Depois de praticamente ter perdido o controle do país, a burguesia boliviana conseguiu uma unidade às pressas para continuar governando. De fato, as massas nas ruas foram muito mais além do que se imaginava. Derrubaram três presidentes de uma só vez: Mesa, Vaca Diez e Mario Cossio.

Acuado, o Parlamento fugiu para Sucre, a 400 km de La Paz, para votar a renúncia de Mesa. Mas as massas estavam lá, para impedir que Vaca Diez, representante da burguesia de Santa Cruz e um dos políticos mais odiados do país, assumisse o governo. De bandeja, forçaram também Cossio, o segundo da lista sucessória, a renunciar. Sobrou Eduardo Rodrígez, presidente da Suprema Corte, que assumiu o governo em caráter emergencial, com a condição de chamar eleições para dezembro.
As massas bolivianas impuseram a queda de mais esse governo que entregou o gás e o petróleo do país às multinacionais. Mas a burguesia, com o apoio de Evo Morales, encontrou uma saída, com a posse de Rodriguez e o chamado às eleições.

Crise revolucionária
A burguesia conseguiu contornar a crise revolucionária em que o país mergulhou, quando as massas forçaram a renúncia de Mesa. Nesse período, abriu-se um vazio de poder, que a burguesia, dividida, não conseguia preencher e o exército hesitou em ocupar com um golpe militar, que também poderia acabar por dividir as forças armadas.

O país chegou à beira da guerra civil. Os mineiros, camponeses, indígenas, professores, estudantes e outros setores da população chegaram a controlar a maior parte do país. E radicalizaram suas lutas, passando dos bloqueios das estradas para a ocupação das refinarias petrolíferas, mostrando, assim, o caminho para a nacionalização dos hidrocarbonetos, a grande bandeira da revolução boliviana.
Nesse processo, as massas começaram a recuperar a propriedade dessa riqueza e a decidir seu destino. Assim, colocaram novamente o problema do poder, de forma ainda mais contundente e concreta do que o fizeram em outubro de 2003, quando derrubaram Sánchez de Lozada.

Agora, quem deve governar a Bolívia e com que política? Essas perguntas estavam sendo respondidas não mais nos discursos, mas pelas massas insurretas. Foi quando a burguesia, com o apoio decisivo de Morales, correu para buscar uma saída contra os trabalhadores, camponeses e indígenas bolivianos, escolhendo Rodríguez para conduzir o país.

As perspectivas
A intenção da burguesia e do imperialismo é chamar eleições que lhes permitam desativar a luta revolucionária das massas. Trata-se de mais uma armadilha, como ocorreu em outubro de 2003, com a renúncia de Lozada, algo que ficou claro já nas primeiras declarações de Rodríguez: “Pedirei uma trégua, um espaço de paz que nos permita darmos as mãos; devemos solucionar o problema de milhares de mães que não têm leite para seus filhos, que não têm gás para cozinhar e também os problemas de milhares de cidadãos nas estradas”.

Ele conseguirá? Essa é uma pergunta cuja resposta vai depender dessas milhares de mães e de todo o povo boliviano que não têm leite para dar a seus filhos porque a riqueza do país está sendo expoliada pelas multinacionais.
Mesmo chamando as eleições para dezembro e a promessa de uma Assembléia Constituinte, a burguesia tem um problema insolúvel pela frente: a bandeira da nacionalização dos hidrocarbonetos continua de pé. A burguesia e o imperialismo não estão dispostos a abrir mão das petroleiras. E as massas não estão dispostas a parar de lutar por elas. Não ocorre o mesmo com seus principais dirigentes, tanto da COB, do MAS e da cidade El Alto, dispostos a aceitar a trégua.

Grande assembléia operária e popular
Mas as massas estão empurrando seus dirigentes mais adiante. No dia 6 de junho, em plena mobilização, milhares de trabalhadores, camponeses e estudantes fizeram uma gigantesca Assembléia Operária e Popular, com a presença da COB, dos mineiros, das combativas organizações de El Alto e das federações camponesas. Isso obrigou os dirigentes a propor e aprovar a instalação de uma “grande Assembléia Nacional e Popular e forjar um novo governo do povo que substitua o vazio de poder (…) com a linha de nacionalização dos hidrocarbonetos”. Para os dirigentes, esse chamado é apenas retórico, mas para as massas não é.

O problema-chave continua sendo a necessidade urgente de construir uma direção revolucionária das massas, que esteja disposta a ir até o fim nessa luta. A organização da Assembléia Operário e Popular pode ser uma luz nesse sentido. O primeiro passo é não depositar qualquer confiança no governo Rodríguez e não dar nenhuma trégua na luta. Exigir que os dirigentes da COB e de El Alto não fiquem só nas palavras, mas mantenham a organização das massas e as impulsionem para um poder operário e popular.

Um governo que, como diz o Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST), com a COB à frente, “nacionalize os hidrocarbonetos sem indenização (…), deixe de pagar a dívida externa, entregue a terra aos camponeses, rompa com o FMI e convoque uma Constituinte democrática, que aprove estas medidas”.

Pela nacionalização da Petrobras na Bolívia

Em solidariedade à luta dos trabalhadores e camponeses bolivianos e denunciando o papel nefasto da Petrobras na Bolívia, o PSTU está fazendo uma campanha entre os trabalhadores e sindicatos no Brasil, propondo que aprovem as seguintes moções:

  • Todo apoio à luta dos trabalhadores e camponeses bolivianos.
  • Todo apoio à sua reivindicação de nacionalização do gás (incluindo a expropriação, sem indenização, da Petrobras e todas as multinacionais que atuam na Bolívia).
  • Contra qualquer tentativa de dividir a Bolívia.

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