A missão do FMI chegou no Brasil no dia 11 de novembro. No dia 18, Peter Allgeier, vice-representante comercial dos EUA, desembarcou por aqui para – ao lado Guido Mantega, assessor econômico de Lula – participar do Seminário “O Brasil sob nova direção”, promovido pela Câmara Brasileira de Comércio.
Na pauta destes encontros, além da reafirmação do compromisso de “cumprir os contratos” e seriedade com os “fundamentos da economia” de mercado (superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante;), os gringos vieram também discutir a “agenda política e legislativa” do futuro governo. O FMI passou um dia inteiro no ministério da Previdência.
Fernando Henrique declarou em Portugal que os “investidores” estrangeiros não têm o que temer porque Lula “beijou a cruz”: se comprometeu com o FMI e, no essencial, com a continuidade da política econômica de Malan.
A classe trabalhadora, os milhões de desempregados e os pobres têm expectativa de que a vida vai melhorar, esperam o fim do desemprego, melhores salários, fim da pobreza. Enquanto isso os salários estão sendo corroídos pela inflação. Basta somar os aumentos do gás, das tarifas públicas, dos alimentos, dos remédios etc. para se ver que o salário do trabalhador não sofreu um rombo de apenas 10% ou 12 % do seu poder de compra, conforme as estatísticas oficiais, mas que teve uma perda real de mais de 20%!
Na outra ponta, o lema de Delfim Neto “exportar é o que importa” – muito usado na crise da dívida do final dos anos 70 e início dos 80 – ressuscitado agora, significa a manutenção de um cenário de estagnação, senão de recessão econômica, mais uma vez para obter dólares e remunerar os credores externos.
Estima-se em 36 bilhões de dólares o montante que será necessário em 2003 para o país fechar suas contas.
Mas a equipe de Palocci, Dirceu e Mantega vê nas boas relações com o mercado e no “cumprimento dos contratos” a possibilidade de continuar atraindo capitais externos, já que, nas palavras do próprio José Dirceu, entrarão capitais aqui porque os “ativos brasileiros” estão baratos. Ou seja, vêem margem para mais desnacionalização da economia, através da venda de empresas brasileiras e consideram isso positivo.
Se o FMI pode confiar nas promessas do novo Presidente, as esperanças do povo não podem se fiar apenas em retórica social.
É triste assistir mais uma vez os minguados salários se transformarem em vilões: “não se pode indexá-los à inflação” porque daí esta explodirá, bradam a Fiesp, os banqueiros, os “analistas” com o acordo do “núcleo duro” do PT.
Enquanto os de cima vão impondo perdas reais aos trabalhadores, preparam-se ataques violentos contra os debaixo, mais uma vez em benefício do grande capital e do imperialismo.
O “mercado” aplaude o Fome Zero, que não tira dos ricos um tostão, enquanto prepara-se um novo botim: a conclusão das “Reformas Estruturais” de FHC e se aceleram as negociações da ALCA.
Com a palavra o jornalista Celso Pinto, expressando a “felicidade” dos de cima com as “margens“ “de negociação que o PT tem com o FMI: “Até muito recentemente, não havia a expectativa de que um governo PT pudesse colocar na agenda as reformas previdenciária e tributária e a autonomia operacional do Banco Central. O PT não só tem acenado com essas medidas como leva enorme vantagem em relação ao primeiro governo FHC. (…) O PT (…) pretende usar como ponto de partida medidas que já foram discutidas, negociadas e parcialmente tramitadas (…). Suprema ironia, pode ser que o PT, crítico histórico de algumas reformas liberais, as consiga mais e mais rápido do que o liberal-reformista PSDB. (…), a reação do mercado será positiva (…) (Valor Econômico – 14/11/2002). Pois é, felicidade do mercado será tristeza para os trabalhadores.
O povo está farto das “reformas estruturais” do FMI e quer mudança, por isso votou em Lula e espera que o novo governo vá melhorar sua vida. Mas Lula está se comprometendo em concluir as contra-reformas de FHC. Portanto é necessário ir à luta. Pois se os trabalhadores não se desvencilharem desse engano será difícil derrotar o “jogo da direita”, que está sendo jogado pelo PT. É preciso exigir que Lula rompa com a Fiesp, a Febraban e o FMI porque, governando com eles, as “mudanças” serão para pior.
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