Redação

No dia 12 de junho, o Brasil ultrapassou o Reino Unido no número de mortes pela COVID-19, subindo para o 2º lugar deste ranking macabro, atrás somente dos Estados Unidos. Naquele dia, o país ultrapassou as 41 mil mortes notificadas. Até o momento, já são quase 45 mil.

Nesse ritmo, a projeção da Universidade de Washington, referência utilizada pelo governo estadunidense, aponta que passaremos os EUA no dia 27 de julho, com um total de 137 mil mortes. Como todo cálculo matemático, ele parte de vários pressupostos e da situação na qual foi elaborado. Ou seja, se a epidemia piorar, e a ação dos governos caminham para isso, podemos superar os EUA bem antes.

Estados capitulam ao genocídio de Bolsonaro

De um lado, temos o governo Bolsonaro e seu discurso que, desde o início, minimiza a pandemia, debocha das mortes e pressiona pela reabertura da economia, boicotando qualquer medida de isolamento. De outro, temos governadores, seguidos pelos prefeitos, que agora determinam a volta ao trabalho no momento em que nos aproximamos do pico da pandemia, que se alastra de forma feroz pelas periferias. Antes disso, também não realizaram uma quarentena real, fechando os setores não essenciais e garantindo condições para que as pessoas ficassem em casa.

Liderado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), esse movimento de flexibilização da quarentena ou “quarentena inteligente” (maneira bonita de chamar o liberou-geral) é comparado por especialistas com mandar o povo ao abatedouro, como exemplificou o professor do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da USP, Domingos Alves. Não é difícil entender a razão. Um levantamento da USP e da Fundação Getúlio Vargas mostra que, se o estado continuasse em sua quarentena ainda que parcial, teríamos 14,6 mil mortes até o dia 8 de julho. Abrindo tudo como faz Doria, esse número pula para quase 25 mil.

Nos momentos iniciais da crise, os governadores tentaram se diferenciar da política abertamente genocida de Bolsonaro, mas nunca impuseram uma quarentena de verdade. Liberaram o funcionamento dos setores não essenciais, transformando as fábricas em focos de contaminação (veja o box na página seguinte), mantiveram os transportes públicos lotados e não garantiram condições para que a população das periferias pudesse fazer isolamento. Na capital paulista, o prefeito Bruno Covas (PSDB) manteve as reintegrações de posse, despejando famílias inteiras nas ruas em plena pandemia.

Governadores e prefeitos estão literalmente tirando as máscaras. Pressionados por grandes empresários e banqueiros, acabam com a quarentena frouxa, mentindo à população com o argumento de que se baseiam em critérios técnicos e científicos. É praticamente consenso entre os epidemiologistas que este não é o momento de abrir, mas de fechar mais.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) determina a volta gradual quando os casos de contaminação e de mortes se reduzem de forma sustentada por pelo menos duas semanas, situação que não existe em nenhuma região do país. Mas os governadores se apoiam na subnotificação e nos números maquiados para impor a reabertura completa, atendendo à pressão dos capitalistas. Ainda culpam de forma hipócrita a população pelas aglomerações, ao mesmo tempo em que nada fazem para que o povo possa ficar em casa.

Fonte: USP e FGV

 

CAPITALISMO MATA
Em todo o mundo, pandemia mostra o lucro acima da vida

Em nenhum lugar do mundo está sendo implementada uma política genocida tão explícita quanto no Brasil. No entanto, em vários outros lugares em que a COVID-19 ainda não está controlada, os governos também cedem à pressão dos grandes empresários e banqueiros em detrimento da vida da população.

Nos EUA, país que ainda lidera o número de mortes, o presidente Donald Trump e os governadores reabrem a economia antes de a pandemia ter sido freada e já assistem ao crescimento do número de casos e mortes. A população negra, pobre e latina é a mais afetada.

A Índia, que chegou a ter a maior quarentena do mundo, reabriu em junho e agora figura em quarto lugar no número de infectados, atrás só dos EUA, do Brasil e da Rússia. Aqui na América Latina, o presidente dito progressista do México, López Obrador, depois de insistir no negacionismo à la Trump e Bolsonaro, foi obrigado a adotar medidas de quarentena, ainda que frouxas. Porém logo reabriu o país, sobrecarregando os hospitais.

Situação ainda mais grave ocorre no Chile, que começou sua reabertura ainda em maio. O governo de Sebastián Piñera, a fim de proteger os lucros, determinou a reabertura e viu o número de casos explodir, tendo hoje o maior número de casos per capita do continente.

 

CRIMINOSO
Bolsonaro tenta censurar números para esconder genocídio

No início, era uma gripezinha. Com o aumento da pilha de mortos pelo novo coronavírus e o Brasil galgando o ranking mundial da pandemia, Bolsonaro mudou sua tática e resolveu torturar os números oficiais para que falem o que ele deseja. Ordenou a mudança nos critérios de divulgação diária dos números, a fim de esconder os mortos debaixo do tapete, e o seu ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, atendeu.

Em vez da soma total do número de casos confirmados de COVID-19, como ocorria antes, o governo ordenou a divulgação somente das mortes ocorridas no próprio dia. Por exemplo, em muitos casos, a confirmação de testes demora cinco dias, uma semana ou até mais, de modo que o número divulgado de óbitos no dia é a soma do resultado desses testes (como ocorre nos outros países). Quando o país ultrapassou a marca da confirmação de mil mortes por dia, Bolsonaro mandou mudar esse sistema.

O caso foi mais um escândalo internacional ao mostrar o desprezo e o caráter autoritário desse governo em meio à mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, expediu liminar mandando o governo voltar ao sistema antigo de divulgação. Mesmo assim, por meio da sua Secretaria de Comunicação, o governo esconde como pode as informações, destacando o número de recuperados, a fim de distorcer a tragédia e o morticínio a que submete a população.

A realidade é bem pior

Desde a chegada da COVID-19 ao Brasil, a subnotificação foi a constante, jogando o número real de mortos e contaminados para debaixo do tapete. Hoje, calcula-se que, para cada dez pessoas que entram nos números oficiais de óbitos por coronavírus, outras oito entram para outra estatística: a da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Essa informação é levantada pelo InfoGripe da Fiocruz, criado para monitorar o número de mortes por gripe comum. Acontece que, este ano, o número de mortes por problemas respiratórios sem causa definida explodiu, sendo 13 vezes maior que no ano passado.

E qual o maior problema disso? São esses dados subnotificados que são usados como justificativa para a reabertura de comércios e shoppings e para as aglomerações no transporte público.

 

 

OU REDUZIR À METADE
Governo ameaça acabar com auxílio emergencial

Se no início da pandemia Bolsonaro queria pagar um auxílio emergencial de R$ 200 apenas, sendo obrigado a aceitar os R$ 600, valor ainda absolutamente insuficiente, agora ameaça reduzir à metade ou simplesmente acabar com tudo.

“Na Câmara, por exemplo, vamos supor que chegue uma proposta de duas de R$ 300, se a Câmara quiser passar para R$ 400, R$ 500 ou voltar para R$ 600, qual vai ser a decisão minha? Para que o Brasil não quebre? Se pagar mais duas de R$ 600, vamos ter uma dívida cada vez mais impagável. É o veto”, disse em sua live semanal do dia 11 de junho. Dessa forma, o governo quer pagar só mais duas parcelas de R$ 300 do auxílio.

Por outro lado, o governo, e Paulo Guedes, quer estender por mais quatro meses a suspensão dos contratos de trabalho, além de impor a carteira verde e amarela.

O governo impõe, assim, a fome e a miséria ao conjunto da população, forçando a volta ao trabalho e expondo a classe trabalhadora ao vírus. Ainda se aproveita da pandemia para retirar mais direitos. Na escolha entre matar de fome ou de COVID-19, Bolsonaro escolheu os dois.

 

LUCRO ACIMA DE TUDO
Fábricas viram foco de contaminação

No último dia 13 de junho, o operário da Imbel, estatal de material bélico em Itajubá (MG), Raimundo Lourenço Simões, morreu vítima da COVID-19. Apesar de ter sido internado uma semana antes, a empresa não comunicou o conjunto dos trabalhadores sobre o caso e o perigo de contaminação, colocando centenas de operários em risco.

Casos como esse se multiplicam país afora. As vidas dos trabalhadores, de suas famílias e da população são colocadas em risco em nome do lucro. A fábrica da JBS em Caxias do Sul (RS), por exemplo, só parou quando a Justiça do Trabalho mandou, após a confirmação de 21 trabalhadores portadores de COVID-19, com dois hospitalizados.

Caso parecido ocorreu na fábrica do mesmo grupo em Santa Catarina. Uma unidade da Seara, na cidade de Ipumirim, contou 86 casos confirmados, quase 5% dos 1.500 trabalhadores do local. Já numa fábrica da Alpargatas em Campina Grande (PB), pelo menos 30 operários ficaram doentes.

Na região de São José dos Campos, no Vale do Paraíba (SP), são 15 casos confirmados e 17 suspeitos em fábricas metalúrgicas. Por isso o sindicato, filiado à CSP-Conlutas, luta pela imposição da quarentena geral dos serviços não essenciais e está na campanha pelo fora Bolsonaro e Mourão.

 

DITADURA NUNCA MAIS! NÃO AO RACISMO!
Fora Bolsonaro e Mourão

Manifestações contra o governo e o racismo se espalham pelo país

No dia 31 de maio, setores de torcidas organizadas de times como Corinthians e Palmeiras foram às ruas da capital paulista protestar contra o governo Bolsonaro e o racismo. Foi um grito de “basta” contra o genocídio perpetrado por Bolsonaro, seus sistemáticos ataques e ameaças às liberdades democráticas, assim como os assassinatos em série praticados pela Polícia Militar, como o do menino João Pedro. A manifestação foi reprimida com violência pela polícia, mas isso não impediu que se espalhasse pelo país nos dias seguintes.

Embaladas pelos protestos que se irradiaram a partir dos EUA contra o assassinato de George Floyd, no domingo seguinte as manifestações ocorreram em pelo menos 20 capitais, reunindo o movimento negro, sindical e popular, além de jovens da periferia e trabalhadores precarizados, como os entregadores de aplicativos.

As manifestações seguem ocorrendo, conquistando apoio popular à medida em que o desgaste e o ódio ao governo se aprofundam e as manifestações da ultradireita pró-ditadura minguam.

Desde o início, o PSTU esteve presente nos atos, defendendo que os protestos assumam as reivindicações da classe trabalhadora e do povo pobre, como uma quarentena de verdade com garantia de emprego e renda e apoio ao pequeno negócio; a luta contra o racismo e a defesa das liberdades democráticas; e, sobretudo, fora Bolsonaro e Mourão!

Lamentavelmente, dirigentes e partidos da esquerda parlamentar criticaram os protestos alegando se tratarem de provocações ao bolsonarismo, que se utilizaria deles para dar um golpe no país. Provocações são justamente as manifestações apoiadas por Bolsonaro que defendem ditadura. Sem resistência, Bolsonaro vai esticando a corda para sufocar as liberdades democráticas e continuar impondo seu projeto de genocídio e fome.

O governador do Ceará, Camilo Santana, do PT, reprimiu o protesto em seu estado, justificando-se de forma hipócrita, dizendo que haveria um decreto contra aglomerações. Ao mesmo tempo, ele comanda a reabertura num dos estados mais afetados pela COVID-19. É a mesma situação no Pará de Helder Barbalho (MDB).

É preciso avançar a mobilização, unindo as manifestações num dia unificado de lutas que possa abarcar os trabalhadores que estão sendo obrigados a trabalhar, para que possam protestar nos locais de trabalho, nas ocupações e na periferia, juntando-se ainda a panelaços massivos, protestos nas janelas com panos pretos etc.

 

PLANO DE EMERGÊNCIA
Quarentena geral já, com emprego e renda!

Não adiantam as mentiras propagadas por Bolsonaro e reproduzidas pelos governos estaduais e municipais. A situação não está melhorando, e o número de mortes só aumenta. A única solução possível para conter essa crise é a quarentena geral, parando todo o serviço não essencial e garantindo os empregos e a renda de trabalhadores, desempregados e informais, com todas as condições para que as pessoas possam ficar em casa e para que a população, sobretudo os mais pobres, tenha direito a pleno acesso aos serviços de saúde.

  • Parar tudo o que não for essencial, com garantia de emprego e renda.
  • Pagar os R$ 600 para todos até o surgimento da vacina e aumentar esse valor para 2,5 salários mínimos.
  • Realizar testes massivos para todos! O Brasil tem apenas 7,6 testes para cada 1 milhão de pessoas, estando no 113º lugar nesse quesito, atrás de países como Gana, Palestina, Iraque e Nepal. É preciso colocar toda a estrutura de laboratórios privados a serviço do Estado para garantir a universalização dos testes.
  • Implementar a fila única de leitos, centralizada pelo SUS, sem mediação de empresas privadas ou organizações sociais metidas em corrupção. Só dessa forma será evitado o colapso da saúde, com os pobres morrendo sem respirador enquanto o rico tem condições de se tratar.
  • Garantir isolamento social nas periferias, requisitando imóveis vazios e hotéis.
  • Conceder crédito para o pequeno negócio, isenção de impostos e garantia do pagamento dos salários dos funcionários dos negócios com até 20 trabalhadores.
  • Isentar desempregados e informais do pagamento de luz, água e aluguel.

 

De onde tirar esses recursos para o Plano de Emergência?

Dinheiro tem, como bem mostrou o governo ao conceder R$ 1,2 trilhão aos bancos no início da pandemia. Basta atacar os lucros dos bancos e das grandes empresas.

  • Suspensão do pagamento da dívida aos bancos: todo o ano o governo paga R$ 1 trilhão de juros e amortizações dessa falsa dívida.
  • Requisitar o lucro de um ano dos 5 maiores bancos: só em 2019, foi de R$ 102 bilhões.
  • Usar os US$ 350 bilhões da reserva internacional que hoje servem à especulação.

 

COMO GARANTIR ISSO
Luta, mobilização e auto-organização

  • Para enfrentar a pandemia, é necessário mobilização para tirar Bolsonaro e Mourão, que boicotam o combate ao vírus.
  • Fomentar a auto-organização popular nas periferias e ações de solidariedade, como ocorrem hoje em Paraisópolis e na Brasilândia em São Paulo (SP).
  • Parar as fábricas e locais de estudo que estejam funcionando.
  • É preciso um plano de mobilização geral que envolva o movimento de massas, com assembleias, “dias de luto” ou de “cor”, que todos vão trabalhar adesivados, panelaços com panos pretos nas janelas, somados aos protestos contra o governo, rumo à construção de um dia de paralisações. É preciso parar tudo em defesa da vida, do emprego, do salário e da renda de modo que todos possam fazer isolamento social.