As eleições burguesas são um verdadeiro jogo de faz-de-conta. Ricos e poderosos definem as regras, controlam os meios de comunicação e financiam as campanhas da maioria absoluta dos partidos e candidatosA maior prova que o processo eleitoral é um jogo de cartas marcadas são as milionárias campanhas eleitorais financiadas pela burguesia. Em todas as eleições, bilhões são investidos em marqueteiros e superproduções de TV, para tentar iludir o povo com promessas mirabolantes. São valores astronômicos que causam um choque ao serem comparados com o miserável padrão de vida da população brasileira.

O regime existente nos EUA é colocado como modelo para a democracia em todo o mundo. E realmente é um modelo, mas para a burguesia. Lá os custos da campanha dos partidos Democrata e Republicano já ultrapassaram US$ 1 bilhão. Isso acontece porque cerca de 527 milionários empresários americanos interessados em influenciar o resultado da eleição estão encaminhando milhões de dólares para as campanhas de Bush ou de Kerry.

Aqui no Brasil, a atual campanha eleitoral deverá ser a mais cara da história. A projeção dos gastos de campanha do PT, do PFL e do PSDB em nove capitais soma mais de R$ 100 milhões.

A campanha mais cara será a do PT, que declarou, oficialmente, que vai gastar R$ 53,3 milhões nas eleições a prefeito de oito capitais. Este valor é mais do que o dobro gasto na campanha presidencial de Lula, em 2002, declarado a Justiça Eleitoral em R$ 21 milhões.

O PFL, por sua vez, espera gastar R$ 29,63 milhões somente em sete capitais onde disputa as eleições. Já o PSDB estima que o custo de sua campanha em quatro capitais chegará a R$ 24 milhões.

Em São Paulo, os candidatos José Serra (PSDB), Marta Suplicy (PT), Luiza Erundina (PSB/PMDB) prevêem gastar R$ 15 milhões cada um. No Rio de Janeiro a campanha mais cara será de Luiz Paulo Conde (PMDB), orçada em R$ 8,3 milhões. César Maia (PFL) e Jorge Bittar (PT) projetaram o gasto de R$ 7 milhões cada um. Já a candidata do PCdoB, Jandira Feghali, estimou que sua campanha custará cerca de R$ 5 milhões. Isso é apenas o que foi declarado oficialmente à Justiça Eleitoral.

Quem paga

Entre os maiores financiadores das campanhas eleitorais dos grandes partidos estão empresários, empreiteiros e banqueiros. Nas eleições presidenciais de 2002, por exemplo, os maiores financiadores do candidato José Serra, segundo o TRE, foram os bancos Itaú, Bradesco e Unibanco. Já a campanha de Lula teve entre seus financiadores o banco Santander, que doou 1,6 milhão, empresários da siderurgia e a empresa Star One (ligada a Embratel) que doou R$ 750 mil. No total, os banqueiros destinaram à campanha presidencial petista R$ 4,9 milhões.

A candidata a Prefeitura do Rio de Janeiro Jandira Feghali (PCdoB) também não leva muito a sério o principio da independência de classe. Na sua última campanha eleitoral para se eleger deputada federal, Jandira teve como seus maiores financiadores de campanha empresas do setor naval. Seu maior “doador” de campanha, com R$ 40 mil, foi o estaleiro naval Marítima (empresa que construiu a plataforma P-36, que afundou em 2001). Também doaram para sua campanha a Transroll Navegação S/A (R$ 20 mil) e a multinacional Tractebel (R$ 20 mil).

Pagou levou

Certa vez, Paulo Maluf perguntou ao velho economista neoliberal Roberto Campos, se valia a pena investir 100 milhões numa campanha para a Presidência da República. Roberto Campos respondeu que sim, pois nos quatro anos de mandato poderiam significar um ganho que nenhum outro investimento poderia proporcionar.

O conselho de Roberto Campos vale para o conjunto das eleições burguesas. Empresários financiam candidatos de olho nos lucros que os negócios, licitações e empreendimentos públicos podem lhes render no futuro. Não é à toa que as empreiteiras e os bancos são os maiores doadores de campanha em todas as eleições. Um exemplo disso é que o maior doador da campanha eleitoral foi a Odebrecht, mega-empresa do ramo de infra-estrutura.

Em São Paulo, um terço das empresas que contribuíram com a campanha de Marta Suplicy tem hoje contratos com a prefeitura que lhe proporcionam um rendimento de R$ 1,4 bilhão. Um exemplo é a empreiteira Christiani Nielsen que constrói os CEUS (Centro Educacionais Unificados) a principal vitrine da administração municipal. Segundo levantamento realizado pelo jornal Folha de S.Paulo, a empreiteira já colaborou com R$ 619 mil para o caixa do PT desde 2002. Na administração de Marta Suplicy, a empresa manteve contratos com a prefeitura que chegam a R$ 80,4 milhões.

O governo de Geraldo Alckmin (PSDB) também mantém contratos que beneficiam financiadores de suas campanhas eleitorais. O maior doador para o diretório do PSDB, em 2002 foi o banco espanhol Santander, detentor das contas do governo estadual. Sozinho, o conjunto das doações feitas pelo banco representa 10% de todo o dinheiro de campanha declarado por Alckmin à Justiça Eleitoral.

Em resumo, as eleições são um grande negócio tanto para os políticos, quanto para
os empresários. Nesta sórdida história quem acaba saindo sempre perdendo são os trabalhadores pobres.

Buraco negro do “caixa dois”

A legislação atual estipula um limite de 2% do conjunto do faturamento das empresas para doações eleitorais. Aproveitando uma brecha da lei eleitoral, muitos empresários financiam candidaturas por meio dos diretórios partidários, que depois pulverizam os recursos em várias contas de comitês financeiros dos candidatos. Assim, esses doadores não aparecem nas contas dos candidatos entregues à Justiça Eleitoral. Além disso, os empresários ficam livres do limite estipulado para as doações eleitorais, enviando muito mais dinheiro do que é permitido. Estima-se que pelo menos R$ 20,5 milhões foram doados desta forma por empresários ao PSDB e ao PT, nas últimas campanhas eleitorais de 2000 e 2002. Esse tipo de doação “subterrânea” (não declarada à Justiça) permite aos partidos e aos candidatos fazerem o famoso “caixa dois” em suas campanhas eleitorais.

Em meio a este pântano de corrupção, ninguém sabe ao certo quanto é exatamente o valor desviado para o “caixa dois”. Em um estudo recente, o professor de marketing político Gaudêncio Torquato, da Universidade de São Paulo (USP), estimou que, em média, para cada R$ 1 movimentado oficialmente nos comitês de campanha, outros R$ 3 são arrecadados pelo “caixa dois”.

Isso daria um cálculo estimado para as campanhas de Marta e Serra, de R$ 60 milhões cada uma, ou seja, valor equivalente a 230 mil salários mínimos.
Post author Jeferson Choma, da redação
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