Da redação

A crise que ameaça implodir o PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro e de seus filhos, e respingar para todos os lados, mostra muito mais do que uma briga para colocar as mãos no fundo partidário de mais de R$ 400 milhões da sigla. O arranca-rabo com direito a baixarias e trocas diárias de impropérios foi desencadeado por uma tentativa desesperada de Bolsonaro e família de se afastarem de mais um escândalo de corrupção.

O estopim foi a reportagem publicada pela Folha de S.Paulo no dia 6 de outubro revelando indícios de que o laranjal do PSL em Minas Gerais irrigou não só as candidaturas do partido no estado, mas a do próprio Bolsonaro. Um depoimento à Polícia Federal e uma planilha apreendida numa gráfica mostram um esquema de candidaturas laranjas que financiavam as campanhas de Bolsonaro e do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

A insistência de Bolsonaro em manter o ministro, cujo assessor chegou a ser preso por conta desse esquema, já sugeria que o presidente tinha medo do que poderia aparecer e que o melhor seria abafar tudo. As novas revelações, porém, o convenceram de que a sujeira apareceria mais cedo ou mais tarde e era preciso se distanciar do PSL, restringindo a corrupção ao partido.

Bolsonaro e o presidente do PSL, Luciano Bivar, começaram a trocar farpas pela imprensa. Bivar “está queimado pra caramba lá e vai queimar meu filme também”, disse Bolsonaro a jornalistas. Por coincidência, pouco tempo depois, a Polícia Federal realizou mandados de busca e apreensão nos endereços do chefão do PSL. A ação provocou uma escalada na crise e no racha do partido, cujos parlamentares se dividiram em dois: os bolsonaristas e os fiéis a Bivar.

Uma gravação em que Bolsonaro aparece orientando deputados a destituírem o então líder do partido na Câmara, Delegado Waldir (PSL-GO), acirrou mais ainda os ânimos. A resposta veio em outra gravação, desta vez com a voz do próprio deputado: “Eu vou implodir o presidente, aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação dele. Não tem conversa, eu implodo o presidente, cabô cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo, cara. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades gritando o nome desse vagabundo.” A conversa foi gravada escondida e divulgada por outro deputado do PSL, Daniel Silveira, do Rio, aquele mesmo que quebrou a placa da Marielle na campanha do Witzel. Tudo “gente boa”.

QUADRILHA
Na porta do inferno, não há inocentes

O que a imprensa vem chamando de “racha no PSL”, na verdade é uma briga de bandidos, milicianos e corruptos, por grana e para se safarem dos escândalos que já apareceram ou que vão aparecer ainda. Porém essa briga mostra ao povo a real cara desse governo, que se elegeu com dinheiro da corrupção, e do partido que reuniu uma verdadeira quadrilha para apoiar Bolsonaro e se eleger.

É um degrau a mais na crise política, no principal partido que servia como base do governo, o que deve dificultar ainda mais a vida de Bolsonaro no futuro. E mais ainda, o caráter de gangue do PSL dá um elemento explosivo à disputa. O Delegado Waldir pode soltar a tal gravação de Bolsonaro. Ou o deputado Daniel Silveira, ameaçado por processo no Conselho de Ética pelo próprio PSL pela gravação clandestina no gabinete de Waldir, pode cumprir a ameaça que fez: “Garanto que não estão acostumados com alguém como eu. Tenho muita coisa para foder o parlamento inteiro. Eu vou bagunçar o coreto de todo mundo, vou sacudir o Brasil.

Bolsonaro atua como um bombeiro tentando estancar o vazamento de uma represa com o dedo. Faz acordão com Toffoli para salvar o filho Flávio. Agora, tenta separar-se do partido e dos esquemas que o elegeram. Resta saber quando a água vai transbordar.

FÁBRICA DE FAKE NEWS
A milícia digital de Bolsonaro

Que Bolsonaro construiu sua vida política e seu patrimônio na base da corrupção, usou caixa 2 na campanha e mantém uma rede profissional para espalhar fake news pode não ser novidade para ninguém. Mas a bagunça no PSL está revelando detalhes desse esquema. Em entrevista ao UOL, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) afirmou que Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro têm funcionários para alimentar uma rede com 1.500 perfis falsos em redes sociais, uma milícia digital para defender o governo e atacar opositores.

Trata-se de gente paga dos gabinetes dos filhos de Bolsonaro e, mais ainda, funcionários que atuariam dentro do próprio Palácio do Planalto. “Os cérebros do processo estão ligados e tem gente do gabinete do Eduardo, do Carlos e do Flávio – além de um grupo que fica produzindo material lá dentro do Palácio mesmo, dentro do Palácio do Planalto”, afirmou a deputada.