédito. A Anfavea estima que 70% dos veículos sejam vendidos através de financiamentos.

Reflexo disso, as montadoras anunciam ou ampliam férias coletivas, reduzindo de forma brusca a produção. A GM implementa um segundo período de férias coletivas em São José dos Campos (SP). Segundo o sindicato, a medida atinge de 3 a 4 mil trabalhadores. Além disso, a fábrica abriu um novo PDV (Programa de Demissão Voluntária). A montadora já havia concedido férias coletivas para parte da produção em São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS).

Já a Ford vai paralisar parte da produção em Camaçari (BA), São Bernardo do Campo (SP) e Taubaté (SP) e antecipar as férias de dezembro. Na Zona Franca de Manaus, a produção caiu em 15% e montadoras de motocicletas como Honda e Yamaha, além de outros setores, também recorrem às férias coletivas. O sindicato dos metalúrgicos do Amazonas, filiado à CUT, chegou a fazer a absurda proposta de cancelar os contratos de trabalho, incluído aí os salários, durante quatro meses. Neste período, os trabalhadores receberiam apenas seguro-desemprego. O sindicato fez um apelo por empresas interessadas no “acordo”, mas a resposta foi seca. Mais de 400 demitidos em uma só semana.

O desaquecimento da indústria arrasta o setor de mineração. A Vale reduziu sua produção, anunciou férias coletivas e o fechamento de três minas em Minas Gerais. A Votorantim Metais, grande produtora de zinco e níquel, demitiu recentemente 300 trabalhadores. A crise econômica vai se desenhando rapidamente e assumindo a forma de uma onda de demissões.
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