Alimentos geneticamente modificados já podem ser plantados no Brasil e são apresentados como solução para aumentar a produção de alimentos. Transgênicos, cuja tecnologia está nas mãos do imperialismo, podem trazer prejuízos À saúde e ao meio ambiente

Da mesma forma como a chamada “Revolução Verde”, que tinha como tema a campanha “Alimentos para o Mundo” na década de 70, os alimentos transgênicos começam a ser propagandeados como forma eficaz de combate a fome. Contudo, a “Revolução Verde” não passou de uma estratégia dos EUA e de outros países imperialistas para vender armas químicas e equipamentos de guerra. Durante e depois da Segunda Guerra, os países imperialistas investiram milhões na indústria bélica e química, e estimularam o uso desses produtos na agricultura para baratear os custos de produção. Com a desculpa de produzir alimentos para “matar a fome no mundo” implementaram um dos maiores programas de rapinagem ao terceiro mundo. Esta política causou danos trágicos no meio ambiente, na economia e principalmente ao povo pobre do campo.

No Brasil, este programa foi totalmente abraçado pela ditadura. Suas conseqüências foram danosas, com elevação da concentração da posse da terra, expulsão em massa dos pequenos agricultores que não conseguiam se adaptar ao “novo” modelo, inchaço das grandes cidades, destruição do meio ambiente, entre outras.

Atualmente, os transgênicos são a grande vedete para produzir mais alimentos. De acordo com o Ministério da Agricultura, a assinatura da MP-131, que libera o plantio de soja transgênica este ano, “favorece cerca de 150 mil pequenos produtores rurais do Rio Grande do Sul”. Uma desculpa para beneficiar quem realmente ganhará – os grandes produtores e a multinacional Monsanto, que detém a patente da semente de soja e do herbicida Roundup Ready, usado para combater plantas “invasoras”.

Genes de escorpião na comida

Os transgênicos são plantas criadas em laboratório com técnicas da engenharia genética que permitem “cortar e colar” genes de um organismo para outro, mudando a forma do organismo e manipulando sua estrutura natural a fim de obter características específicas. Não há limite para esta técnica e são possíveis combinações inimagináveis, como animais com plantas e bactérias.

Os alimentos mais importantes do mundo são o grande alvo da engenharia genética. Muitas variedades já foram criadas em laboratório e outras estão em desenvolvimento. O cultivo irrestrito e o marketing de certas variedades de tomate, soja, algodão, milho, canola e batata já foram permitidos nos EUA. O plantio comercial intensivo também é feito na Argentina, Canadá e China. Na Europa, a autorização para comercialização foi dada para fumo, soja, canola, milho e chicória. De fato, estima-se que aproximadamente 60% dos alimentos processados contenham algum derivado de soja transgênica e que 50% tenham ingredientes de milho transgênicos.

Os cientistas já introduziram genes de bactérias, escorpião e água-viva em alimentos cultiváveis. Os testes de segurança sobre estes novos alimentos até agora têm sido extremamente inadequados. Os riscos são reais. Os alimentos oriundos de cultivos transgênicos poderiam prejudicar seriamente o tratamento de algumas doenças. Isto ocorre porque muitos cultivos possuem genes de resistência antibiótica. Se o gene resistente atingir uma bactéria nociva, pode conferir-lhe imunidade ao antibiótico, aumentando a lista, já alarmante, de problemas médicos envolvendo doenças ligadas a bactérias imunes. Também há evidências de que os cultivos transgênicos podem criar um potencial aumento de alergias. O laboratório de York constatou que as alergias à soja aumentaram 50% no Reino Unido, depois da comercialização da soja transgênica.

Do ponto de vista ambiental, os danos podem ser grandes: hibridação de espécies nativas com plantas transgênicas, repassando a característica para outra espécie, ao acaso. O principal risco é da transmissão de resistência a substâncias químicas, tipo herbicidas, podendo gerar pragas resistentes.

Além do prejuízo dos transgênicos do ponto de vista da saúde e meio ambiente, o debate a ser feito pelos trabalhadores, em especial os do campo, diz respeito às conseqüências imperialistas do uso desta tecnologia. Quem detém a tecnologia sobre os transgênicos? Quem possui a patente do herbicida usado na soja transgênica? Quem será beneficiado com a liberação dos transgênicos?

A liberação dos transgênicos é parte do processo de reformas em direção à Alca, e o governo Lula com essa medida mostra mais uma vez seu compromisso com os interesses do grande latifúndio e dos grandes grupos multinacionais. A luta contra a liberação, pela reforma agrária e contra a Alca é uma luta contra o imperialismo e contra o governo Lula.

*Romier Sousa é engenheiro agrônomo e colaborador do Instituto Latino-Americano de Estudos Sócio-econômicos

Post author Romier Souza*,
especial para o Opinião Socialista
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