Antes de mais nada quero deixar claro que votei no “Não!”, como fizeram cerca de 70% dos “Parauras”. Isto quer dizer que vencemos?

De frente para a urna eletrônica, entre um “Confirme” e outro, a minha angústia era: como os trabalhadores e o povo pobre das regiões, sul, sudeste e do Pará vão nos interpretar?

Quero dizer-lhes que nos dois dias que antecederam o plebiscito, eu perambulei com uma pessoa de 70 anos, entre o pronto socorro de Ananindeua, o da 14, em Belém, e o do Guamá em busca de um diagnóstico para a enfermidade dela. Bem, vocês sabem o que ocorre naqueles corredores cheios de macas, gemidos, e uma espera sempre interminável por um heróico profissional de medicina, que precisa fazer das luvas uma liga pra amarrar os braços dos pacientes visto que até esse produto acabou no PSM (Posto de Saúde Municipal).

De frente para urna essas cenas me vieram a cabeça. O rosto dos enfermos, a tosse, o calor e o empenho e a dedicação da maior parte dos enfermeiros, técnicos e médicos. As cenas eram sequênciais: a ambulância de Ananindeua levando minha mãe pra 14, os corredores da 14 e as 3 horas de espera sem conseguir o devido atendimento e, por fim, minha mãe deitada em um banco de madeira no corredor do PSM do Guamá.

Pois bem, eu que já tinha uma opinião política contra a divisão do Estado. Por isso, apertei com mais convicção ainda duas vezes 55. Por que? Porque sei que grande parte dos trabalhadores tados seu sofrimento cotidiano diminuiria, especialmente nas áreae da juventude pobre das regiões do Tapajós e de Carajás e mesmo da grande Belém votaram 77, não exatamente pela divisão, mas nutridos pela esperança de que tendo os seus próprios Ess da Saúde, Educação, Moradia e emprego.

Os políticos tradicionais das duas frentes, contra e a favor, não tomaram suas posições pensando como nós pensamos, até porque eles não sentem na pele as mesmas consequências que nós. Eles foram movidos por outros interesses, o de se manterem no poder. E junto com os ricos, fazendeiros e empresários que financiam suas campanhas, nos usam, nos desrespeitam e se aproveitam dessas dificuldades, que eles mesmos nos impõem, para discursarem e chafurdarem naquilo que eles mais sabem desenvolver, a hipocrisia!

É por isso que o que nós vimos foram políticos, muitas vezes de um mesmo partido, defendendo coisas diferentes, conforme sua implantação eleitoral e seus projetos corruptos, econômicos e financeiros. Não, não sobre a nossa desgraça!

A maioria do nosso povo manteve o Pará unido e agora temos um outro desafio: temos que exigir a verdadeira divisão que interessa a quem vive do seu trabalho, com honra e honestidade. O que precisa ser dividido é a riqueza que nós produzimos e que eles, os fazendeiros e os grandes empresários, se apropriam e, com apoio desses políticos corruptos, não nos deixam nem sequer o direito a um leito de hospital, seja na região de Carajás, Tapajós ou na Grande Belém.

É difícil de entender, mas é como se concluíssemos que o “Não” ganhou e de algum modo nós os derrotamos, mas como estamos jogando no jogo deles (com as regras deles) trata-se de uma vitória momentânea e incompleta. É preciso defender a divisão de nossas riquezas entre todos nós e isso eles nunca fizeram, nem mesmo na Grande Belém e muito menos nas regiões do Carajás e Tapajós, e não vão fazer. Essa terá de ser uma tarefa nossa, de nossa classe, a classe trabalhadora e, não tenha dúvidas, não será feita com eles e sim contra eles.