Em janeiro de 2004, o governo Lula nomeou Nilcéa Freire para a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Quem é Nilcéa e por que foi nomeada? Foi reitora da UERJ entre 1999 e 2003, mas qual sua trajetória nas “políticas” para as mulheres?

Algumas pistas respondem essas perguntas: na UERJ, uma bandeira histórica do movimento estudantil é a creche, à qual, a ex-reitora e atual Secretária Especial, ignorou solenemente. É uma importante reivindicação do movimento para uma política de assistência que garanta a permanência de muitas estudantes na universidade. Nilcéia jamais preocupou-se com isso, nunca promoveu um debate a respeito, não saiu de seu “gabinete” para saber como eram as condições de estudo das alunas, quase em sua maioria, da classe trabalhadora de salários baixos. Também jamais propôs-se a discutir a situação das mulheres trabalhadoras da universidade, suas necessidades, suas dificuldades, jamais discutiu uma política de incentivo, de melhoria das condições de vida. Nenhum projeto propôs. Nada. Às faxineiras terceirizadas da universidade sua “política” era expressa em míseros salários, atrasos de até dois meses no pagamento, além de negar-se a discutir uma ligação entre o Hospital Pedro Ernesto e as mulheres trabalhadoras da universidade para tratamento de saúde. No que diz respeito ao Movimento Feminista, especificamente, sua “política” foi negar um ônibus para trabalhadoras e estudantes da universidade participarem da Marcha Internacional das Mulheres em 2000.

A “política” da ex-reitora e atual Secretária Especial, Nilcéa Freire, permanentemente foi: sempre esteve ao lado do governo estadual que cortou verbas, agrediu trabalhadores e estudantes. Inclusive, sempre é bom lembrar que Nilcéa Freire, quando vice-reitora, chamou a PM para reprimir manifestação dos trabalhadores e estudantes da UERJ, o que lhe valeu o apelido de “Nilcéia Camburão”.

Talvez seja essa trajetória que a tenha levado ao planalto. Afinal, esse governo continua seguindo rigorosamente a cartilha do FMI, segue bancando a Alca e a não realização de um plebiscito nacional sobre a questão. Em decorrência dessa política, promove mais desemprego, aumento exacerbado da miséria e seu tratamento com ações assistencialistas, residuais, fortalecendo a “Pilantropia”. Ao mesmo tempo que não se importa com as condições em que vive a classe trabalhadora, insiste em demonizar o funcionalismo e as universidades públicas, age no sentido de desestruturar as forças políticas e sociais que podem transformar o Brasil, mostra-se completamente avesso ao debate e à participação, age com truculência quando contestado, como o fêz com o funcionalismo no caso da luta contra a ré-forma da previdência. Enfim, é nesse governo – claramente neoliberal – que cabe Nilcéa Freire, pois ele é, em nível nacional, a expressão clara de sua trajetória e de suas “políticas”, que nada dizem respeito aos direitos da maioria das mulheres…. e dos homens também.

* Cleier Marconsin é professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Post author Cleier Marconsin*
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