As imagens das queimadas no Pantanal e na Amazônia tomam novamente o noticiário e mostram a maior onda de queimadas até hoje registrada por sistemas de monitoramento por satélite. Só no Pantanal, calcula-se que o fogo destruiu 10% do território este ano, uma alta anual acumulada de 223% entre janeiro e o dia 9 de setembro, em comparação com o mesmo período de 2019. Em setembro, o Pantanal já registrou mais focos de queimadas em nove dias do que a média histórica total para o mês.

O ano de 2020 certamente ficará na história e vai superar as queimadas na Amazônia do ano passado. Segundo o Instituto Espacial de Pesquisas Espaciais (Inpe), de julho de 2019 a agosto deste ano, houve uma alta de 34% no desmatamento na comparação com o mesmo período do ano anterior. Só em agosto, a região teve 29.307 focos registrados. Nos primeiros nove dias de setembro, a floresta amazônica já teve 12.412 focos de calor detectados pelo Inpe, um número que passa da metade do que foi registrado no mês inteiro do ano passado: 19.925.

O estado que registra o maior número de incêndios é o Pará, seguido pelo Mato Grosso. Nesses estados estão sete municípios com maiores rebanhos de gado do país.

A imagem de um satélite mostrando a fumaça das queimadas na Amazônia e no Pantanal que se estende por mais de 3 mil quilômetros do território do país dá uma noção ampla da tragédia (veja ao lado). Cidades inteiras estão cobertas de fumaça. Há relatos de que a vida dos índios nas aldeias do Parque Indígena do Xingu está irrespirável. As queimadas avançam por todas as fronteiras do parque.

Mesmo com a prova inconteste das imagens de satélite, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, publicaram em rede social um vídeo produzido por ruralista que nega que a Amazônia esteja queimando. Além disso, as imagens mostram um mico-leão-dourado, animal que só é encontrado na Mata Atlântica. O vídeo expôs novamente ao ridículo um governo que mente sobre a Amazônia, incentiva desmatamento, queimadas, grilagem e invasão de terras indígenas.

 

GOVERNO DA DEVASTAÇÃO

Desmonte da fiscalização ambiental

A maior prova disso é o desmonte da estrutura de fiscalização e combate ao desmatamento. No fim de agosto, o ministro Ricardo Salles anunciou a suspensão das atividades de fiscalização, após notícia do bloqueio de cerca de R$ 60 milhões do orçamento da pasta – R$ 20, 9 milhões do Ibama e R$ 39,7 milhões do ICMBio.

Os dois órgãos passam por um profundo desmonte. O Ibama, por exemplo, teve corte de 4% nas verbas, para R$ 1,65 bilhão. Contudo, 31% da verba do instituto (R$ 513 milhões) ainda dependem de crédito extra a ser aprovado pelo Congresso. No ICMBio, o corte foi ainda maior, de 12,8%, e pelo menos 43% da verba atual estão sujeitos ao aval do Congresso.

Tem mais. Segundo o levantamento feito pelo Observatório do Clima, Salles gastou R$ 105.409 nas ações diretas do orçamento entre janeiro e agosto deste ano. O valor corresponde a 0,4% da verbal total que deveria ser destinada para fortalecer a política ambiental.

A devastação e as queimadas batem recordes e também comprovam toda a baboseira da chamada operação Verde Brasil 2, chefiada pelo general Mourão. Há várias denúncias de que integrantes das Forças Armadas avisam desmatadores antes de realizarem as operações de fiscalização. Ou ainda simplesmente dispensam a ajuda dos ficais do Ibama, com mais informações e experiência de combate a esse tipo de crime. No entanto, enquanto os órgãos de fiscalização agonizam sem estrutura, verba e fiscais suficientes para combater o desmatamento, a operação das Forças Armadas na região custa mais de R$ 60 milhões mensais.

 

GRILAGEM

Incêndios servem ao roubo de terras

Onde há fumaça e fogo, há também roubo de terras públicas, violência e desmatamento que expõem todo o banditismo do agronegócio e seu caráter destrutivo. Essa é a realidade por trás dos incêndios que tomam o país, em particular na Amazônia, onde grande parte das terras são públicas e, por isso, são alvos da ação de fazendeiros.

O primeiro passo para se roubar terras públicas e convertê-las em propriedade privada é o desmatamento seguido de incêndio. Depois, planta-se capim, coloca-se cercas e algumas cabeças de gado. Finalmente, vem a grilagem, ou seja, o processo fraudulento que cria documentos falsos de posse da terra, no qual o fazendeiro tem ajuda de funcionários do estado e de cartórios.

No Brasil, a terra é usada como reserva de valor. É um equivalente de capital usado de forma ampla na especulação financeira das bolsas de valores. Depois de grilar a terra, o fazendeiro coloca algumas cabeças de gado, diz de peito estufando que é produtor, e hipoteca a mesma com juros subsidiados.

A atual situação da economia aumentou a corrida por roubo de terras públicas. Com a taxa de juros baixa de 2%, o preço das terras tem um novo boom, o que gerou uma corrida pela grilagem e, por consequência, o aumento de queimadas que assolam o Pantanal e a Amazônia. As nossas florestas estão em chamas para dar lugar à propriedade privada capitalista.