No início da temporada deste ano, assistimos a um bombardeio midiático a respeito da volta triunfal de Adriano, o “Imperador”, ao futebol brasileiro. Após oito anos de giro pela Europa, destacando-se principalmente na Internazionale de Milão, onde colecioAdriano viveu o sonho de muitos meninos pobres moradores das favelas. Filho de uma família miserável, não completou os estudos e ajudava sua mãe a vender balas para garantir o sustendo diário. Parte do orçamento familiar se destinava a pagar a passagem de ônibus de Adriano rumo a Gávea, bairro nobre da Zona Sul.

Sobreviveu à rigorosa peneira das divisões de base do Flamengo e tornou-se profissional aos 18 anos. Em seguida, foi convocado pela primeira vez à seleção brasileira. Aos 19 anos, foi vendido ao milionário futebol italiano. Daí em diante, sagrou-se melhor jogador e artilheiro da Copa América (2004) e da Copa das Confederações (2005).

Em 2006, seu pai foi assassinado a tiros na Vila Cruzeiro, na Zona Norte do Rio de Janeiro, engrossando as estatísticas de violência contra as comunidades carentes no estado. Adriano passou a viver uma forte depressão e recorrentes tentativas frustradas de livrar-se do alcoolismo.

Teve uma participação pífia na seleção, recusou-se a continuar na Itália e rompeu o contrato com a Internazionale. Depois de uma semana desaparecido, Adriano reapareceu onde, até hoje, se sente em casa e seguro: na Vila Cruzeiro.

“Perdi a alegria de jogar”
Todos os meios de comunicação massivos consideraram Adriano um louco e irresponsável por ter dado as costas a Internazionale e a um salário mensal de um milhão e cem mil reais. Especulou-se, inclusive, que o jogador estivesse envolvido com o tráfico de drogas. Na verdade, o que aconteceu com Adriano a mídia capitalista não pode explicar, porque foi justamente o sistema que ela reproduz que provocou tanto a ascensão quanto a queda do Imperador.

A depressão sofrida por Adriano é um excelente exemplo de alienação que um ser humano pode sofrer no sentido marxista da palavra. O menino que jogava descalço, sem camisa e, sobretudo, sem compromisso nos campos de terra na favela onde nasceu, viu sua alegria desaparecer com a mesma rapidez em que viu sua carreira decolar.

O prazer da pelada perdeu espaço para os contratos milionários e cobranças de metas e resultados. Os amigos foram substituídos pelos empresários do futebol. Adriano perdeu a alegria de jogar porque o capitalismo transformou seu futebol – como quase todos os produtos oriundos da atividade humana – em uma mercadoria.

O menino não se identificava mais com o seu próprio espetáculo. Seu chute, drible, arrancada e cabeçada perderam sentido e o gol se tornou vazio de significado. Ou seja, a alienação se manifestou quando Adriano começou a estranhar e a não se reconhecer na atividade que ele próprio realizava.

O menino
A volta às suas origens é uma tentativa de o Imperador se encontrar com o menino que luta em manter-se vivo. Ao sagrar-se Imperador, o menino ficou sem objetivo na vida. O fetichismo em torno dos bens materiais que o craque acumulou não mais o seduziam.

Por enquanto, Adriano se sente mais confortável perto da família e da cidade onde nasceu. Mas, na verdade, reiniciará o mesmo ciclo que o adoeceu.

LEIA NO OPINIÃO SOCIALISTA

  • Craques made in Brazil