Assad comanda dinastia ditatorial na Síria

A guerra civil aberta na Síria abriu uma intensa polêmica na esquerda sobre que posição adotar no enfrentamento entre a luta popular e o regime dos Assad.

A luta do povo sírio contra a ditadura de Bashar o-Assad já dura mais de um ano. O regime dos Assad é uma espécie de “dinastia”: o atual presidente herdou, há dez anos, o poder de seu pai, Hafez, que havia governado desde 1971.

Bashar iniciou seu governo em 2000, prometendo algumas “reformas democráticas”. Mas, frente ao atual processo de lutas, implementou uma duríssima repressão que, inclusive, utiliza tanques contra civis desarmados ou ataca famílias durante os funerais das vítimas.

Para os revolucionários, é chave definir onde está a revolução e onde está a
contrarrevolução imperialista-burguesa em cada um dos processos do mundo árabe. Errar nessa definição leva a duas políticas opostas, mas simetricamente criminosas. Por um lado, capitular ao imperialismo, como faz um setor da esquerda europeia. Por outro, a política da corrente castro-chavista, que defendeu Kadafi contra as massas e agora defende Bashar al-Assad.

Em declarações públicas, o presidente venezuelano Hugo Chávez chamou o ditador sírio de “irmão” e afirmou que, em condições parecidas, ele “faria o mesmo”.

No caso do ditador líbio, esta corrente recordou o passado antiimperialista de Kadafi, mas “esqueceu” tanto seu atual caráter entreguista quanto sua ação genocida frente à luta popular. Depois da intervenção militar da OTAN, tentaram justificar seu apoio ao ditador dizendo que o centro era lutar “somente” contra esta intervenção e não enfrentar Kadafi ao mesmo tempo.

No caso sírio, também utilizam como argumento o discurso antiimperialista do regime dos Assad e do partido Baath. É verdade que este regime enfrentou no passado, inclusive militarmente, o imperialismo e Israel, e chegou a ser considerado parte do “eixo do mal” por Bush em 2001.

Contudo, o certo é que a Síria, já há alguns anos, faz parte da “ordem” na região: traindo várias vezes a luta dos palestinos e apoiando a estabilidade e o regime burguês no Líbano. O mais importante de tudo, sem dúvida, é que, com isso, mantém de fato uma situação de paz com Israel e com o imperialismo.

Por exemplo, o governo israelense considera que sua fronteira com a Síria é uma das mais “tranquilas”, embora ainda mantenha em seu poder, desde
1967, o território sírio das colinas do Golã.

A política do imperialismo e de Israel
A corrente castro-chavista diz que a situação na Síria é o resultado de uma provocação imperialista e as mobilizações das massas contra Assad seriam, na realidade, uma ação contrarrevolucionária para permitir um golpe ou um ataque imperialista.

Mas isto não tem nada que ver com a política do imperialismo e de Israel que, em um primeiro momento, apoiram o regime atual e sua repressão.

O general aposentado israelense, Effi Eitan, ex-presidente do Partido Nacional Religioso e uma das personalidades mais extremistas da direita israelense, expressou isso com clareza em uma entrevista: “O atual regime sírio é a melhor forma de governo possível para Israel”.

Com o avanço da resistência e o prolongamento da luta, o imperialismo foi obrigado a romper com seu fiel servidor Assad. Mas isso não tem nada que ver com humanitarismo. Tampouco com o fato de Al Assad ser um suposto líder “anti-imperialista” .

O imperialismo optou por derrubar à Al Assad pela simples razão de que este já não pode mais derrotar o processo revolucionário sírio. Uma vitória da revolução na Síria fortaleceria enormemente todo o processo revolucionário na região.

Hoje não há na Síria uma intervenção imperialista como na Líbia. O imperialismo trabalha por uma saída política negociada. Busca forçar uma transição sem Al Assad, mas mantendo o regime na sua essência.

A posição do Hezbollah
Também estão sendo postos à prova os movimentos de resistência dirigidos
por setores islâmicos. Em outro artigo vimos o caso do Hamas na Palestina. No Líbano, o Hezbollah, que ganhou um grande prestígio por haver infligido uma derrota militar e política a Israel em 2006, agora sai em defesa de Assad.

Alega os mesmos motivos que o castro-chavismo: a revolução do povo sírio seria, na realidade, uma “conspiração” de políticos sunitas libaneses apoiados pelo imperialismo. Porque esta posição do Hezbollah? Para nós ela está relacionada com seus compromissos com as burguesias síria, iraniana e libanesa.

O mais grave é que usa a autoridade política obtida na resistência a Israel
para apoiar uma ditadura que já entregou várias vezes a luta palestina e a do próprio povo libanês. E joga confusão na cabeça de milhares de ativistas que observam com esperança as revoluções populares, buscando uma nova referência de luta.

Prova da realidade
A revolução árabe submete todas as posições políticas à dura prova da realidade. A corrente castro-chavista e o Hezbollah não passaram pela prova. A defesa dos ditadores por parte destas correntes é realmente vergonhosa. Ao mesmo tempo, é criminosa no terreno político, porque apoia a sangrenta repressão às mobilizações revolucionárias das massas árabes. Ou seja, colocam-se ao lado da contrarrevolução.

Chamamos os milhares de lutadores, que na região árabe e no resto do
mundo simpatizam com estas correntes, que tirem conclusões destes fatos e procurem uma verdadeira alternativa de direção revolucionária.

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