Existem dois carnavais muito diferentes no Brasil. Um deles é o oficial, das escolas com desfiles riquíssimos e sambas cada vez mais pobres. O outro é o dos blocos de ruas, sem fantasias caras, mas irreverente e espontâneo. Quem ouvir os samba enredos dos desfiles oficiais não vai entender nada do que se passa no país, pela exaltação generalizada de qualquer coisa.

Existem dois Brasis muito diferentes. O governo e o congresso vivem em um mundo à parte, muito ligado aos salões da grande burguesia. Os trabalhadores nas fábricas, escolas, nos bairros pobres vivem outra realidade, sem perspectivas e superexplorados.

O governo Lula convidou o presidente Bush para visitar o Brasil no próximo dia 9 de março. Mais ainda, Lula chama Bush de “meu amigo”. Entre os trabalhadores e estudantes do país, Bush não encontraria amigos. Ele não se arriscaria a freqüentar qualquer ambiente popular sem um enorme aparato de segurança. Aliás, em todos os países que visita, Bush tem enfrentado manifestações contrárias de peso.

Lula e Bush têm todos os motivos para celebrar sua amizade. Inegavelmente, Bush tem uma enorme dívida com Lula, por tudo o que o governo brasileiro tem feito a serviço dos EUA. Mantém o plano econômico a serviço das grandes multinacionais e dos bancos. Continua a pagar as dívidas externa e interna pontualmente. E o governo acaba de inaugurar o Fórum da Previdência, para discutir os projetos de reforma.

O governo Lula mantém soldados no Haiti, para garantir uma ocupação militar sob as ordens de Bush. As tropas da ONU, dirigidas por um general brasileiro, ocuparam a maior favela do país com a desculpa de perseguir bandidos para reprimir um grupo político, ligado ao ex-presidente Aristides. Agora, a situação escapou ao controle, com uma manifestação de cerca de cem mil pessoas contrárias à presença das tropas da ONU no país.

Os métodos desta ocupação foram brutais. Está correndo a informação que as forças de repressão estão aprendendo no Haiti técnicas de invasão que serão usados no Brasil, para os morros cariocas.

É o Brasil da burguesia, do governo e congresso que está convidando Bush. Os trabalhadores deste país não darão as boas vindas ao presidente dos EUA. A Conlutas , em sua última reunião nacional , no fim de semana passada, incorporou um protesto contra a visita de Bush em seu calendário. É muito importante que todas as entidades do movimento sindical e popular se integrem a esta mobilização contra Bush, e contra as tropas brasileiras no Haiti.
Post author Editorial do Opinião Socialista nº 288
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