O PSTU propôs ao PSOL e ao PCB uma frente classista e socialista para as eleições deste ano. Essa chapa tornaria concreta a unidade eleitoral esperada por setores importantes da vanguarda. Qualquer um que veja o peso majoritário do governo entre os trabalhadores entende a importância de uma campanha unificada da oposição de esquerda.

A conferência eleitoral do PSOL pode aproximar ou afastar essa possibilidade da frente. Muitas vezes, as correntes da direção desse partido tratam o PSTU e o PCB com uma atitude imperial, como se fôssemos sublegendas do PSOL. No debate entre seus pré-candidatos se utiliza a possível frente com o PSTU como se fosse um trunfo de uma ou outra candidatura.

Já deixamos claro uma e outra vez que, caso ocorra uma frente eleitoral, ela será com o partido PSOL e não com uma de suas correntes. E que a concretização ou não de uma frente não tem a ver necessariamente com qual candidato a presidente será definido pelo PSOL, e sim com que programa este partido vai defender.

Muitas vezes, a concretização de uma frente eleitoral enfrenta dificuldades que expressam distintas concepções programáticas. Outras vezes, as dificuldades são por sectarismo (muito presente na esquerda argentina, por exemplo), ou ainda por uma postura imperial, de cima para baixo, com os possíveis parceiros. O PSOL teve uma atitude como esta nas eleições passadas, quando impôs as candidaturas a presidente e vice, sem sequer ouvir o PSTU e o PCB.

Nestas eleições, esse partido ameaça repetir essa postura, não só em relação às candidaturas, mas ao programa e outros aspectos. Até este momento, não houve por parte desse partido nenhuma discussão concreta conosco sobre o tema. Caso isso continue, o resultado será a não concretização da frente.

O PSOL deveria observar que na eleição passada tinha um trunfo importante na negociação com o PSTU e o PCB: a candidatura de Heloísa Helena, que acabou tendo cerca de seis milhões de votos. Desta vez, o PSOL aceitou a imposição de Heloísa de abandonar a candidatura à Presidência e concorrer ao Senado.

Assim, a oposição de esquerda perdeu a única candidata com alguma influência nacional de massas, ainda que bem minoritária. E o PSOL se enfraqueceu como um todo.
É sob essas condições que o debate para a composição de uma frente eleitoral da oposição de esquerda deveria se dar. Por um lado, entendendo as dificuldades da situação política pelo peso majoritário do governo Lula. Por outro, como um diálogo entre iguais, e não pela imposição de um partido sobre os outros. Essa já era uma necessidade em 2006. Em 2010, é uma pré-condição.

O programa será socialista ou ‘antineoliberal’?
Os manifestos dos pré-candidatos do PSOL que devem polarizar a conferência – Plínio de Arruda Sampaio e Martiniano Cavalcante – indicam um acordo nos pontos fundamentais.

A candidatura de Babá vem defendendo posições à esquerda, mas tem pouco apoio interno e, pelo que se fala, poderá ser retirada para apoiar a de Plínio.
Os manifestos de Martiniano e Plínio chegam até a auditoria da dívida externa, sem avançar para uma perspectiva real de ruptura com o capitalismo e o imperialismo. Nenhum dos programas fala sequer da estatização do sistema financeiro, nem da reestatização das empresas privatizadas. Tampouco se toca na expropriação das multinacionais ou do agronegócio.

Tanto Martiniano como Plínio falam vagamente em socialismo e “anticapitalismo”, mas, ao concretizar o programa, estacionam no limite do “programa antineoliberal”. Esse é o eixo das posições programáticas da APS e do MES, correntes majoritárias do PSOL, antes unidas e hoje opostas.

Martiniano diz explicitamente que “a correlação de forças não nos permite apresentar propostas gerais de estatização de setores econômicos, sejam da indústria ou dos serviços como educação e saúde.”

Plínio, em entrevista à revista Carta Capital, diz que não vai fazer “campanha programática, ideológica, propagandista, não falaria em socialismo”. Em seu site, já diz outra coisa, completamente diferente, que vai falar sim do socialismo, mas apresentar “soluções concretas” para a situação atual. Mas a definição programática das três tarefas do PSOL na campanha eleitoral é “antineoliberal”.
Um programa claramente socialista é uma das bases para a constituição da frente. Perante a grande crise do capitalismo que agora se retoma na Europa, ou este programa é assumido, ou não haverá frente eleitoral.

A questão da independência de classe
Já vimos no artigo anterior como Lula defende o acordo com a burguesia para governar. O presidente convenceu a maioria dos trabalhadores disso, impondo um claro retrocesso na consciência classista que existia na década de 80. Naquele momento, o PT fazia campanha com a palavra de ordem “trabalhador vota em trabalhador”, ou “vote no três que o resto é burguês”.

Para nós, o classismo é um ponto fundamental do perfil da frente. Mas o PSOL se construiu com outra lógica, e a busca da aliança com Marina Silva (PV) foi somente uma de suas expressões mais grosseiras. Antes houve o financiamento da Gerdau para a campanha de Luciana Genro em 2008, em Porto Alegre, assim como a aliança com o PV na mesma cidade e com o PSB no Amapá.

Mas o PSOL não vai impor uma frente de esquerda onde exista a possibilidade de casos como o da Gerdau. Não se pode aceitar que isso se dê por baixo dos panos, sem que seja discutido. Por isso, ou o PSOL afirma com todas as letras que episódios como este não se repetirão, ou não existirá nenhuma frente.

Da mesma forma em relação aos acordos com os partidos da burguesia. O PSOL defende a manutenção ou não dos acordos com o PV em Porto Alegre e com o PSB no Amapá? Se o PSOL preferir manter esses acordos, não existirá frente eleitoral com o PSTU.

Frente com partidos ou com correntes?
O PSOL precisa abandonar a arrogância com que se relaciona com os outros partidos, e saber se quer realmente uma frente classista e socialista. Isso inclui o que já falamos sobre o programa, mas também outro elemento que é o caráter da frente entre partidos.

Isso significa essencialmente duas questões: a primeira é que o PSOL faça campanha para o PSOL. O grau de divisão interna desse partido ameaça a existência de uma campanha comum de suas correntes a depender de quem vença a conferência. Por exemplo, se ganhar a candidatura Plínio, Heloísa Helena fará campanha para ele? E se não fizer, não será demais propor a outros partidos que defendam a candidatura de Plínio, se nem a presidente do partido o faz?

Em segundo lugar, é preciso respeitar o peso dos partidos. Isso significa que é indiscutível a necessidade de que a candidatura à vice seja parte da concretização da frente. Como a chapa seria entre partidos, não se pode argumentar que o PSOL precise também acumular a candidatura à vice, como em 2006.

A pré-candidatura de José Maria de Almeida está nas ruas. Caso não haja possibilidade de uma frente, o PSTU lançará sua candidatura para manter vivas as bandeiras do classismo e do socialismo nestas eleições.

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