Reportagem mostra bastidores das negociações entre P-SOL e PDTTodos os socialistas que queiram construir uma alternativa unitária de esquerda no país devem prestar atenção à mudança na conjuntura ocorrida neste início de 2006. Está ocorrendo uma relativa recuperação do governo, e a canalização da crise política do ano passado para as eleições. Nenhuma destas mudanças é favorável para uma perspectiva revolucionária. Mas uma observação fria e atenta da realidade é condição fundamental para a definição de uma política.

Os motivos da mudança
A mudança na conjuntura tem várias explicações. O acordão entre o governo e oposição para limitar os efeitos da crise política, o crescimento econômico (que permite ao governo o reajuste do salário mínimo, a ampliação do bolsa família etc.), o bloqueio das mobilizações dos trabalhadores e jovens por CUT e UNE.
Como não existem grandes lutas, os trabalhadores não vêem além da democracia burguesa. Por isto, apesar de toda a desconfiança em relação aos “políticos” – mesmo de nariz tapado – vão votar.

E vão votar majoritariamente no PT ou PSDB-PFL. Está se impondo, até agora, uma polarização eleitoral falsa – entre duas alternativas neoliberais e corruptas – entre dois projetos com o mesmo programa. E a candidatura Lula está novamente ganhando espaço com a ideologia do “mal menor”: “para evitar a volta da direita”. As pesquisas indicam, até o presente momento, que a candidatura de Heloísa Helena não ultrapassa 4% ou 6% das intenções de voto, sofrendo, portanto, com esta polarização e a pressão do “voto útil”.

Mudar a conjuntura, só com lutas diretas
Esta realidade objetiva impõe aos socialistas um duplo desafio. Em primeiro lugar, é preciso centrar fogo nas lutas diretas (greves, ocupações, mobilizações de rua) existentes. O terreno das eleições é o terreno da burguesia. As mobilizações diretas são as únicas possibilidades reais de virar a conjuntura a favor dos trabalhadores. Quanto mais lutas diretas vitoriosas, mais crescem as possibilidades de construção de uma alternativa de esquerda.

Pelo mesmo motivo, é preciso avançar na construção de uma alternativa de direção para as mobilizações dos trabalhadores. O Conat (Congresso Nacional dos Trabalhadores), convocado pela Conlutas para formar uma nova entidade, pode ser uma conquista histórica nesse sentido.

Unir a esquerda socialista nas lutas é a primeira resposta a essa realidade, colocando as ações diretas dos trabalhadores e a construção da Conlutas no centro de sua preocupação.

Unir a esquerda também nas eleições
Existem dois campos burgueses polarizando as eleições, um ao redor do governo (que agrupa setores importantes da burguesia bancária, industrial e agrária, além de uma parte do PMDB, e provavelmente PTB e PP), e outro com a oposição burguesa (PSDB, PFL e amplo apoio da grande burguesia).

É preciso criar um terceiro bloco, dos trabalhadores, e para isso nossa proposta é uma Frente Classista, Socialista e de Lutas. Uma frente para unir a esquerda nas lutas e nas eleições, que inclua, além do PSTU, o P-SOL, o MST, a Consulta Popular, o PCB, ao redor de um programa antiimperialista, anticapitalista, contra o governo e a democracia dos ricos, que também se expresse eleitoralmente.

Não se trata de fazer qualquer frente para escapar da polarização. Uma frente com o PDT, por exemplo, poderia ganhar mais votos, mas seria um desastre político. O PDT é um partido que agrupa diversos setores da burguesia (como a latifundiária no Rio Grande do Sul) e pelegos como Paulinho (presidente da Força Sindical). Em muitas das grandes cidades do país, o PDT está coligado com o PSDB e PFL, como é o caso de São Paulo na administração Serra.

Ao se estabelecer uma frente com setores da burguesia, como o PDT, inevitavelmente o programa é rebaixado para ser aceitável aos patrões, e se termina governando para a burguesia. Por isso, é necessário precisar o necessário sentido classista da frente, para que agrupe somente organizações dos trabalhadores e jovens, sem representantes da burguesia. A independência política dos trabalhadores é uma bandeira fundamental dos socialistas revolucionários, muito esquecida nos tempos atuais. A aliança com partidos burgueses foi um dos primeiro sinais claros da perdição do PT.

A candidatura de Heloísa Helena poderia servir ao objetivo de apontar para uma frente de esquerda, classista e socialista. Viemos fazendo esta proposta há mais de um ano à direção do P-SOL. Eles se comprometeram com uma reunião, que até agora não ocorreu. No entanto, eles se reúnem com a direção do PDT, como a noticiada no Correio Brasiliense (ao lado). Não estamos dizendo que o P-SOL vá fazer um acordo com o PDT, como informa a imprensa. É possível que não o faça, porque haveria muitas resistências no partido. Mas as negociações existem, e são públicas.
Um acordo com o PDT inviabilizaria uma real frente de esquerda e retomaria a trajetória de desastres do PT. Outra hipótese negativa seria o P-SOL assumir uma postura autoproclamatória e não encaminhar uma frente classista, levando a uma fragmentação da esquerda, facilitando dessa forma a polarização PT x PSDB.
Mais uma vez, o P-SOL está com a palavra.


‘P-SOL e PDT querem Cristovam no Buriti’

Trecho da reportagem de Alon Feuerwerker, publicada no Correio Brasiliense de 9/2/2006

“O PDT e o P-SOL estão perto de fechar um acordo para apresentar candidato único à Presidência da República. O mais provável é que a aliança se dê em torno da senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL). Outro movimento possível é a unidade dos dois partidos para lançar o senador Cristovam Buarque ao Governo do Distrito Federal (GDF). A aproximação entre as duas legendas é feita às claras. A reunião de ontem que discutiu o assunto aconteceu no cafezinho do Senado. “Não temos nada a esconder”, diz o deputado federal João Fontes (PDT-SE).

Além da própria Heloísa, de Buarque e Fontes, participaram da conversa no Senado o presidente do PDT, Carlos Lupi, o outro pré-candidato do PDT ao Planalto, senador Jefferson Peres (AM), e o deputado e ex-ministro Miro Teixeira (PDT-RJ). Na saída, foram unânimes em dizer que, antes dos nomes, irão discutir um programa de governo. “Nosso objetivo é construir uma alternativa à falsa polarização entre o PT e o PSDB”, disse Lupi. “Temos de lutar para evitar um novo estelionato eleitoral”, reforçou Miro.(…)”

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