Lula, um dos culpados pelo acidente aéreo, tenta se desculpar em cadeia nacional
Ricardo Stuckert/ABr

Existem momentos em que os véus caem e a realidade política aparece à luz do dia. Sim, porque a vida real é cuidadosamente escondida dos olhos do povo, disfarçada nas campanhas eleitorais por “marqueteiros” pagos a peso de ouro. Ocultada pela imprensa burguesa, interessada nos negócios com o governo e com os grandes partidos.

Isso se modifica em alguns raros momentos em que a crua realidade aparece com sua face horrível, por alguma combinação de fatores. Algumas cenas da última semana possibilitaram isso, todas elas amplamente divul¬gadas pela TV.

A primeira delas foi a do avião da TAM, o vôo JJ 3054 que não conseguiu aterrissar em Congonhas e explodiu, matando quase duzentas pessoas. O impacto emocional arrasador da tragédia causou de imediato uma crise política no país: a responsabilidade do governo é evidente, depois de dez meses de crise aérea, com os recordes macabros dos dois maiores acidentes da história da aviação no Brasil.

A segunda cena é o discurso em cadeia nacional de rádio e TV de Lula sobre o acidente. Três dias depois, escondido em frenéticas reuniões para tentar aparentar alguma resposta, o presidente anunciou medidas atrasadas, insuficientes e diretamente equivocadas para responder à crise.

Mas isso não é tudo. O tom de Lula é comovido, aparentando emoção pela morte de tantas pessoas. Mas, no mesmo dia, Marco Aurélio Garcia assessor direto do presidente, foi filmado por um jornalista fazendo o gesto de “top-top” e comemorando a divulgação de falhas mecânicas no avião. A comemoração e o deboche de Marco Aurélio mostram que a preocupação do governo não era como enfrentar a situação lamentável aberta com a morte de tantas pessoas e a prevenção de outros desastres, mas centralmente como se livrar do desgaste político pela tragédia.

Toda a preocupação do governo Lula é ver como empurrar com a barriga a apuração da causas do acidente para que o assunto saia do centro do noticiário da mídia (como foi no caso do acidente do Metrô de São Paulo), e eles possam manter a situação exatamente como agora.

Entre a falsa emoção de Lula e o gesto de Marco Aurélio, existe a ligação do mundo real da política brasileira e a farsa do marketing. Esperamos que a indignação que tomou conta do país possa servir para que se tirem conclusões de como o PT se comporta no governo.
A oposição burguesa de PSDB e DEM (antigo PFL) não tem por que se escandalizar com o gesto de Marco Aurélio. Afinal, ela tem exatamente a mesma postura. Por exemplo, durante a crise de 2005, figuras do PSDB e PFL conhecidas como ladrões e corruptos atacavam “indignadas” a corrupção do governo Lula. A hipocrisia é uma espécie de máscara oficial de todos eles.

Os trabalhadores do país devem ficar atentos porque o governo Lula e a oposição de direita vão usar essa mesma hipocrisia, a mesma cara-de-pau para tentar impor a reforma da Previdência. Vão vestir a máscara da “preocupação com a aposentadoria no futuro” para impor um ataque violentíssimo, impedindo na prática o direito dos trabalhadores de se aposentarem. Caso consigam impor essa reforma, vão comemorar, a la Marco Aurélio, fazendo “top-top” para todos nós.

O Congresso que vai votar a proposta de reforma do governo é composto em sua maioria por deputados corruptos, como já se demonstrou inúmeras vezes nesses escândalos.

É hora de preparar junto com a Conlutas, o MST, a Intersindical e a Assembléia Popular o plebiscito de 7 de Setembro. Vamos discutir e ouvir a opinião da base dos sindicatos e associações sobre a reforma da Previdência, a reestatização da Vale do Rio Doce, o pagamento das dívidas interna e externa e o custo das tarifas de energia elétrica. Um plebiscito como este não se faz de uma hora para outra.

É hora de discutir a verdade com os trabalhadores, de tirar a máscara de Lula e da oposição burguesa. É hora de lançar uma grande campanha, que deve ser levada a todos os sindicatos e organizações do movimento popular e estudantil. É hora de assumirmos essa luta com a ambição de derrotar a reforma.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 307
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