Como dizia Chico Science, nesse país, “os de cima sobem e os de baixo descem”. Isso acontece mesmo num simples ato rotineiro como o de acender a luz em casa. Um trabalhador que ganha um salário mínimo paga um valor maior no preço de custo da energia para dar enormes lucros aos grupos empresariais que privatizaram as estatais elétricas. Enquanto isso, as grandes empresas que consomem muita energia elétrica pagam oito vezes menos que esse trabalhador pobre.

Quando um operário ou um professor deixa de pagar a prestação de uma casa, pode perdê-la. Com os banqueiros não acontece isso. Os bancos centrais de todo o mundo injetaram quase U$ 400 bilhões nos bancos e fundos em crise para evitar que tudo desabasse. Os banqueiros conseguem as mais altas taxas de lucros na fase de crescimento da economia e, quando estão para quebrar, recebem uma ajuda gigantesca dos governos. Essa quantidade de dinheiro desviada para os bolsos de banqueiros semifalidos é igual à metade de tudo o que é produzido no Brasil anualmente ou à soma dos PIBs anuais de Venezuela, Colômbia e Argentina juntos.

Hoje, ainda na fase de crescimento da economia, a “prosperidade” não existe para os trabalhadores. No máximo algum eletrodoméstico comprado a prestações. Ou a reforma da casa, com um mutirão de familiares e amigos, para abrigar o crescimento da família. Já para a grande burguesia, os sinais de enriquecimento são escandalosos. São Paulo é o segundo mercado de helicópteros do mundo. As lojas de roupas de grife para a alta burguesia vendem vestidos por R$ 15 a R$ 20 mil reais.

Mas, na economia capitalista, depois da fase de crescimento vem a crise. Nas últimas três semanas, um vendaval sacudiu o mercado financeiro internacional, anunciando a próxima crise cíclica. Os governantes fazem declarações tranqüilizadoras em público, e depois rezam fervorosamente nos bastidores para que a instabilidade passe.

Não se sabe neste momento a dinâmica imediata da crise. Pode ser que seja detida temporariamente, pode ser que siga se aprofundando. O que se pode garantir é que o vendaval atual prenuncia um grande furacão. Não por acaso, a instabilidade atual começou a partir do mercado imobiliário dos EUA, o coração do imperialismo, e não num país semicolonial. A crise cíclica do capitalismo já anunciada terá pesadas conseqüências em todo o mundo.

Porém, mais uma vez, a carga maior da crise recairá sobre os trabalhadores. O desemprego e o arrocho salarial aumentarão, enquanto os grandes empresários terão toda a ajuda necessária do governo Lula.

Já agora, como medida preventiva para a crise, Lula anunciou sua disposição para acelerar a reforma da Previdência, questionando, na prática, o direito de aposentadoria dos trabalhadores.

O governo Lula não imporá essas reformas sem luta. Já não vivemos a situação do primeiro mandato, em que a CUT e a UNE puderam impedir muitas das mobilizações contra o governo.

Em setembro, vamos ter uma primeira amostra dessa disposição de luta. Na semana da pátria, ajude a organizar a mobilização contra as reformas. A Conlutas, o MST e setores da Igreja estão organizando um grande Plebiscito Popular, para que a população possa se manifestar contra o alto custo da energia elétrica – retratada nas páginas centrais do Opinião Socialista nº 311 –, a reforma da Previdência, o pagamento das dívidas interna e externa e pela reestatização da Vale do Rio Doce.

Ajude a organizar o plebiscito na base de seu sindicato, entidade popular ou estudantil, no seu bairro ou local de trabalho. Temos apenas mais duas semanas para garantir um grande plebiscito.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 311
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