Além de sub-avaliar as estatais antes de colocá-las em “leilão”, o governo ajudou de todas as formas os “compradores” (veja quadro abaixo). Assim, antes de vender as empresas de telefonia por uma entrada de R$ 8,8 bilhões, foram investidos R$ 21 bilhões no setor. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) foi comprada por R$ 1,05 bilhão, dos quais R$ 1,01 bilhão em moedas podres vendidas pelo BNDES e financiadas em 12 anos. O governo também aumentou até 500% as tarifas de empresas de serviços antes que estas fossem privatizadas. Ficaram com o Estado dívidas de várias das ex-estatais e encargos sociais, como a transferência para a folha de pagamento do Estado de São Paulo dos 50 mil aposentados da Fepasa. Tudo isso garantiu lucro aos “compradores”, que hoje propagandeiam a eficiência da gestão privada nas ex-estatais.
Os principais beneficiários das privatizações foram empresas estrangeiras, em particular os grandes conglomerados transnacionais. Com a entrada do setor privado nos serviços públicos, segundo Márcio Pochmann, as empresas estrangeiras tornaram-se responsáveis, em 1999, por 42% do total das vendas. No setor financeiro, enquanto a participação do Estado caiu de 58,9% em 1989 para 35,6% em 99, a do setor privado estrangeiro subiu de 6% para 29,6%.
O capital internacional entrou como parte fundamental nas privatizações, mesmo como sócio minoritário em algumas empresas. Isso significa que boa parte do lucro gerado pelas ex-estatais não fica no Brasil, mas é enviado para as matrizes no exterior. No início da década de 90, as multinacionais instaladas no país remetiam ao exterior cerca de US$ 700 milhões por ano. Em maio de 1999, essas remessas chegaram a US$ 580 milhões… Em um único mês.
Segundo o Banco Central, as remessas de lucros e dividendos ao exterior chegaram a US$ 4,9 bilhões em 2001. Segundo denúncia publicada na Folha de S. Paulo de 12 de maio, as empresas de energia e telecomunicações endividaram as privatizadas com empréstimos no exterior. E usaram os recursos para pagar seus acionistas.
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