O governo, os grandes empresários e a mídia burguesa comemoraram com enorme euforia a notícia veiculada há poucos meses de que o Brasil havia se tornado a 6ª maior economia do mundo, com um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 4,1 trilhões de reais, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e França.

Mas o que essa notícia significou em termos de mudanças reais na vida do trabalhador brasileiro? Houve uma elevação geral nos salários dos trabalhadores? O povo pobre deixou de ser humilhado nas filas dos postos de saúde, dos prontos-socorros, dos ônibus, trens e metrôs lotados? E a educação pública? Está gozando de ensino de qualidade, infraestrutura adequada nas escolas e professores valorizados? E onde está morando a maioria da população da 6ª maior economia do mundo? Em bairros planejados com moradia digna, barata e com atendimento de rede de esgoto, abastecimento de água e coleta de lixo?

O fato é que, apesar do Brasil ser a 6ª maior economia do mundo, nosso país é o 84º país no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), segundo a pesquisa do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) de 2011, que envolveu 187 países.

A desigualdade e as injustiças sociais são tão alarmantes em nosso país que os 10% mais ricos da população brasileira ficaram com 44,5% do total de rendimentos produzidos, segundo o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2010. Enquanto isso, os 10% mais pobres ficaram com apenas 1,1%.
No que se refere ao rendimento médio mensal domiciliar, o Censo do IBGE de 2010 revelou que os 10% mais ricos ganhavam R$ 9.501, enquanto as famílias mais pobres viviam com apenas R$ 225 por mês. Enquanto o rendimento médio no grupo do 1% mais rico era de R$ 16.560,92, metade da população recebeu mensalmente, em 2010, valores menores que R$ 375. Os dados valem para a população de 101,8 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais de idade e que receberam algum tipo de rendimento em 2010. A renda média mensal apurada foi de R$ 1.202. Levando-se em conta os habitantes de todas as idades, o IBGE calculou a renda média mensal per capita eme R$ 668.
É um absurdo que na 6ª economia do mundo o salário mínimo seja de R$ 622 e os parlamentares reajustem seus próprios salários em mais de 60%, passando a ganhar mais de R$ 20 mil por mês.

Hoje o salário dos trabalhadores é uma miséria, enquanto os lucros dos empresários são enormes. Conheço bastante a construção civil, o setor em que trabalho. É um duro exemplo da injustiça social no Brasil, por ocupar cerca de 10% de todo o mercado de trabalho e ser um dos setores em maior expansão no país. Os salários dos trabalhadores representam apenas 5% do faturamento das empresas, mostrando a origem dos enormes lucros dos patrões. Além disso, dois terços não têm carteira assinada, sem nenhum direito trabalhista.

Não há interesse por parte dos governantes em aumentar os salários, porque eles governam junto com as grandes empresas. E os governos também atuam com o mesmo critério: os gastos com o funcionalismo municipal da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, chegam a somente 33% do orçamento da cidade, bem abaixo dos 60% que são permitidos pela famigerada Lei de Responsabilidade Fiscal. Em Belém, a prefeitura utiliza somente 34,9% de seus recursos com o funcionalismo. Esses dados se repetem na maioria das capitais do Brasil.

Em relação ao funcionalismo público federal, apenas 4% do PIB é gasto com os salários dos servidores. Além disso, outra parte do dinheiro público que poderia ser utilizado para aumentar os salários e combater a desigualdade, vai parar no ralo da corrupção desse sistema podre em que os empreiteiros mandam nos políticos.

Opressão e a exploração caminham juntas
A desigualdade social, que é fruto da exploração capitalista, mostra sua face mais cruel quando se combina com o preconceito racial ou de gênero. A prova de que ainda existe racismo e machismo em nosso país se dá quando comparamos os rendimentos médios dos setores oprimidos. No Brasil, os rendimentos médios mensais dos brancos (R$ 1.538) e amarelos (R$ 1.574) se aproximaram do dobro do valor relativo aos grupos de pretos (R$ 834), pardos (R$ 845) ou indígenas (R$ 735).
Em relação à desigualdade de gênero, na 6ª maior economia do mundo os homens recebem em média 42% mais que as mulheres (R$ 1.395, ante R$ 984), e metade deles ganha até R$ 765, cerca de 50% a mais do que metade das mulheres (até R$ 510), segundo essa mesma pesquisa do IBGE.

Os empresários e os governantes se aproveitam de ideologias como o machismo e o racismo para aumentar o grau de exploração sobre mulheres e negros e manter os salários rebaixados.

Todo apoio ás greves
Nós trabalhadores estamos lutando em defesa de nossos salários, com as greves que estão ocorrendo em todo o país. Na construção civil tivemos duras mobilizações em Jirau, Belo Monte, Comperj, nos estádios em construção para a Copa e, também em Fortaleza. O setor de transportes parou em várias capitais com destaque para a greve do metrô em São Paulo. O funcionalismo público federal está protagonizando uma greve radicalizada que tende a se expandir além das universidades, junto com a juventude.
No segundo semestre vão ocorrer campanhas salariais em metalúrgicos, bancários e petroleiros. O PSTU apoia todas essas mobilizações e dedicará seu tempo de TV na campanha eleitoral para apoiar as greves.

*Operário da construção civil de Belém do Pará, Cleber Rabelo já esteve à frente do sindicato da categoria dirigindo muitas greves. Foi também o candidato ao governo do estado pelo PSTU nas eleições passadas