crise que abala o capitalismo vai mudar o mundo que conhecemos hojeMesmo os analistas burgueses reconhecem que estamos diante de uma crise comparável à de 1929. Os últimos dados apontam para um largo período de declínio e possíveis quedas bruscas e quebras generalizadas em setores estratégicos da economia. Mas quais são as reais dimensões dessa crise? E os seus desdobramentos para a luta de classes? Estaria a hegemonia dos EUA em decadência?

As causas da crise
Existe uma contradição própria do capitalismo que explica as crises cíclicas. É o que Karl Marx chamou de lei da tendência decrescente da taxa de lucros. Essa lei opera sempre. As crises cíclicas estão associadas à queda da taxa de lucros do capital.

Quando uma crise cíclica surge, o que se vê é um excesso de mercadorias e de capacidade de produção. Então, o capital deixa de investir e vem uma recessão. Para voltar a crescer, é necessário recuperar a taxa de lucros e isso se faz com as medidas que contrabalançam essa tendência. Marx se refere a algumas: expansão dos mercados, concentração de capitais, novas técnicas, aumento da mais-valia absoluta (através da superexploração do proletariado existente e da incorporação de novas massas de trabalhadores, proletarização de novos setores, como na China, na Índia, etc.).

A saída do capitalista para a crise passa também pela destruição de forças produtivas, com queima de capitais, fechamento de empresas e de plantas e consequente centralização de capitais (também pode haver destruição de forças produtivas pela ação de uma guerra). Só a partir daí o capital vai ter interesse de investir novamente na produção.
 
O Imperialismo e o capital financeiro
Em “Imperialismo, fase superior do capitalismo”, Lenin demonstrou que havia capitais excedentes nos centros imperialistas. Isso levava a uma busca permanente pela ampliação da massa de mais-valia acumulada, promovendo a exportação de capitais que extraíssem novas quantidades de mais-valia nos países atrasados e, com isso, internacionalizando o capital financeiro.

Para ele, essa era a fase monopolista do capitalismo. Até meados do século 20, cada país tinha em geral seu próprio parque industrial e era centrado em determinados setores ou ramos produtivos. Hoje, existe uma acumulação mundializada, em que os capitais imperialistas levam até o fim a previsão de Lenin sobre a exportação de capitais e a incorporação dos mercados de todo o mundo.

Nessa fase imperialista, o capital fictício, que já existia em escala local e setorial, passou a ser um fenômeno permanente e internacional. É necessário extrair somas cada vez maiores de mais-valia para garantir os lucros em relação a uma massa de capitais cada vez maior, sem que muitos deles estejam investidos na produção.
 
O Estado a serviço do capital financeiro
Nas últimas décadas, houve um aprofundamento de todas essas características: o capital financeiro comanda a economia e a gestão do Estado burguês.

A política do neoliberalismo foi cortar ao máximo as despesas sociais e os investimentos estatais na produção para colocar o aparelho do Estado diretamente a serviço do capital financeiro. As imensas somas canalizadas para o pagamento das dívidas públicas, as políticas dos bancos centrais a serviço do capital financeiro, como as taxas de juros a serviço da acumulação dos bancos e, mais recentemente, a política dos déficits fiscais e comerciais para sustentar a expansão do capital financeiro dos EUA (com seus sócios europeus) em todo o mundo. As privatizações foram outra medida para servir o capital monopolista.

Todo esse conjunto de políticas acelerou a acumulação de capital e a multiplicação do capital fictício. Nos últimos anos, os governos e os bancos centrais dos EUA e da Europa foram ativos financiadores do capital especulativo e os protegeram, sendo seus seguradores em última instância. O colapso atual do sistema financeiro norte-americano, com a quebra de praticamente todos os bancos de investimentos e a virtual falência de quase todos os grandes bancos, fez com que o crédito privado simplesmente não funcione a não ser quando os governos emprestam e mesmo este último recurso ainda não resolve os problemas.

A queda da taxa de lucros que deu origem à atual crise ocorre quando todo o sistema financeiro está comprometido e os Estados imperialistas, em especial os EUA, já comprometeram seus recursos. Junto a isso, há uma grave queda dos investimentos na produção. Por outro lado, a crise engloba todos os continentes em escalas gigantescas de declínio. Dos EUA à Europa e à América Latina, a recessão se aprofunda.
 
Há uma crise da hegemonia imperialista ianque?
O plano estratégico do imperialismo, então sob as rédeas de Bush, era utilizar o domínio econômico, e o militar em especial, para impor uma ordem estável com o total controle das riquezas energéticas à custa do saque e do aumento do bonapartismo, inclusive dentro dos EUA. Esse objetivo, porém, foi perdendo terreno e colecionou derrotas que abriram uma crise política profunda no imperialismo.

Apesar de partir de uma superioridade militar esmagadora, os EUA tiveram que engolir o fracasso no Iraque, a crise cada vez maior no Afeganistão e, recentemente, a derrota da Geórgia para a Rússia. Também foram parte dessas derrotas o fracasso do golpe na Venezuela, a derrota de vários governos neoliberais e a existência simultânea de uma série de governos populistas que têm atritos com Washington.

A combinação da eclosão de uma profunda crise no coração do Império com a crise política do imperialismo levou a uma crise de dominação, ou seja, uma crise da ordem mundial. A derrota de Bush e seu projeto bonapartista e a eleição de Obama refletem essa crise. Obama, por um lado, vem
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