Desmonte da greve aponta necessidade de construir nova direção para a categoriaA recente greve nacional dos bancários demonstrou o verdadeiro papel da direção sindical da categoria, ligada à corrente petista Articulação. Após ter boicotado o movimento de todas as formas para não prejudicar a reeleição de Lula, a Contraf/CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) e a direção do sindicato de São Paulo foram atropeladas por uma verdadeira rebelião de base. Indignados com a intransigência dos banqueiros e do governo, bancários de todo o país aprovaram greve contra suas direções e foram à luta.

Em várias regiões, os trabalhadores recusaram a direção burocrática da Contraf/CUT, aprovaram em assembléia a destituição do Comando Nacional e elegeram representantes de base para conseguir uma real negociação com os banqueiros. As direções, por outro lado, buscaram um acordo rebaixado com a Fenaban (Federação Nacional dos Bancos) para jogar uma pá de cal na paralisação o mais rápido possível, antes da eleição do segundo turno.

O acordo estabelecido com os banqueiros na última rodada de negociações previa 3,5% de reajuste, o que garante apenas 0,63% de reajuste real para os funcionários de um dos ramos mais lucrativos da economia, além de PLR (Participação nos Lucros e Resultados) que não reflete sequer parte da estimativa de aumento de 40% nos lucros dos bancos este ano. No Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, as propostas ficaram aquém das necessidades dos bancários.

Pelegos “aloprados”
A Contraf/CUT “aloprou” geral nesta greve. Mesmo amargando um profundo desgaste na categoria, os dirigentes cutistas tentaram de tudo para acabar com a paralisação. A falta de democracia e a truculência deram o tom.

No Ceará, um festival de manobras tomou conta da assembléia que reuniu quase 600 bancários no dia 10. Os dirigentes da CUT fizeram nove das dez intervenções e criaram um clima de terror contra a base. Os cutistas, de forma escancarada, diziam: “precisamos ser responsáveis neste momento, pois o que está em jogo não é a nossa campanha salarial. O que está em jogo são os próximos quatro anos. São as nossas vidas. Esta greve não ajuda a campanha de Lula. Quem está favor da greve está com os banqueiros e ajudando a direita”.

Em São Paulo, a direção do sindicato realizou assembléias no dia 10 e conseguiu acabar com a greve nos bancos privados. A paralisação seguiu entre os trabalhadores do BB e da CEF, apesar da ação do sindicato. Na assembléia da CEF, o presidente do sindicato de São Paulo tentou impedir que os bancários elegessem um representante de base para as negociações, desligou o microfone e se retirou para acabar com a assembléia. Mesmo assim, mais de 70% da assembléia permaneceu no local, dando seqüência à votação. No dia seguinte, véspera do feriado do dia 12, a Contraf/CUT, em conluio com a direção do BB e da CEF, montou uma operação para acabar com a greve. Convocaram gerentes e fura-greves para uma assembléia, mesmo não tendo uma nova proposta e, assim, conseguiram o fim da paralisação na região com a maior concentração de bancários no Brasil.

Sem São Paulo na greve, as capitais e os estados que continuavam parados foram voltando ao trabalho. No dia 13 terminou a paralisação em Porto Alegre (RS), Campo Grande (MS), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC) e nos estados de Sergipe, Alagoas, Maranhão e Rio de Janeiro, onde a greve prosseguia nos bancos públicos.

Contraf/CUT não pode mais falar em nome dos bancários!
Mesmo com êxito na operação de desmonte da greve nacional, a direção sindical dos bancários sai deste processo completamente desgastada. Em Alagoas, o presidente do sindicato, emocionado, renunciou à direção da Contraf/CUT e à Comissão de Empresa da CEF, na assembléia do dia 11.

“A traição da Contraf/CUT abre um fosso enorme entre a direção e o movimento, principalmente na CEF e no BB, o que nos permite avançar na construção de uma alternativa nacional”, afirma Wilson Ribeiro, bancário da Caixa e integrante do Movimento Nacional de Oposição Bancária/Conlutas.

Durante toda a greve, a oposição e a Conlutas ajudaram na construção de um pólo combativo em defesa do interesses dos bancários. Estiveram na greve, elegendo representantes de base, forçando a realização de assembléias e lutando contra a burocracia da Contraf/CUT. Agora é hora de dar mais um passo na construção de uma nova direção para dirigir as lutas e negociar em nome da categoria, pois a Contraf/CUT não pode mais falar em nome dos bancários!

Notas sobre a greve

  • Pelegos aloprados
    Na assembléia de São Paulo que debateu se a greve seria de 24 horas ou por tempo indeterminado, o presidente da Contraf/CUT, Vagner Freitas, afirmou que “não iria pautar a continuidade da greve por causa de dois banquinhos”. Os banquinhos em questão eram o BB e a Caixa.

  • Vou de táxi…
    Já na assembléia que o sindicato convocou para acabar com a greve, os aloprados pegaram pesado. A turma do Berzoini pagou táxi, van e até estacionamento para os gerentes votarem contra a paralisação.

  • Não tem ninguém
    No Ceará, a direção do sindicato tentou impedir que a oposição apresentasse um abaixo-assinado recolhido na base exigindo uma assembléia. Apagaram as luzes e trancaram a sede para fingir que não havia ninguém. No entanto, os membros da oposição, aproveitando-se da saída dos funcionários, conseguiram “invadir” o próprio sindicato e discutir os rumos da greve.

  • Indignação
    As assembléias de Maranhão, Salvador, Rio Grande do Norte e Florianópolis aprovaram carta expressando “indignação e profunda decepção com os representantes do Comando Nacional, que têm conduzido a campanha salarial da categoria de forma equivocada e a passos lentos, nunca observados”.

  • Novidade da greve
    Apesar do bloqueio e da completa falta de democracia, a novidade ficou por conta das bases que garantiram a greve e elegeram bancários para um comando de base, a fim de participar das negociações. Foram eleitos representantes no Rio Grande do Norte, na Bahia, em Florianópolis e em Bauru (SP). Para as negociações do BB e da CEF, foram eleitos bancários no Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

  • Alternativa
    No texto de avaliação da greve, o secretário de comunicação do Sindicato dos Bancários do Maranhão, Davi Sá Barros, afirma que “de todos os obstáculos comuns a uma campanha salarial, (…), nenhum foi maior que a alta traição do pseudo-comando nacional dos bancários em 2006. Por tudo isso, proponho aos homens e mulheres de bem para nos empenharmos em montar uma associação, uma federação intersindical ou coisa parecida, de modo que tenhamos um comando que não a Contraf e a Contec (…)”.

    Post author Diego Cruz, da redação, e André Valuche, de São Paulo
    Publication Date